Stranger feelings

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Sasuke mantinha a cabeça abaixada, o tronco minimamente curvado em respeito, enquanto a mesa se desfazia e as pessoas, que outrora partilhavam juntas a refeição, se levantavam e gradualmente se retiravam do ambiente. O jantar havia sido particularmente mais pomposo que o normal, Sasuke suspeitou que não seria apenas mais uma reunião casual de família quando seu pai o convidou e avisou que outros membros estariam presentes, algumas tias e primos que ele, sinceramente, se esforçava muito pouco para manter algum contato. E ainda assim, quando viu a casa cheia e seu pai especialmente comunicativo e animado, jamais imaginaria que aquele jantar tinha sido planejado para anunciar o casamento de Shisui com uma sobrinha de um sócio da empresa. O Uchiha mais novo não precisou se questionar por mais nenhum segundo para entender porque Itachi tinha se desculpado e avisado a seu pai que não poderia comparecer.

Quando o moreno ergueu novamente o rosto, visualizou a ampla sala de jantar vazia, exceto pela presença de Shisui, que manteve-se sentado ao redor da mesa. O rosto do homem não era um palco privilegiado para expressividade, nenhum deles conseguia ser realmente muito expressivo, mas Sasuke percebeu, sem muito esforço, o semblante do outro distante e pouco confortável com toda a comemoração do casamento arranjado. Os familiares o cumprimentavam e Fugaku, líder da família e da empresa, se mostrava muito satisfeito em ter "matado dois coelhos com um só golpe": consolidou o contrato com o grande sócio e arquitetou uma união para dar continuidade à família Uchiha. Shisui agradecia aos cumprimentos com sorrisos ensaiados, mas mantinha-se predominantemente calado. Agora, sem mais a presença dos outros, o cansaço brigou pelo protagonismo em suas feições, podendo finalmente se expressar em sua totalidade.

Ao ouvir o barulho de alguns funcionários da casa de Fugaku entrando na sala, para recolher e limpar a mesa, Sasuke dirigiu-lhes sua atenção e negativou com a cabeça, num pedido mudo para que eles voltassem depois. Felizmente foi compreendido, e logo teve a privacidade retomada, ficando a sós com Shisui.

– Acredito que Itachi já esteja sabendo, hm? – Sasuke quebrou o silêncio depois de alguns instantes, a voz firme preenchendo o ambiente, enquanto os olhos negros mantinham-se cravados na figura de Shisui, do outro lado da mesa, à sua frente. Viu-o assentir e complementar.

– Eu contei para ele, assim que eu soube. – Shisui sentia o peso do olhar de Sasuke sobre si, mas não tinha muita disposição para encarar o mais novo naquele momento, já havia sido um desgaste considerável manter-se firme durante todo aquele longo jantar e fingir que partilhava ao menos um pouco da alegria de seus familiares com a notícia.

– E então?

– Ele disse que não quer me ver... – O mais velho respondeu sem vigor, o olhar vagando pela mesa e os pratos abandonados. Ouviu o homem do outro lado estalar a língua nos dentes.

– Um casamento arranjado... em pleno século XXI. Que paradoxo. – Sasuke era uma pessoa de poucas palavras, sempre fora. Não por ser retraído, apenas preferia não se pronunciar sobre coisas que não lhe diziam respeito, ou não lhe interessavam. Em outro contexto, esse casamento se encaixaria em ambas categoriais: não atingia sua vida em nenhuma medida e não despertava sua atenção. Mas aquela ocasião não era um contexto típico e ainda que, de fato, nada daquilo fosse sobre si, parecia pitoresco demais para ser real. – Me surpreende você ter aceitado, Shisui...

– Fugaku-sama já deixou bem claro o que esse casamento significa e todas as vantagens que ele vai trazer, Sasuke, eu não vou repetir tud-

– Você concordaria fazer absolutamente tudo por meu pai? – O interrompeu para questionar, enfático, os olhos direcionados a Shisui enquanto aguardava uma resposta que realmente despertava sua curiosidade. Viu então o mais velho suspirar frustrado e exasperado, finalmente erguendo o rosto e para lhe dirigir o olhar e responder, a impaciência dando às palavras um tom sutilmente ríspido.

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