São muitos aqueles ao redor do mundo que buscam constituir um campo de análise para investigar e interpretar os sonhos, o conjunto de imagens e símbolos formulado inconscientemente pela psique enquanto dormimos. Na perspectiva da psicanálise, os sonhos revelam desejos reprimidos, emergidos através do universo simbólico do subconsciente. Em algumas culturas, o sonho pode marcar uma passagem para outros planos, ocasionando um contato com o divino que pode fornecer revelações e premonições. Para os mais céticos, sonhos são apenas atividades cerebrais aleatórias que nos tomam a mente enquanto descansamos. Seja qual for o modo de entendê-los, ainda é difícil explicar as dimensões das sensações que alguns sonhos podem gerar, principalmente as emoções advindas de um pesadelo. Os efeitos ultrapassam a esfera do subconsciente e transmutam para o físico: a respiração acelera junto aos batimentos cardíacos, o medo e a angústia suam a pele e enxarcam os lençóis, até que o corpo desperta num solavanco e gastamos alguns segundos até compreendermos o que é real e o que foi apenas um sonho perturbado.
Naquele instante, Naruto se sentia preso em um pesadelo, em um desses que algum carro em alta velocidade está vindo em sua direção e suas pernas simplesmente param de se mover; ou quiçá naqueles em que você está caindo de um precipício e não há nada em que possa se agarrar para impedir a queda iminente. Ele sentia suas cordas vocais vibrarem, a garganta lacerada pelo esforço contínuo e desgastante em razão dos gritos que vocalizava em plenos pulmões, mas parecia que nada saía pelos seus lábios, que ninguém na terra era capaz de ouvir sua voz.
Se não fosse pela visão embaçada dos olhos azuis inundados, ele sequer notaria as lágrimas que escorriam em fluxo contínuo por sua face, numa lamúria desesperada. Havia recobrado a consciência alguns minutos atrás, momento em que cada um dos seus sentidos tentaram o deixar a par da situação. Sentiu a boca seca tomada por um gosto amargo, como se o cheiro forte que tomava o ambiente invadisse também seu paladar, um odor que não conseguia exatamente distinguir, mas que parecia ser uma junção desagradável de mofo com amônia. Ouviu ruídos distantes, semelhantes a um diálogo entre duas pessoas, e isso o ajudou a despertar um pouco mais, até finalmente dar-se conta da disposição de seu corpo sentado numa cadeira, seus braços levados para trás com os pulsos juntos um ao outro, presos por uma grossa e apertada corda, provavelmente a mesma que prendia cada um dos seus tornozelos às pernas da cadeira. Piscou lentamente, os olhos de adaptando ao lugar precariamente iluminado enquanto sua visão aos poucos esquadrinhava onde estava, prestando atenção à comprida mesa a poucos metros de si. A superfície parecia ter uns cinco metros de comprimento e estava ocupada por galões de diferentes produtos químicos, frascos de vidro armazenando líquidos de diversificadas tonalidades, pipetas, funis, tubos e um arsenal de equipamentos que Naruto não sabia nomear, além de microscópios e diversas outras máquinas que ele também não conhecia, mas que reconhecia como parte da aparelhagem contida num laboratório químico. Todavia, o ambiente estava longe de ser esterilizado tal como o adequado e exigido para um laboratório, algumas seringas espalhadas pela mesa estavam visivelmente usadas, e todos os demais elementos compunham uma desordenada bagunça.
Seu olhar gradualmente migrou para que pudesse continuar identificando onde estava e entender o que havia acontecido. Sua memória ainda estava um tanto comprometida, recordava-se de ter seguido um dos policiais de Gaara e depois tudo ficara escuro. Piscou mais algumas vezes, ampliando seu campo de visão quando notou duas silhuetas em pé ao lado da extensa mesa, deduzindo que era dali de onde vinha o ruído que ouvira anteriormente. Facilmente identificou uma das figuras, engolindo a seco ao mirar os longos fios de cabelo de Orochimaru, que conversava calmamente com o outro homem. Sua memória enfim começava a restituir a ordem dos acontecimentos e o colocava em estado de alerta. Tinha sido enganado. Orochimaru o capturou na universidade, antes mesmo que ele pudesse encontrar Sasuke.
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Diké
RomansaEntre os gregos antigos, recorriam ao culto da deusa Diké aqueles que clamavam pela Justiça, sabendo que a divindade impiedosa não pouparia os corações nefastos e traiçoeiros. A musa tornou-se então o símbolo mor daqueles que em seu ofício lutam pel...