Prólogo

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- Você tem certeza? - Engin perguntava pela milésima no meu ouvido enquanto eu checava as munições das armas.

- Você ouviu a nossa fonte principal, o carregamento de Kaan chega hoje no porto. - Falei a mesma resposta de todas as vezes que ele me perguntava.

Os policiais em minha frente tentavam escutar nossa conversa disfarçadamente, homens e mulheres se arrumavam na busca de encurralar Kaan. Eu levantei meus olhos, passando o olhar em cada um deles, os fazendo um de cada vez voltar ao trabalho, como um efeito dominó.

Eu pegaria Kaan Karadag essa noite ou eu sairia dali morto.

Peguei minha mochila, vesti o meu colete a prova de balas e sai, com Engin - e a equipe - me seguindo. O caminho da delegacia até o porto era relativamente longo, 30 minutos, toda a operação precisou de duas vans, quatro carros SUV's e o helicóptero estava à nossa disposição. Eu e Engin ficamos com uma SUV, estávamos na frente, conduzindo todo o resto da equipe, eu estava dirigindo e Engin no passageiro.

Olhei de relance para ele e o vi esfregando as mãos, sua respiração estava pesada, a ansiedade transpirava para fora dele.

- O que há com você? Parece que nunca fez uma operação comigo. - Perguntei, estava começando a me sentir incomodado com a sua ansiedade, não poderia me sentir ansioso na operação mais importante da minha carreira.

- Estou sentindo uma coisa ruim. - Engin começou, sua voz demonstrava vulnerabilidade. - Eu sei que você vai dizer que essas coisas não existem, mas eu realmente estou sentindo algo esquisito.

- Engin. - Falei sério. - Não posso ter você assim hoje. Preciso de você.

- Eu sei, eu sei, - Ele se arrumou no banco. inquieto. - Só estou sendo honesto com você.

Olhei para ele mais uma vez, Engin era um policial dedicado, estava comigo desde que fomos promovidos a detetives e nunca mais um saiu do lado do outro.As pessoas acham que eu sei não, mas dizem que ele é o policial bom por ser mais carismático, conseguir fazer todos em sua volta rir, enquanto eu estou ali de "cara emburrada". Eu não ligo, ele faz o trabalho dele e me ajudou por 7 anos, ele pode ser o que bem quiser.

Ele sempre ficava ansioso antes de operações, mas era uma ansiedade acompanhada de animação, de querer pegar os caras maus, de prender e falar que salvou o dia. Porém, essa noite ele está diferente, quase triste por estar ali. Comecei a sentir que deveria animá-lo, minha intuição dizia que se eu não fizesse algo, eu poderia perdê-lo.

- Ei. - O chamei, ele olhou para mim. - Vamos prender uns caras maus. - Sorri, o encorajando. Ele deu um meio sorriso.

- Vamos.

Poucos minutos e estávamos a poucos metros do porto, em uma prédio em construção, a movimentação dos barcos era notável. Acompanhei com meu binóculo por alguns minutos, tentando localizar Kaan, se aquele filha da puta estiver aqui, quero prendê-lo eu mesmo.

O localizei em um dos barcos, dando ordens.

- Muito bem. - Abaixei meu binóculo. - Todos sabem o que fazer. Nosso objetivo é prender o máximo de traficantes possível, apreender as drogas, todos estão autorizados a pedir apoio se achar necessário, o helicóptero da base está a nossa disposição. Dúvidas?

Todos acenaram em negativo.

- Assumam suas posições. - Vi os policiais passando por mim, indo em direção ao porto. Senti Engin ao meu lado.

- E o nosso objetivo é prender Kaan Karadag - Ele falou.

- Esse é o Engin que eu preciso hoje. - Disse sorrindo.

Deixamos o grupo passar e começamos a andar em direção ao porto. Eu e Engin vestiamos nosso colete a prova de balas e ambos estavam com rifle de calibre 38, não era necessário armas de grande calibre essa noite.

Quando chegamos ao porto funcionários do porto já eram presos, como também todos presentes no barco do Kaan, tudo corria bem, como planejado.

- Onde está o águia? - Perguntei a um policial carregando um homem as viaturas, se alguém já tivesse pegado ele, eu confesso que ficaria frustrado.

- Senhor, correu em direção àquele galpão, alguns policiais correram atrás dele, mas não obtivemos notícias. - Agradeci com um aceno de cabeça.

- Ele está ali. - Apontei para o galpão há mais ou menos um quilômetro de distância.

- Correr, por que temos sempre que correr? - Engin perguntou, eu sorri, ele estava de volta.

Corremos em direção ao galpão, há poucos metros de distância pedi para que Engin parasse, estava tudo quieto, quieto demais. Se Kaan e policiais estavam ali, era para no mínimo ter barulhos de tiros.

A não ser que os policiais fossem corruptos.

- Vamos ter que ser discretos ao entrar no galpão.

- Como assim? - Engin perguntou.

- Confie em mim.

- Por que eu achei que Serkan Bolat iria falar algo pra mim? - Engin reclamou, eu bufei. Logo nós estávamos em posição.

Avançamos pouco a pouco até a porta do balcão, um protegia o outro enquanto avançávamos. Eu gostava da sincronia que tinha com Engin, quando chegamos na porta, eu assumi posição em um lado e Engin do outro. Fiz sinal para ele fazer silêncio, e abri a maçaneta.

A porta abriu com facilidade, grudamos na parede ao lado pensado que seríamos recebidos com tiros, mas não aconteceu. Depois da porta estava a escuridão e silêncio de um galpão cheio de surpresas.

Peguei a pequena lanterna que enfiava dentro do bolso do colete e mirei dentro do galpão, via cadeiras, mesas, entulho, uma cabeça.

Um tiro veio em minha direção, por sorte desviei.

- Vamos ter que entrar - Sussurrei para Engin.

- Eu orei tanto para que você não dissesse isso.

Não precisou dizer, Engin assumiu um lado e eu assumi outro. Com a coluna baixa, dando passos largos, eu contava com a sorte do meu lado pela primeira vez na minha vida. Logo minha visão se acostumou com a escuridão e eu consegui distinguir um corpo em minha frente, fiquei atrás dele, pelo tamanho do corpo era um homem. Me joguei prendendo o seu pescoço, ele lutou, eu tampei sua boca.

- Você não vai morrer, só vai desmaiar. - Sussurrei em seu ouvido, segundos depois ele estava apagado.

Mas eu vacilei colocando o corpo no chão, o quente entrou no braço direito e tomou conta do meu corpo, eu gritei em resposta, não tendo controle. Meus ouvidos podiam ouvir tiros do outro lado do galpão.

- Engin! - Gritei buscando forças. Outro quente no braço esquerdo e eu cai com a dor.

- Engin! - Gritei mais um vez, mas não pedindo socorro, querendo que ele respondesse.

O próximo foi na minha barriga, três vezes seguidas, o colete protegeu, mas quem atirou sabia disso. Ele queria que eu sentisse dor.

O sangue subiu pela minha garganta, meus pulmões brigavam para receber algum oxigênio. Tentei gritar mais um vez, mas a voz não saiu. Um corpo se aproximou de mim, com passos lentos, eu vi a arma na minha frente, apontada para minha cabeça.

E essa foi a última imagem que vi.

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