Mesmo estando no racking dos homens mais ricos do país, a casa de moradia de Uchiha Fugaku não era uma mansão monumental. Na verdade, a casa era a mesma que ele comprara há mais de 30 anos, com sua esposa, quando tiveram o primeiro filho. Não quis se desfazer do lugar para morar em outro só por causa da grandiosidade de seu patrimônio bancário; preferia estar ali e ter em cada cômodo a lembrança de Mikoto e da infância dos seus filhos.
Obviamente, a casa passara por muitas mudanças e reformas, então não havia dispensado o conforto que poderia aproveitar da sua riqueza. A primeira grande mudança foi a construção de um imponente torii na entrada do local, os dois pilares avermelhados se uniam por suas traves na horizontal que traziam, ao meio, o brasão de sua família, que agora era, também, a logomarca de sua empresa. A casa seguia o clássico estilo da arquitetura oriental, a base de construção em madeira e o telhado piramidal, seus beirais projetados em curvas. Na decoração, as cores neutras entravam em harmonia com os tons avermelhados e amarronzados do piso e das paredes; seria quase minimalista, se não fossem as caras obras de arte presentes nas paredes. Não era quilometricamente extensa, como se esperava da casa de alguém com o cabedal do patriarca, mas era, sem dúvidas, elegante.
Ainda assim, era contraditoriamente rústica para quem havia sido um dos grandes responsáveis pelo avanço tecnológico, pensava Sasuke ao andar lentamente por seu antigo quarto. Fugaku não havia mudado nada ali e o mais novo da família suspeitava que o quarto de seu irmão mais velho também permanecia intacto. Seu pai definitivamente não era alguém fisicamente afetivo e carinhoso, mas essas pequenas atitudes faziam Sasuke sorrir discreto ao ver como a família importava para Fugaku. Revirou seu armário e sua estante de livros, achando materiais da sua graduação, cartas e fotografias antigas. Sorriu nostálgico e suspirou, sentindo, talvez precocemente, o peso da idade.
Saiu do seu quarto em passos silenciosos, sentindo o calor artificial do chão de madeira aquecendo seus pés descalços. Enquanto passava pela sala, parou involuntariamente na frente de um aparador encostado na parede e sentiu seus olhos caírem sobre algumas fotografias ali expostas. Uma em especial lhe chamou atenção, mesmo já tendo a visto inúmeras vezes. Na foto, sua mãe, ao lado de seu pai, segurava com cuidado um Itachi de apenas um ano de vida. A mulher sorria serena, os cabelos pretos e longos caíam por seus ombros com delicadeza. Parecia consigo, seu pai e até mesmo Itachi já tinham lhe falado aquilo muitas vezes: a pele clara, os olhos, o cabelo, os traços do rosto mais curvilíneos, diferentes dos de Itachi, que se assemelhavam mais ao pai, com o maxilar mais marcado. Mas vendo o sorriso leve da mulher na foto, Sasuke só poderia pensar que a semelhança não chegava até as personalidades; tinha herdado o jeito frio do pai, enquanto Itachi, mesmo um tanto intimidante num primeiro contato, era genuinamente gentil, como imaginava que sua mãe era.
Sasuke estalou a língua nos dentes e se obrigou a desviar o olhar. Nunca quis admitir para si mesmo, mas talvez sentisse certa inveja de Itachi. Mesmo que ambos não tivessem realmente crescido com uma presença materna, o mais velho possuía memórias com a mãe, possuía lembranças registradas na mente e até mesmo em fotografias. Ele não tivera nada, Mikoto se foi sem deixá-lo sequer com alguma memória.
Suspirou e mais uma vez seguiu seu caminho. Não gostava de visitar seu pai naquela casa, por vezes ficava instável e não sabia lidar com aquilo. Abriu a porta de correr da lateral da casa para ter acesso ao alpendre que percorria todo o espaço. À sua frente, via um jardim amplo, cheio de árvores e até mesmo um pequeno lago, com passagens feitas com tijolos rústicos que levavam até outro ambiente com algumas bancadas de madeira cercadas de rosas naturais. Estava muito diferente do que lembrava, antes era só um quintal sem graça onde ele e Itachi costumavam correr e brincar. Certamente algum funcionário tinha decidido cuidar daquele ambiente, não seria uma iniciativa do seu pai deixar algo tão... colorido.
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Diké
RomanceEntre os gregos antigos, recorriam ao culto da deusa Diké aqueles que clamavam pela Justiça, sabendo que a divindade impiedosa não pouparia os corações nefastos e traiçoeiros. A musa tornou-se então o símbolo mor daqueles que em seu ofício lutam pel...