Um suspiro profundo e cansado escapou dos lábios de Naruto assim que eles chegaram no apartamento de Sasuke. O Uzumaki tinha a forte impressão que, desde que saíram da delegacia, tinham entrado em uma outra dimensão do espaço onde o tempo passava excessivamente devagar, pois a volta até o condomínio do Uchiha pareceu durar séculos, principalmente porque Sasuke não lhe dera chances de se explicar. Quando conseguiu alcançar o outro depois do fatídico episódio com Gaara, o moreno sucintamente lhe cortou, alegando que estava com dor de cabeça e que poderiam conversar sobre aquilo depois. A partir de então, teve de lidar com o silêncio mortal de um introspectivo Sasuke, que só trocou algumas palavras consigo quando pararam no meio do caminho para almoçarem. Agora, já na residência do maior, Sasuke continuava calado e ostentava a impecável inexpressividade de sempre, o que já estava deixando Naruto prestes a ter um surto nervoso.
O observou caminhar até o próprio quarto, mas o loiro preferiu permanecer na sala, por enquanto, aproveitando a ausência do Uchiha para começar a andar de um lado para o outro, alvoroçado, movimentando-se para exteriorizar ao menos fisicamente toda sua agitação. Seu estômago ainda estava embrulhado desde o breve beijo inesperado de Gaara, e o Uzumaki ficava em dúvidas sobre sua lista de prioridades, incerto se desejava primeiro dar um belo sermão no ruivo pelo feito, ou então chacoalhar o Uchiha para ele sair logo daquela política do silêncio para poder se esclarecer do mal entendido.
A cabeça do loiro já vinha lotada de pensamentos e preocupações desde que Sasuke partilhou consigo todas suas teorias e eles entraram juntos na investigação, se inquietava em pensar quem estava por trás de tudo aquilo e lidava com uma constante aflição por Sasuke se envolver tão profundamente num caso que poderia o atingir diretamente. Contudo, naquele momento, Naruto experimentava um outro tipo de apreensão, que apertava seu peito de um modo peculiarmente mais atordoante. Sabia que talvez não estivesse sendo plenamente racional, que poderia estar com uma preocupação despropositada, mas tudo estava indo tão bem com o Uchiha que a menor das possibilidades em dar um passo para trás lhe assustava muitíssimo. Desde que ambos iniciaram aquele laço, da forma conturbada e incerta, o Uzumaki sempre preferiu não pensar tanto no que fazia, dava passos sem registrar o caminho que percorria, procurando não se apegar nem exigir definições para o que ele e Sasuke estavam vivendo. Mas sabia que, para si, aquilo não era mais uma experiência que ele estava despretensiosamente aproveitando. A inquietude que lhe tomava e a forma com que o beijo de Gaara tinha lhe soado completamente errado e inapropriado denunciavam o nível em que estavam seus sentimentos pelo outro.
Suspirou mais uma vez, em desassossego, agoniado demais para continuar naquela sala silenciosa. Seguiu, enfim, para o quarto do Uchiha, encontrando o recinto vazio. Pelo som distante de queda d'água, logo deduziu que o moreno estava tomando banho, e, sem pensar muito, caminhou até a porta do banheiro da suíte, girando cuidadosamente a maçaneta, constatando que a porta estava destrancada e somente a entreabrindo.
– Sasuke... posso entrar? – Perguntou, a voz mansa servindo como um ótimo artifício para disfarçar o quanto estava alvoroçado. Pelo barulho do chuveiro ligado, não sabia ao certo se ouviu o Uchiha balbuciando alguma coisa, mas decidiu arriscar-se, pois não lhe pareceu uma negativa. Assim, adentrou lentamente no banheiro, fechando a porta atrás de si, sentindo embaixo dos pés desnudos a textura gélida da porcelana negra do piso. As paredes seguiam na mesma tonalidade escura, revestidas com foscas pastilhas pretas hexagonais, e os spots de luz distribuídos pelo teto eram os responsáveis pela iluminação levemente amarelada do ambiente. Pelo box embaçado pelo vapor da água quente, conseguia ver a silhueta do Uchiha se banhando, e o loiro não demorou muito para começar a se despir lentamente, abandonando suas vestes no canto do piso, mesmo sabendo que provavelmente o outro iria reclamar consigo, quando visse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Diké
RomanceEntre os gregos antigos, recorriam ao culto da deusa Diké aqueles que clamavam pela Justiça, sabendo que a divindade impiedosa não pouparia os corações nefastos e traiçoeiros. A musa tornou-se então o símbolo mor daqueles que em seu ofício lutam pel...