A mesa do restaurante havia sido levada junto no processo de soco-queda, e milhares de cacos de vidro se espalhavam pelo chão.
— Seu desgraçado filho da puta! — Uma voz familiar berrou e eu reconheci aquele na hora.
Tomada pela fúria, me joguei nas costas do grandalhão que o atacou e comecei a morder tudo que encontrava pela frente. Suas costas ficariam com as marcas dos meus dentes por um longo tempo.
O restante do pessoal do restaurante tentava nos separar, chocados, e vi alguns garçons desesperados tentando acalmar o restante dos clientes.
— Seu cachorro, miserável, infeliz! Eu te odeio! — Eu berrei, com ódio me cegando.
— Sua maluca! Me larga! ME SOLTA! — Payton tentava de todas as formas possíveis se livrar de mim, mas sem sucesso.
— Não consegue me deixar em paz, seu cafajeste! ME DEIXA EM PAZ!
Sem um pingo de sensibilidade, Payton deu um jeito de me jogar no chão, em cima dos cacos de vidro. Richard, ao ver a cena, correu em minha direção.
— Que merda! — Gritei, com ainda mais raiva do meu querido irmão postiço.
— Isa, você está bem? — Richard perguntou, dando uma olhada na minha perna sangrando.
A boca dele estava sangrando e começando a inchar, mas, ainda assim, ele parecia muito mais preocupado comigo. Foi fofo de uma forma muito bizarra.
— Isabela? — Payton berrou, os olhos arregalados para a cena que se desenrolava em sua frente.
— Não, imbecil. Mary Poppins, sua nova babá. Prazer! — Respondi, raivosa.
— O que você está fazendo nesse restaurante sozinha?
Revirei os olhos, as mãos se apertando em punho enquanto eu consumia toda aquela raiva. Nunca senti tanto impulso para acertar a cara de alguém como eu sentia agora.
— E quem disse que eu estou por aqui sozinha? Não que isso seja da sua conta! Você por acaso é cego?
Ele passou as mãos pelo rosto, desesperado, depois abriu um sorriso que ia de incrédulo, maligno e irônico ao mesmo tempo.
— Você só pode estar testando a minha paciência! — Ele revidou, aparentemente muito nervoso. — Vamos, eu te levo pra casa.
Payton me puxou pelo braço rapidamente, e eu deixei escapar um grito desesperada. Meus braços também estavam todos cortados, e o sangue passou a escorrer muito mais depois do seu aperto.
— Você é mesmo um imbecil! - Richard gritou, nos separando. — Perdeu o juízo?
Os olhos de Payton flamejaram de raiva e ele fazia questão de depositar todo seu ódio no meu encontro.
— Quem perdeu o juízo foi você dando as caras pela cidade de novo!
— Eu nunca deixei a cidade, cara. — Richard retrucou, firme.
Eles agindo como se conhecessem!
— Espera um segundo! — Me posicionei no meio dos dois, ainda segurando meu braço ensanguentado. — Vocês se conhecem?
— Você o conhece? — Payton retrucou.
— Ele é meu match, seu tonto! Meu encontro!
Ele arregalou os olhos, parecendo desorientado por alguns segundos. Payton me encarou, depois encarou Richard, e assim ficamos por longos minutos.
— Isso foi um match?! É só isso que você tem pra me dizer?! Sabe de uma coisa, Isabela? Você é doente! Uma completa doente que pensa que somos fetiches prontos para satisfazer os seus caprichos. Mas quer saber de uma nova? Eu cansei de ficar correndo atrás de você como um cachorrinho! Quero mais é que você se foda!
— Você perdeu a noção, Payton? Do que você está falando?
Ele abriu um sorriso tão irônico que foi como se me acertasse em cheio com um soco.
— Vai me dizer que não sabe que Richard é meu primo? — Ele nos encarava enojado. — Qual foi, Isabela? Depois de ter brincando comigo e com meu irmão durante a viagem se cansou? Quis procurar outro membro da família? Sinto em informar que pegou justo o da pior espécie.
— Da pior espécie, eu? — Richard abriu um sorriso ainda mais cruel. Que família fui me envolver... — A pior espécie da família está aqui na minha frente. Quanto tempo hein, Payton?! Devo confessar que não esperava recepção menos calorosa vindo de você, primo.
Primos. PRIMOS! Ah, sim, eles tinham que ser primos. E ter um passado merda ainda por cima.
Medidas extremas pedem situações ainda mais extremas.
Com muita calma, consegui pegar meu celular no meio daquela confusão enquanto as duas crianças continuavam se apontando e se acusando.
Mandei uma mensagem simples, breve, mas que eu sabia que seria bem eficaz. Nunca pensei que precisaria usar esse número, mas ao ver "Robert Padrasto" no remetente soube que estava no caminho certo.
Afinal, quando dois primos brigam, você tem que chamar os pais. Certo?
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Os Gêmeos
FanficAssim que a mãe de Isabela se casou novamente ela nunca mais teve descanso. Viver com gêmeos é um saco, principalmente quando os três se odeiam. Início: 25/10/2020 Término: 25/04/2021 • Não aceito adaptações da minha obra.