Capítulo 10 - Vinho

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- Você acha que ela vai concordar com uma reforma total no colégio? - Pergunto a minha melhor amiga quando, após eu sugerir uma reforma ao invés de somente colocar uma divisória, teve a brilhante ideia de reformar o colégio inteiro.

- Ela mesmo que disse era muita lembrança ruim, que tava tudo muito igual. - Mariana tenta me convencer.

- Ok, que ela concorde, não sei se aguento trabalhar com ela.- Digo honestamente, não queria admitir assim, mas ser vizinha dela já tem se provado ser um desafio maior do que imaginei. Achei que tinha conseguido superá-la mas na verdade apenas escondi o sentimento tão fundo e tão bem que achei que tinha sumido, mas a cada dia que passa, cada momento que a vejo, ele volta mais forte, é como se ela fosse um imã, dos fortes que não consigo lutar contra a força que me atrai.

- Olha Gi, se você realmente não quiser, vou entender e não vou forçar, mas eu AMO o seu design de interiores. - Ela diz sabendo que nunca digo não a ela. Pensei que fosse conseguir ficar sem contato com Marcela mas o Universo parece ter outros planos, vou ter que aprender na marra a conviver com ela.

- Ela fez menção a ir junto escolher as coisas, mas falei que não - Levanto uma sobrancelha, enquanto procuramos um lugar pra sentar depois de olhar algumas lojas atrás de ideias. - E fiz ela prometer que não chegará perto de você.

- Oi? Explica - Falo rápido tentando entender tal promessa

- É ué, isso aí, falei pra ela nem sonhar em chegar perto de você ou falar com você - Ela continua falando como se não fosse nada demais e eu ainda tento processar a informação - Acredita que ela ainda teve a ousadia de falar que não iria chegar perto de você mas que se você chegasse nela, ela não faria nada?! - Ela faz uma cara de absurdo. - Como se você fosse querer ficar perto dela, minha irmã é louca. - Ela continua a falar e eu já não presto mais atenção 

- Você o que? Ela respondeu o que? 

- O que que você não entendeu? - Ela me olha confusa

- A parte que você decide quem fala comigo ou não - Digo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Eu estou de protegendo

- Sei cuidar de mim Mariana, obrigada - Ela faz cara de ofendida

- Quanto se trata de Marcela você não sabe não. Disso aí eu tomo conta por que depois sobra mim - Reviro meus olhos lembrando das muitas noites que passei chorando ao seu lado

- Te amo Mariana mas sério, sou adulta, consigo me virar.

- Você acabou de dizer que não sabia se conseguiria trabalhar com ela - touchè, abro a boca pra tentar argumentar mas demoro um pouco pra pensar em algo

- Mesmo assim, acho que tenho direito de escolher essas coisas -  tento formar um argumento - E você não é obrigada a tomar conta de mim quando algo ruim acontece

- Como melhor amiga tenho sim, Gi qual é, sério isso? Você quer falar com ela? quer se aproximar dela? - Ela me olha não acreditando que seja isso que quero mas não sei mais o que quero, já passei por todos os tipo de sentimentos em relação a Marcela, amor, ódio, raiva, frustração, carinho, saudade, são tantos que não sei qual prevaleceu, tenho vivido esses anos como se ela não existisse, não esperava que voltasse mas não agia como se tivesse morrido.

- Nao sei Mariana, só gostaria de ter a escolha

- Olha só, eu te apoio no que você quiser - Ela diz séria - Se quer ser amiga dela, se aproxima, mesmo sendo contra vou estar la, se não quiser ver a cara dela nem pintada de ouro, serei a primeira a tir ela da sua vista, mas preciso saber o que fazer amiga. - Ela respira e continua - Por um lado odeio o fato dela falar com você, por outro, acho que talvez, apenas talvez, você precise de um encerramento pra essa história, fico tudo muito em aberto com ela partindo. 

- Eu não sei, sinceramente não sei. Nao sei como me sinto, não sei o quero, EU NÃO SEI - Digo mais alto perdendo a paciência comigo mesmo.

- Tudo bem, se acalme mas, tenta pensar sobre isso, por que ela vai trabalhar comigo e morar ao seu lado então... - Ela me olha com olhar meio de pena, e proponho que mudemos de assunto.

(...)

Depois de muito andar e conversar com Mariana, chego no meu prédio e agora da Marcela também. Olho pra cima e vejo a janela do apartamento dela com a luz acesa, percebo que ela está perto da janela pela sombra, quando ia virar a cabeça vejo uma outra sombra, mais alta que ela e minha curiosidade me faz ficar parada como uma idiota olhando pra cima tentando descobrir quem era.

Logo vejo Marcela sair para varanda, e fico atrás de uma das árvores que temos na entrada camuflada, nem por um segundo penso o quão idiota estou sendo. Esqueço mais ainda ao ver que a outra sobra pertence ao vizinho, Lucas do andar de cima, o maior pegador do prédio como a Mariana dizia, até por que até ela já saiu com ele. Tava na cara que ele queria sair com a Marcela, naquele instante percebo que estou com ciúmes de uma mulher que me largou 10 anos atrás e estou escondida atrás de uma arvore espiando, não tem como ficar mais patético

Cheguei aqui pensando na possibilidade de conversar com ela sobre o que aconteceu antes, realmente o que a Mariana falou tem sentido, nunca entendi aquela decisão da Marcela, talvez ouvir uma explicação fora de calor de uma briga e desespero como foi, me fizesse soltar desse fantasma. 

Continuo observando a varanda, e vejo o Lucas se aproximando de Marcela, sei o que pretende fazer e sinto meu punho se fechar, jesus como essa garota consegue me fazer sentir assim mesmo depois de ter me machucado e tantos anos sem nos falar. O vejo cada vez mais perto e me pego torcendo para que ela o afaste, mas pq o faria, até onde sei eles estão solteiros, podem fazer o que quiser, mas não vou ficar pra ver, assim que ele dá mais um passo em direção a ela, saio de onde estou e vou pro elevador, me odiando por ser tão facilmente atingida por ela.

Chego no meu apartamento e vou logo jogando minha bolsa no aparador e correndo pro banheiro ver se uma água fria coloca sanidade na minha cabeça, mas a única coisa que acontece é flashes e mais flashes que me obriguei por tantos anos a esquecer.

Me lembro no nosso primeiro beijo, e de quando começamos a namorar, da nossa viagem, a primeira vez, ótimos meses juntos e chego na briga final já com lagrima e misturando com a água que cai do chuveiro. Choro por diversos motivos, por que me privei desses sentimentos por muito tempo, por que nunca me recuperei desse término e vejo isso agora pois vê-la com Lucas na varanda doeu mais do quero admitir, choro por que me sinto impotente sem forças perto dela, por que sei que nunca mais fui a mesma, choro por que tenho saudade da melhor época da minha vida.

Saio do banho e coloco uma camisola, vou até a cozinha e pego uma garrafa de vinho que minha mãe me deu ano passado, não sou muito fã de vinho mas no momento me parece a melhor coisa, já que os meninos acabaram com a cerveja na última vez que vieram aqui e eu não comprei mais.

Ligo a TV achando que irei prestar atenção, alguns minutos se passam e ouço a porta ao lado da minha abrir de uma maneira um tanto violenta, me seguro para não correr até a minha porta para tentar ouvir, então fico no sofá ouvindo vozes mas sem entender, acho que ouvi um desculpa mas não tenho certeza, bebo o vinho mais rápido, encho novamente a taça, e já sinto um leve efeito do álcool, sei que no meu estado não seria o mais indicado mas precisava me sentir mais leve, minha intenção não era beber demais, definitivamente não era acabar com a garrafa enquanto procurava no meu laptop fotos antigas. Com toda certeza do mundo não era sair do meu apartamento e bater no 302.

 
NOTAS FINAIS

E aí tão gostando?

Até quinta-feira

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