Interlude

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– Estou esperando, Naruto. – Sakura declarou quase impaciente, o tom de voz firme para mostrar que não tinha se dado por vencido. Agradeceu com um sorriso e um breve curvar com a cabeça para a atendente a sua frente, e segurou em cada uma das mãos os copos vermelhos de refrigerante que recebera, se afastando em seguida para dar lugar ao próximo da fila.

– Eu já disse, foi só isso! – Naruto, logo a sua frente, rebateu de prontidão, apoiando os dois grandes baldes de pipoca entre o torço e seus antebraços flexionados. Dava curtos passos para acompanhar a fila bem ordenada em direção à sala onde ocorreria a próxima sessão do filme que vieram assistir juntos. O cinema não estava exatamente lotado, mas a movimentação era o suficiente para formar um camada considerável de barulho, o que lhe era muitíssimo favorável no momento, pois o ajudava a desviar do assunto que a outra insistia em se aprofundar. Mesmo repetindo a resposta pela terceira vez, percebeu que suas palavras ainda não tinham satisfeito Sakura quando sentiu um chute ligeiro atingir sua panturrilha. – Ouch!

– E eu já disse que eu não acredito! – Ignorando o resmungo de dor do outro, persistiu, aproveitando que o espaço começava a vagar para se colocar mais uma vez ao lado do mais alto. Pela diferença expressiva entre as alturas, ficava quase no nível dos ombros do outro, e teve de erguer a cabeça para mirá-lo, ao prosseguir, desconfiada. – Como que depois daquela confusão toda não aconteceu nada entre vocês!?

– Não é que não tenha acontecido nada... Aconteceu! Nós conversamos, nos resolvemos e decidimos priorizar nossa relação profissional, foi só isso. – Explicou-se novamente, dando de ombros para tentar encerrar mais uma vez as suspeitas da outra. Aquela era a primeira vez que encontrava Sakura depois que a tinha consultado para pedir conselhos, logo após a discussão com o Uchiha, episódio que teve direito a empurrões, gritos e, até mesmo, o beijo que provavelmente fora o mais inesperado da vida de ambos. Depois de ouvir a mulher e depois da intervenção de Konohamaru na relação dos dois, ele e Sasuke realmente chegaram a se resolver, conversaram e chegaram a um consenso confortável sobre como deveriam seguir no meio profissional. Contudo, existiam uma boa parcela de acontecimentos que Naruto preferir ocultar em seu relato para a amiga.

Há um bom tempo Sakura vinha tentando, através de mensagens e ligações, se atualizar de tudo que ocorreu, e Naruto sempre dava o retorno mais simples e resumido, alegando que seria melhor se conversassem pessoalmente sobre o assunto. Como a mulher estava numa turbulência e acúmulo de tarefas no próprio departamento, só agora conseguiram se encontrar, e, ainda assim, Naruto não tinha se aprofundado realmente ao relatar o que aconteceu, o que levava Sakura a desconfiar imediatamente de um desfecho tão simplista. Era evidente que tanto Naruto como o próprio Sasuke estavam instáveis um com o outro, então, ao seu ponto de vista, não fazia sentido que toda aquela tensão sexual terminasse em nada.

Naruto admitia que, em partes, era muito divertido ver Sakura naquela posição de não saber o que estava acontecendo, logo ela que foi tantas vezes mais perspicaz que qualquer outro sobre ele e Sasuke, e que já tinha até aprontado para que eles ficassem juntos, seja provocando-os ou tramando um encontro armadilha. Sentia um gostinho de vingança prazeroso, e vez ou outra tinha que controlar muitíssimo suas expressões para não dar indícios que segurava o riso quando percebia que ela estava demorando a comprar suas mentiras. Mas, mesmo se caso ele optasse por ser franco, não tinha certeza se deveria compartilhar o que estava acontecendo com a outra, pois era algo que também cabia a Sasuke, e ele não estava certo sobre como o outro se sentia sobre isso, se preferia manter estritamente sigiloso. Não queria incomodá-lo, tampouco soar invasivo com a privacidade alheia, haja vista que o Uchiha era sumariamente discreto com sua vida pessoal.

Além disso, o Uzumaki sentia que eles ainda estavam numa fase difícil de identificar, categorizar ou descrever. Ele poderia dizer para Sakura que mesmo depois de terem apaziguado todas as querelas do trabalho, ele ainda foi até o apartamento do Uchiha em plena madrugada, porque estabelecer um vínculo profissional estável não era mais suficiente, já que ele não conseguia tirá-lo da sua cabeça e isso ia muito mais além do que uma questão complicada que ele estava passando em seu ofício. Ele poderia dizer que, surpreendentemente, Sasuke correspondeu seus anseios e desde então eles vinham se encontrando várias vezes na semana, e que ele estava tendo o melhor sexo de toda sua vida junto com o moreno. Naruto poderia dizer, ainda, que mesmo com sua libido à flor da pele, não existia nada que o deixasse mais eufórico do que quando ele percebia que aos poucos Sasuke ficava cada vez menos inexpressivo ao seu redor, ou quando ele conseguia arrancar-lhe alguma risada, ou até mesmo quando o outro lhe irritava e ele percebia que, ainda que nervoso com suas provocações, ele continuava apreciando sobremaneira sua companhia, e que era sempre um pesar ter de ir embora ou de vê-lo partir no fim de mais uma noite. Existiam muitas chaves de respostas para as perguntas ansiosas de Sakura, mas respondê-las talvez levasse o loiro a admitir algo que ele ainda temia em confessar para si mesmo.

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