No morro da maré 2

Capítulo 31

MT narrando

Desde novinho viaja no brilho da arma, moto, mulheres, cerveja e drogas. Queria aquela vida pra mim, mesmo meu pai sendo desse mundo, ele nunca usou drogas e nunca traiu a minha mãe. Todo domingo íamos a igreja aqui do morro, e por uns anos eu tava seguindo o caminho certo, estudava e fazia um curso de informática. Até que veio a maconha, fiquei muito viciado, então cabulava aula pra fumar com os meninos, um dia meus pais descobriram e eu apanhei. No outro dia estava fazendo a mesma coisa, então larguei a escola e fiz meu pai me deixar entrar no tráfico. Foi muito difícil, principalmente pra mim mãe, ela queria que eu e a Helena fôssemos corretos, mesmo vivendo no errado. Fui começando por baixo, como todos. Ninguém me deu um privilégio por minha madrinha ser a chefe do morro, nem por meu pai ser o braço direito. Aí foi que minha vida virou de cabeça pra baixo.

5 anos atrás ia fazer uma entrega com um vapor específico pra entregas, eu tava ansioso pois era a minha primeira vez. Descemos o morro em um carro comum, nada muito chamativo, até que percebi a maldade, eu tava sem arma, então entramos em outro morro, ai caiu a ficha que o cara era um x-9, eu tava nervoso pois já sabia que ia ser torturado, eu me perguntava porque eu quis entrar nessa vida, e sabia que era tarde demais pra ficar me lamentando.

Fui torturado de todos os tipos que alguém pode imaginar, eu gritava de dor, e a minha raiva maior foi que ninguém percebeu nada do meu sumiço, eles me devolveram com vida, na entrada do morro. Fui jogado, sem forças até um vapor me encontrar e ser levado pro hospital, depois desse dia eu jurei pra mim mesmo, que ia fazer vingança, e até hoje não consigo ter muita conversa com meus pais. A única pessoa que me deixa tranquila é a Sofia, eu sou grosso, por que eu sei que se eu morrer, ela vai sofrer. Então, tento me afastar bastante.
Depois que entrei na igreja novamente por insistência da minha mãe, tô começando a pensar muito na minha vida.
Eu realmente quero viver assim daqui à 5 anos?
Eu não sei como vai ser, agora eu só queria a Sofia. Tê-la na minha vida, já ia me dar forças suficiente pra deixar o tráfico.

Aproveitei que a maju entrou, e ia tentar mais uma vez.

- será que você pode me ouvir?

- rápido - falou olhando pro nada

- eu quero tentar, quero você. Vou mostrar com atitudes. Depois que essa agonia passar, vamos sair.

- depois que a Helena voltar, vamos ver.

- Suave - subi na moto e fui direto ao encontro com meu pai, tava feliz e triste, precisava encontrar minha irmã agora.