- Você acha que ela vai concordar com uma reforma total no colégio? - Pergunto a minha melhor amiga quando, após eu sugerir uma reforma ao invés de somente colocar uma divisória, teve a brilhante ideia de reformar o colégio inteiro.
- Ela mesmo que disse era muita lembrança ruim, que tava tudo muito igual. - Mariana tenta me convencer.
- Ok, que ela concorde, não sei se aguento trabalhar com ela.- Digo honestamente, não queria admitir assim, mas ser vizinha dela já tem se provado ser um desafio maior do que imaginei. Achei que tinha conseguido superá-la mas na verdade apenas escondi o sentimento tão fundo e tão bem que achei que tinha sumido, mas a cada dia que passa, cada momento que a vejo, ele volta mais forte, é como se ela fosse um imã, dos fortes que não consigo lutar contra a força que me atrai.
- Olha Gi, se você realmente não quiser, vou entender e não vou forçar, mas eu AMO o seu design de interiores. - Ela diz sabendo que nunca digo não a ela. Pensei que fosse conseguir ficar sem contato com Marcela mas o Universo parece ter outros planos, vou ter que aprender na marra a conviver com ela.
- Ela fez menção a ir junto escolher as coisas, mas falei que não - Levanto uma sobrancelha, enquanto procuramos um lugar pra sentar depois de olhar algumas lojas atrás de ideias. - E fiz ela prometer que não chegará perto de você.
- Oi? Explica - Falo rápido tentando entender tal promessa
- É ué, isso aí, falei pra ela nem sonhar em chegar perto de você ou falar com você - Ela continua falando como se não fosse nada demais e eu ainda tento processar a informação - Acredita que ela ainda teve a ousadia de falar que não iria chegar perto de você mas que se você chegasse nela, ela não faria nada?! - Ela faz uma cara de absurdo. - Como se você fosse querer ficar perto dela, minha irmã é louca. - Ela continua a falar e eu já não presto mais atenção
- Você o que? Ela respondeu o que?
- O que que você não entendeu? - Ela me olha confusa
- A parte que você decide quem fala comigo ou não - Digo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Eu estou de protegendo
- Sei cuidar de mim Mariana, obrigada - Ela faz cara de ofendida
- Quanto se trata de Marcela você não sabe não. Disso aí eu tomo conta por que depois sobra mim - Reviro meus olhos lembrando das muitas noites que passei chorando ao seu lado
- Te amo Mariana mas sério, sou adulta, consigo me virar.
- Você acabou de dizer que não sabia se conseguiria trabalhar com ela - touchè, abro a boca pra tentar argumentar mas demoro um pouco pra pensar em algo
- Mesmo assim, acho que tenho direito de escolher essas coisas - tento formar um argumento - E você não é obrigada a tomar conta de mim quando algo ruim acontece
- Como melhor amiga tenho sim, Gi qual é, sério isso? Você quer falar com ela? quer se aproximar dela? - Ela me olha não acreditando que seja isso que quero mas não sei mais o que quero, já passei por todos os tipo de sentimentos em relação a Marcela, amor, ódio, raiva, frustração, carinho, saudade, são tantos que não sei qual prevaleceu, tenho vivido esses anos como se ela não existisse, não esperava que voltasse mas não agia como se tivesse morrido.
- Nao sei Mariana, só gostaria de ter a escolha
- Olha só, eu te apoio no que você quiser - Ela diz séria - Se quer ser amiga dela, se aproxima, mesmo sendo contra vou estar la, se não quiser ver a cara dela nem pintada de ouro, serei a primeira a tir ela da sua vista, mas preciso saber o que fazer amiga. - Ela respira e continua - Por um lado odeio o fato dela falar com você, por outro, acho que talvez, apenas talvez, você precise de um encerramento pra essa história, fico tudo muito em aberto com ela partindo.
- Eu não sei, sinceramente não sei. Nao sei como me sinto, não sei o quero, EU NÃO SEI - Digo mais alto perdendo a paciência comigo mesmo.
- Tudo bem, se acalme mas, tenta pensar sobre isso, por que ela vai trabalhar comigo e morar ao seu lado então... - Ela me olha com olhar meio de pena, e proponho que mudemos de assunto.
(...)
Depois de muito andar e conversar com Mariana, chego no meu prédio e agora da Marcela também. Olho pra cima e vejo a janela do apartamento dela com a luz acesa, percebo que ela está perto da janela pela sombra, quando ia virar a cabeça vejo uma outra sombra, mais alta que ela e minha curiosidade me faz ficar parada como uma idiota olhando pra cima tentando descobrir quem era.
Logo vejo Marcela sair para varanda, e fico atrás de uma das árvores que temos na entrada camuflada, nem por um segundo penso o quão idiota estou sendo. Esqueço mais ainda ao ver que a outra sobra pertence ao vizinho, Lucas do andar de cima, o maior pegador do prédio como a Mariana dizia, até por que até ela já saiu com ele. Tava na cara que ele queria sair com a Marcela, naquele instante percebo que estou com ciúmes de uma mulher que me largou 10 anos atrás e estou escondida atrás de uma arvore espiando, não tem como ficar mais patético
Cheguei aqui pensando na possibilidade de conversar com ela sobre o que aconteceu antes, realmente o que a Mariana falou tem sentido, nunca entendi aquela decisão da Marcela, talvez ouvir uma explicação fora de calor de uma briga e desespero como foi, me fizesse soltar desse fantasma.
Continuo observando a varanda, e vejo o Lucas se aproximando de Marcela, sei o que pretende fazer e sinto meu punho se fechar, jesus como essa garota consegue me fazer sentir assim mesmo depois de ter me machucado e tantos anos sem nos falar. O vejo cada vez mais perto e me pego torcendo para que ela o afaste, mas pq o faria, até onde sei eles estão solteiros, podem fazer o que quiser, mas não vou ficar pra ver, assim que ele dá mais um passo em direção a ela, saio de onde estou e vou pro elevador, me odiando por ser tão facilmente atingida por ela.
Chego no meu apartamento e vou logo jogando minha bolsa no aparador e correndo pro banheiro ver se uma água fria coloca sanidade na minha cabeça, mas a única coisa que acontece é flashes e mais flashes que me obriguei por tantos anos a esquecer.
Me lembro no nosso primeiro beijo, e de quando começamos a namorar, da nossa viagem, a primeira vez, ótimos meses juntos e chego na briga final já com lagrima e misturando com a água que cai do chuveiro. Choro por diversos motivos, por que me privei desses sentimentos por muito tempo, por que nunca me recuperei desse término e vejo isso agora pois vê-la com Lucas na varanda doeu mais do quero admitir, choro por que me sinto impotente sem forças perto dela, por que sei que nunca mais fui a mesma, choro por que tenho saudade da melhor época da minha vida.
Saio do banho e coloco uma camisola, vou até a cozinha e pego uma garrafa de vinho que minha mãe me deu ano passado, não sou muito fã de vinho mas no momento me parece a melhor coisa, já que os meninos acabaram com a cerveja na última vez que vieram aqui e eu não comprei mais.
Ligo a TV achando que irei prestar atenção, alguns minutos se passam e ouço a porta ao lado da minha abrir de uma maneira um tanto violenta, me seguro para não correr até a minha porta para tentar ouvir, então fico no sofá ouvindo vozes mas sem entender, acho que ouvi um desculpa mas não tenho certeza, bebo o vinho mais rápido, encho novamente a taça, e já sinto um leve efeito do álcool, sei que no meu estado não seria o mais indicado mas precisava me sentir mais leve, minha intenção não era beber demais, definitivamente não era acabar com a garrafa enquanto procurava no meu laptop fotos antigas. Com toda certeza do mundo não era sair do meu apartamento e bater no 302.
NOTAS FINAISE aí tão gostando?
Até quinta-feira
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Reconstruindo o AMOR
Fiksi PenggemarMarcela Mc Gowan, dona de uma das mais badaladas galerias de Nova York, se vê pela primeira vez em anos perdida. Ao receber uma ligação de sua mãe avisando que seu pai faleceu, a artista se vê obrigada a voltar ao Brasil não só pelo enterro mas pela...