Carregadas nuvens cinzas se alastravam pela imensidão dos céus, algo um tanto atípico para o início de junho, pleno verão japonês. Porém, ainda que o tempo estivesse um tanto anormal, Uchiha Sasuke não se sentia incomodado com o fato ou com a palpável ameaça de chuva diante de seus olhos, pelo contrário; gostava de como o filtro cinza e a iluminação mais amena ressaltava de forma peculiar as outras cores ao seu redor. Por isso caminhava sem pressa pelos corredores da universidade, por que assim poderia observar com maior apreço a paisagem ao seu redor – o belo jardim que dava vida ao apático bloco de Direito. Além disso, era uma tarde de sexta-feira, momento em que o fluxo de pessoas no ambiente universitário diminuía consideravelmente, portanto, ele poderia caminhar sem a incômoda algazarra dos alunos.
Sasuke acomodou melhor a alça de sua pasta de couro em seu ombro e continuou a caminhar pelo extenso corredor. Já conseguia ouvir o som suave dos primeiros e tímidos pingos de chuva que caíam sobre a grama logo ao lado, e apreciou aquele cheiro característico antes de parar frente à uma sala de mesma aparência e estrutura da sua. A placa informativa, todavia, trazia o nome de outra pessoa.
Uzumaki Naruto
Professor adjunto do Departamento de Direito
Deu três discretas batidas na madeira branca com o nó do dedo indicador, e teve que aguardar apenas alguns segundos para ser atendido por um afobado Konohamaru que segurava e tentava equilibrar entre as mãos umas quatro canecas sujas. O Uchiha ergueu uma das sobrancelhas em discreto estranhamento e logo observou o mais novo se afastar da porta para levar as canecas até o balcão, no fim da sala, deixando-as numa pequena pia que o cômodo dispunha, para limpeza e uso da cafeteira.
– Pode entrar, professor! – Konohamaru convidou enquanto lavava rapidamente as xícaras, virando o rosto para o lado para olhar o Uchiha atrás de si, ainda parado na porta. O jovem já havia enchido dois sacos de lixo enquanto tentava deixar a sala de Naruto habitável para seres humanos (principalmente para Uchiha Sasuke). Papeis rabiscados, folhas amassadas, embalagens de lámen instantâneo, caixas de leite, louça suja... A espinha do menor gelava apenas em imaginar a reação que Sasuke teria ao ver a imagem que ele mesmo tinha se deparado ao entrar naquela sala, vinte minutos atrás. Já previa o caos que estaria o ambiente, por isso aproveitou que tinha a cópia da chave da sala, que Naruto havia lhe concedido, para se programar e chegar um pouco mais cedo. Konohamaru queria evitar, o máximo possível, que os dois professores discutissem e que o clima hostil se amenizassem entre ambos. Afinal, querendo ou não, eles irão conviver e trabalhar juntos pelo próximo ano, então não queria que o Uchiha construísse uma imagem negativa de Naruto. – Eu cheguei um pouco mais cedo, mas acho que o professor Uzumaki já está a caminho. – Soltou um pequeno riso sem jeito, olhando rapidamente o relógio de parede antes de focar seu olhar nas canecas que lavava.
Sasuke entrou na sala, indiferente, e numa rápida e superficial análise, logo percebeu que o cômodo só se assemelhava ao seu externamente, pois a decoração desconexa da sala era em muito diferente da composição discreta e simplista da sua. A própria mobília era distinta, pois ao invés de uma típica mesa retangular, o centro da sala era ocupado por uma mesa redonda, com quatro cadeiras ao redor. O balcão que servia como uma minicozinha era o mesmo, nas paredes, entretanto, identificava mais diferenças: em uma delas havia um extenso mural que trazia algumas fotografias, papeis, post-it e lembretes diversos, sem qualquer padrão de organização, as outras tinham alguns quadros de pinturas no estilo renascentista, uma, inclusive, de uma balança, simbologia principal do Direito. Sem muito interesse em explorar com mais detalhes o ambiente, Sasuke fechou a porta atrás de si e se direcionou até a mesa, deixando sobre ela sua pasta.
– Como alguém consegue se atrasar para a própria reunião? – Retoricamente, Sasuke questionou e retirou seu notebook da pasta. Naruto havia lhe convocado para uma reunião para discutir alguns aspectos da disciplina, que agora era da responsabilidade dos dois, e sobre o trabalho de Konohamaru, também de coordenação conjunta. Antes de sentar-se, porém, o Uchiha foi até a cafeteira, procurando se servir da bebida energética, até perceber que esta estava vazia.
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Diké
RomanceEntre os gregos antigos, recorriam ao culto da deusa Diké aqueles que clamavam pela Justiça, sabendo que a divindade impiedosa não pouparia os corações nefastos e traiçoeiros. A musa tornou-se então o símbolo mor daqueles que em seu ofício lutam pel...