– Um fiasco. – Naruto verbalizou a primeira oração que seu cérebro conseguiu formar quando Konohamaru o questionou como foi a reunião com Uchiha Sasuke. A frase foi curta, mas ele não se importaria de passar uns bons minutos contanto todos os detalhes do absurdo que presenciou. Desde que se encontrou com o moreno, não tinha tido tempo para conversar direito com Konohamaru, por estar imerso em prazos e envolvido demais nos casos em que estava trabalhando. – Eu só quero que o semestre passe voando, Yamato perceba a burrice que esse novo sistema é e que tudo volte ao normal.
O loiro bebericou um pouco do café que Konohamaru gentilmente trouxe para si e estreitou as pálpebras ao observá-lo rir, como sempre costumava fazer ao vê-lo reclamar de algo. O tom informal da conversa expressava uma ligação entre os dois que excedia o caráter puramente acadêmico; podia arriscar e dizer que Konohamaru se tornara um de seus maiores amigos. Estava acompanhando a trajetória acadêmica do mais novo há mais de um ano, atuando como seu orientador em projetos de pesquisas e observando com orgulho ele se destacar cada vez mais na área. Neste percurso, se aproximaram tanto que o rapaz tinha até uma cópia da chave de seu apartamento para utilizar em casos de emergência: quando Naruto esquecia o relatório mais importante do semestre em casa ou quando esquecia que precisava fazer necessidades básicas como dormir, se alimentar e tomar banho, e ao invés disso passava dias a fio na frente do computador para conseguir encerrar um caso a tempo.
Perdia as contas de quantas vezes o jovem o obrigou a dormir mais algumas horas ou de quantas vezes só o acompanhou de madrugada, o ajudando em suas atividades. Por essas e outras, sempre brincava: apesar de ele ser o orientador, Konohamaru que acabava o ajudando de verdade.
– Eu recebi um e-mail do professor Uchiha. – Naruto ergueu as sobrancelhas, deixando suas reflexões de lado para escutar o outro. Afastou o copo de café do rosto, sentindo suas bochechas esquentarem só em pensar no conteúdo do e-mail. Se o Uchiha realmente pretendia submeter Konohamaru a uma nova avaliação, ele iria ganhar uma passagem sem volta para o inferno, pensava, um pouco tenso. – Me mandou seis livros, disse que eram leituras iniciais e obrigatórias para o novo projeto. – Konohamaru ressaltou e deu-se ao luxo de mais um ar de riso. Afinal, aquilo não era uma surpresa para si. Sabia da fama que o professor Uchiha tinha e nunca foi de seu feitio reclamar ou fazer "corpo mole". Mesmo assim, viu o loiro revirar os olhos a sua frente, visivelmente resignado.
Konohamaru fazia o possível para não preocupar Naruto, então não demonstrou descontentamento com as demandas de Sasuke. Além do mais, já havia lido e fichado quatro dos livros que recebeu, não seria muito difícil acompanhar o novo ritmo. Não que o ritmo do Uzumaki não fosse denso, pois, sem sombras de dúvidas, o era. Mesmo que o loiro fosse um dos professores mais compreensíveis do corpo docente e apesar da amizade que tinham, Naruto nunca aliviou para si. Bem, às vezes o professor apenas esquecia de lhe comunicar coisas fundamentais com antecedência, como, por exemplo, ter lhe avisado somente hoje, quinta feita, às 7h20, que eles iriam assistir a aula do professor Uchiha às oito horas da manhã, o que lhe rendeu sair de casa às pressas, sem direito sequer de uma conferida no espelho.
Naruto jogou o copo de café já vazio em uma das lixeiras discretamente dispostas pelo corredor em que estavam e pela terceira vez em poucos minutos retirou o celular do bolso de sua calça jeans para conferir o horário. 7h57. Sorriu silencioso, tentando disfarçar inutilmente a expressão vitoriosa que começava a se formar em seu semblante. Ora, ora, pelo visto alguém vai se atrasar.
Sua infantil comemoração durou até ele sentir uma movimentação no corredor, que repentinamente começava a se esvaziar por completo. Todos os alunos que se distraíam por ali e trocavam algumas palavras ligeiramente se direcionavam para a sala de aula. Naruto ergueu uma das sobrancelhas em confusão e sentiu que o dia escureceu dois tons quando entendeu o motivo da movimentação súbita ao observar Sasuke caminhando em sua direção.
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Diké
RomanceEntre os gregos antigos, recorriam ao culto da deusa Diké aqueles que clamavam pela Justiça, sabendo que a divindade impiedosa não pouparia os corações nefastos e traiçoeiros. A musa tornou-se então o símbolo mor daqueles que em seu ofício lutam pel...