O batucado incessante das pontas dos dedos de Konohamaru contra seu bloco de anotações não produzia nenhum barulho incômodo, apenas externalizava o nervosismo que acometia seu interior. Ele estava dando início ao novo conjunto de atividades que desenvolveria sob as orientações de Sasuke e Naruto, onde deveria assistir audiências criminais e produzir relatórios sobre elas, avaliando criticamente a atuação da defesa, da acusação, do réu, do juiz e das demais instâncias envolvidas no processo. O nervosismo em que se encontrava não era apenas por estar iniciando algo novo, mas porque aparentemente ele estava abrindo com chave de ouro essa nova etapa, devido à polêmica e à repercussão do caso que seria pauta do julgamento dentro de minutos. Ele nunca havia visto a entrada do prédio do tribunal tão tumultuada, uma aglomeração dividida entre dois grandes grupos: de um lado, jornalistas e suas equipes de filmagem e fotografia; do outro, cidadãos que gritavam em protesto e exibiam seus cartazes, onde se liam pedidos de justiça.
Naruto estava sentado ao seu lado, tinha o acompanhado nessa primeira audiência para lhe dar algumas dicas, apontar no que ele deveria prestar atenção e quais problemáticas ele poderia extrair das sessões. Mas, a julgar pelo semblante contemplativo e sério do mais velho, Konohamaru achava que até o professor estava tenso e curioso com o desenrolar dos fatos; afinal, se tratava de um acontecimento que há dias não saía das mídias, despertando tanto a comoção como a revolta da sociedade. Era difícil encontrar um noticiário que não transmitisse em sua programação alguma nova atualização do que estava sendo chamado de "Atentado da escola Ousai".
O clima na sala de audiências estava absolutamente pesado, as cadeiras de madeira destinadas ao público estavam tão cheias que Konohamaru pensava que se ele e Naruto não tivessem chegado com uns bons minutos de antecedência, não teriam conseguido um lugar para se acomodarem. Ao passear discretamente os olhos pelos que estavam ali, Konohamaru conseguia encontrar pessoas com feições controladas, de olhares mais analíticos, as quais ele pensou que já faziam parte do meio da justiça, e estavam, em certa medida, já habituados com aquilo. Mas o que lhe chamava atenção eram os outros olhares, os desconsolados, os tristes e, até mesmo, os raivosos. Duvidava que algum familiar das vítimas estivesse presente ali, mas certamente pensava que aquelas pessoas eram amigos ou conhecidos, ou até mesmo um cidadão qualquer que desenvolveu empatia demais com a tragédia e queria presenciar de perto as medidas judiciais que seriam tomadas.
Konohamaru observou as primeiras movimentações na outra repartição da sala, onde iria de fato acontecer o julgamento. A escrivã silenciosamente tomava seu lugar, sendo acompanhada por Itachi que caminhava até a mesa mais comprida da sala, sentando-se no nível mais alto dela, ocupando o lugar do juiz e se acomodando na grande e confortável cadeira. Vestia, como era previsto para seu ofício, a longa e elegante toga preta que cobria seu corpo até um pouco acima dos pés, e suas demais peças eram igualmente escuras e discretas. Os fios longos de cabelo estavam presos num baixo rabo de cavalo, algumas mechas caíam pelas laterais de seu rosto de forma alinhada, contornando sua expressão neutra. Era uma imagem que certamente transmitia poder e seriedade, mas, de alguma forma, também despertava certa segurança. O mais jovem mirava Itachi com absoluta admiração: não que Konohamaru fosse um expert ou tivesse anos experiências em audiências, mas as poucas vezes em que ele teve a chance de ver Itachi atuar foram inspiradoras.
– Boa tarde, senhoras e senhores. – A voz grave do Uchiha ecoou por toda a sala, sendo amplificada moderadamente pelo discreto microfone posicionado a sua frente, na superfície lisa e brilhante da mesa de madeira. Os olhos negros percorreram a sala de audiência sem pressa, como se analisassem e estudassem todos os presentes, com cautela e paciência. Após alguns segundos apenas observando, Itachi prosseguiu, anunciando de forma um pouco mais firme. – Declaro abertos os trabalhos da 1ª sessão do Tribunal do Júri de Tóquio, ano de 2016.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Diké
RomanceEntre os gregos antigos, recorriam ao culto da deusa Diké aqueles que clamavam pela Justiça, sabendo que a divindade impiedosa não pouparia os corações nefastos e traiçoeiros. A musa tornou-se então o símbolo mor daqueles que em seu ofício lutam pel...