Anatomia do Amor

Mudança

No relógio já marcavam quase 23:00hrs quando Santana, finalmente terminou de arrumar todas as suas coisas pelo pequeno apartamento no qual ocupou pela manhã. Estava com o coração apertado apesar de todo o cansaço, dera um passo grande se libertando por assim dizer de toda a sua família e indo morar em uma cidade na qual não conhecia ninguém, só o mercado mais próximo e a faculdade que iria começar no dia seguinte.
Para Santana, essa foi a decisão mais dolorosa e mais precisa que arriscou fazer, sua família a tratava de forma tão tóxica após assumir sua sexualidade que ela já não se via naquele ambiente com uma boa qualidade de saúde mental. Era tão difícil assim respeitarem sua forma de amar? Precisavam sempre julgá-la e dizer que Jesus a odiaria por isso?! Sempre lhe foi ensinado que Jesus é amor, então, por que ele não a amaria ?
Seu caminhar era lento até a geladeira, apanhou uma cerveja e se jogou com tudo no sofá, fechando os olhos a cada golada que dava, como amava apreciar uma boa cerveja na calmaria do seu pequeno espaço. É isso, Santana pensava: agora somos apenas eu e você Snixx, direcionando os olhos a sua gata preta de coleira vermelha. 
Snixx sempre fora fiel a sua companheira, e toda aquela balela de que gatos não gostam do dono, isso nunca se aplicou a gata preta de apenas 2 anos, ao contrário, era um grude com sua humana tão grande que deixava outros donos  com inveja. Santana tinha sorte em ter Snixx, e vice versa. 
Após afagos e a cerveja faltando apenas um gole para seu fim, Santana deixou o vidro na pia da cozinha e foi tomar um banho, mesmo com o frio daquele outono chuvoso, se sentia na obrigação de uma ducha antes de se deitar e foi o que fez, seguindo em sequência direto para seu quarto. Colocou a roupa mais folgada que achou e um vinil para tocar, fazendo com que a melodia fosse a única trilha sonora do ambiente. Amava dormir ao som de músicas antigas se aconchegando a snixx na cama, que amava dormir fielmente junto a sua humana debaixo das cobertas e com direito a travesseiro. Santana fechou os olhos se forçando a dormir, pois fisicamente estava esgotada, mas seu emocional em pedaços a fez perdurar por longas duas horas exatas até finalmente adormecer. 

Céus, que som irritante é esse ecoando em minha cabeça? - Santana murmurava em pensamentos. Com os olhos apertados, se encolheu debaixo das cobertas e puxou a mesma por sua cabeça, mas aquele som não parava um segundo sequer. 
Inferno !
O despertador de seu celular insistiu até o último instante e Santana o desligou, forçando-se a levantar e começar sua higiene matinal, além de separar uma roupa para o primeiro dia na faculdade, trocar água e ração de Snixx, tomar banho e comer algo. Ao lembrar que seu primeiro dia de faculdade começa hoje, Santana sentiu um frio na barriga, não era boa em socializar, sempre fora tímida, desde a infância e isso lhe ocasionou muito bullying além da falta de amigos, mas os poucos que tinha, eram os melhores. Balançou a cabeça e tentou afastar o máximo que pode todos os pensamentos negativos, não era justo com a mesma já começar dessa forma. Colocou para si o lema: cidade nova, vida nova! 
Após todos os seus afazeres, vestiu uma calça jeans justa, botas de cano alto preto, blusa básica branca com a estampa do Rolling Stones e uma jaqueta preta, pegou sua mochila já devidamente arrumada e seguiu rumo a faculdade, na qual começaria a cursar a tão sonhada medicina. 

Seus olhos brilhavam e um sorriso no canto dos lábios sempre brotavam ao ver aqueles corredores gigantes do local, saber que aquele caminho seria parte da sua rotina por alguns anos lhe aquecia o coração, era seu sonho cursar medicina, mesmo indo contra todos da família que desejavam a menina o curso de advocacia, para seguir o legado. É isso - Santana pensava - agora não tem pra onde correr, é encarar. E adentrou pela sua sala, sentando em uma das primeiras carteiras expostas. 

A sala de aula era bem expansiva, com janelas grandes por toda ela e uma lousa branca ampla também. Sua professora de meia idade e estatura média já estava no local, e alguns alunos sentados espalhados pela sala, uns conversando, outros mexendo no celular, rindo, mas ao se sentar, notou um rapaz tão calado quanto ela, como se seus silêncios fossem sincronizados e meios sorrisos foram trocados. 

Deve ser tímido como eu e um tanto diferente, que roupas mais... mais... bem alinhadas, como se fosse desfilar em uma passarela - pensou Santana, se ajeitando na carteira e tirando o notebook da mochila.

Antes que a professora começasse sua aula de Anatomia, já com todos em seus devidos lugares, uma garota bate a porta pedindo licença para entrar e foi nesse momento que Santana sentiu seu peito levar um choque, como se estivesse em parada cardíaca ao cruzar seus olhos com os da garota loira, chegou a engolir seco com tamanha beleza. Ambas se olhando e sustentando o olhar de tal forma que esses segundos, duraram horas para Santana até a professora pedir para a aluna entrar e se sentar.