Love wounds - Part II

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Pressa, semblantes sérios e preocupados, conversas aflitas e silenciosas... nada atípico para os corredores do Tribunal que Sasuke conhecia tão bem. Entretanto, mesmo que já tivesse ciência do clima pesado que envolvia aquele ambiente, o Uchiha sentia uma tensão peculiar enquanto seguia Konohamaru até a sala onde Naruto estava com seu cliente. Não via Itachi desde que saiu da sala de audiência, e suspeitava que o irmão mais velho estava alimentando sua cordialidade impecável e saíra para cumprimentar seus colegas de profissão. Mas não se importava com seu paradeiro, na verdade. Estava ocupado demais se perguntando como o Uzumaki escaparia dessa – afinal, mostrar uma defesa tão frágil no auge de sua carreira não iria lhe soar bem, quem dirá perder um caso na frente de todos os alunos.

Dois policiais inexpressivos estavam posicionados frente à porta da sala, fazendo vigília, mas logo permitiram a entrada quando Konohamaru os identificou. O caos parecia quase palpável naquele cubículo. Cerca de vinte alunos – os que foram selecionados por Naruto para acompanharem o caso até o final – não conseguiam disfarçar o desespero, e conversavam entre si sobre hipótese x, solução y, artigo z que poderiam usar para consolidar a defesa, mas não pareciam chegar a acordo algum.

Naruto parecia um caos particular. Apoiava seus quatro dedos na testa e o polegar na têmpora, enquanto andava de um lado para outro em passos ligeiros, como se a locomoção de seu corpo colocasse as engrenagens de seu cérebro para funcionarem com maior velocidade. O cenho franzido e a coloração avermelhada de seu rosto também compunham todo o conjunto de expressões que Sasuke pouco vira antes no loiro. O Uchiha olhou para Konohamaru ao seu lado e viu o jovem apenas negar com a cabeça, como se alertasse para não intervir em nada, por hora.

Zabuza, por sua vez, encontrava-se surpreendentemente quieto, sentado em sua cadeira atrás de uma pequena mesa, olhando as marcas vermelhas que as algemas deixaram em sua pele acinzentada. O homem só ergueu os pequenos olhos sérios quando Naruto apoiou ambas as mãos na mesa a sua frente e inclinou o corpo em sua direção.

– Por favor... – O loiro começou, com o tom de voz alto o suficiente para se sobressair a todos os cochichos dos alunos. – Me explique que maneira lhe pareceu uma ótima ideia mentir para seu advogado? Para justamente a única pessoa que você não poderia mentir de forma alguma. – Naruto falava de forma pausada, como se a cada palavra pronunciada ele tivesse que exercer ao máximo seu auto controle para não surtar de forma ainda mais descarada. Não fingia a seriedade em seu rosto enquanto olhava diretamente para Zabuza, que deu de ombros em resposta, o que fez com que os olhos azuis se estreitassem ainda mais em sua direção.

Naruto só quebrou o contato ocular e se afastou do outro quando a sala explodiu de vozes. Os alunos, que até então comentavam entre si possíveis desdobramentos para o caso, agora pareciam querer expor todas as suas ideias, e cada um solicitava atenção, chamando-o com pressa. A poluição sonora e a bagunça fez o loiro franzir ainda mais as sobrancelhas e erguer a mão, sinal para que parassem.

– Eu apresentei este caso a cada um de vocês há exatos quinze dias e até agora ninguém me apresentou boas resoluções. – Naruto se posicionou em frente aos alunos, que agora o ouviam com atenção. – Eu dou cinco segundos para vocês se auto avaliarem e analisarem se o que vocês querem me falar vai valer a pena gastar o curto tempo que eu tenho agora. – A seriedade que o Uzumaki portava não parecia surpreender somente o Uchiha. Os alunos se acanharam, intimidados pela falta de tato, algo que o professor sempre demonstrava ter de sobra. Sasuke, por sua vez, compreendia Naruto. Aquilo não era uma sala de aula. O que estava em jogo era a liberdade de uma pessoa.

O silêncio que se instalou na sala durou bem mais que cinco segundos, e só foi rompido quando a voz grossa e áspera de Zabuza se fez presente.

– Eu fui procurar ele e conversamos na rua, não foi nem por cinco minutos, e então eu viajei para casa da minha família. Foi a última vez que eu o vi. – Mesmo que Zabuza parecesse intimidante, até mesmo assustador, pelo seu porte, o pesar em sua voz foi evidente em sua última frase. E ele, notando isso, logo tratou de continuar a falar, tentando disfarçar seus sentimentos, como há muito vinha fazendo. – Eu não te contei porque não achei que fosse relevante.

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