Date trap

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Depois de hoje, Konohamaru talvez incluísse um lembrete na sua agenda: ser pontual. E por pontual, ele queria dizer cumprir seus compromissos no exato horário marcado, e não chegar em todos os lugares com exagerada antecedência, como era de seu costume. Possivelmente, os anos que passara com Naruto – e agora, com a inclusão Sasuke – tivessem feito ele sempre se prevenir com suas ocupações, deixando o máximo de coisas prontas antes mesmo delas serem requisitadas. Essa era a forma que ele conseguia acompanhar tudo sem ficar para trás, e funcionava, na grande maioria das vezes. Entretanto, a depender da situação, esse costume lhe rendia alguns constrangimentos. E era assim, constrangido, que Konohamaru mantinha um sorriso amarelado para as pessoas que ainda arrumavam a sala de audiência, faltando cerca de quarenta minutos para a sessão ser iniciada.

Alguns rostos ali já eram de certa forma familiares para o jovem bolsista, mas os olhares ladinos que recebia o faziam pensar se aquelas pessoas não estavam desconfiando que ele era um stalker, ou algo parecido. Porém ele apenas se manteve quieto e em silêncio em seu lugar, enquanto aguardava a sala ser preenchida aos poucos, tanto pelos que vinham assistir à sessão, como ele, mas também pelo extenso corpo de profissionais envolvidos na audiência. Naruto não mais o acompanharia naqueles momentos, como da última vez. Sabia que não havia brechas para encaixar isso na agenda do professor, tampouco ele cogitava que Sasuke fizesse companhia. Dessa forma, iria dar prosseguimento sozinho no acompanhamento das audiências, se esforçando para prestar atenção em todos os detalhes envolvidos no campo prático da advocacia. Não queria decepcionar seus orientadores, nem dar menos do que o seu melhor nisso.

Konohamaru já tinha certo conhecimento do caso que iria desenrolar no tribunal em poucos minutos, tanto pelo que conseguiu ler sobre, quanto pelas reportagens que assistira na televisão, afinal, o ocorrido ganhou certa repercussão. Há cerca de duas semanas, o filho do dono de uma empresa de jogos digitais havia sido assassinado por um homem desconhecido, as evidências coletadas deixavam poucas dúvidas sobre o culpado, mas até o momento não havia uma explicação para o crime, nada para confirmar quais as motivações que levaram o réu a cometer o assassinato de um jovem de 23 anos.

Quando a mesa da acusação começou a ser composta, Konohamaru levou discretamente seu olhar até a figura robusta do homem que se sentava abatido em uma das cadeiras, os fios castanhos alinhados para trás e o olhar ferino perdido em algum ponto a sua frente. Pelo que lembrava, o pai da vítima se chamava Inuzuka Gaku, o CEO da empresa Ninken, relativamente nova, mas que projetava um futuro brilhante e ganhava cada vez mais espaço no mercado de games. Aparentemente, o cérebro criativo da empresa era seu filho, Inuzuka Koji, o grande prodígio responsável por ter desenvolvido os jogos que mais fizeram sucesso entre o público, e que foi fatalmente a grande vítima do crime que estava prestes a ser julgado.

Minutos depois, as cadeiras de madeira destinadas ao público já estavam em boa medida ocupadas pelas pessoas que vieram assistir a audiência, mas naquele momento Konohamaru estava mais ocupado em prestar atenção na movimentação a sua frente, do que em reparar nas pessoas ao seu redor. Não demorou muito para que a juíza entrasse, tomasse seu lugar na suntuosa mesa no centro da sala de audiência e abrisse a sessão, dando início a toda a ritualística e juramento dos civis que iriam compor o júri.

Quando a voz firme da juíza apresentou o caso e convocou a entrada do réu, Konohamaru observou uma figura esguia ser escoltada por dois policiais, que guiavam o corpo magro até a mesa ocupada pela defesa. O bolsista não conseguia acreditar no que lera sobre a idade do homem, pois vendo-o pessoalmente, o julgaria muito mais velho do que os dígitos que foram divulgados nas notícias. Mas a surpresa logo se esvaiu, pois concluiu que aquele estado envelheceria qualquer pessoa: peso significativamente abaixo do normal para sua estatura, pele pálida, olheiras profundas e um confuso emaranhado de cabelos brancos com alguns fios azulados. Os lábios ressecados eram massacrados pelos próprios dentes pontiagudos, em mordidas intermináveis, e Konohamaru, mesmo com alguns metros de distância, podia observar a camada fina de suor que começava a cobrir o rosto alheio. O semblante desorientado, o olhar absorto e os ombros caídos pareciam um sinal de que ele poderia desmaiar a qualquer momento, como se estivesse passando mal. O jovem desviou o foco do réu apenas para abaixar o rosto e conferir suas anotações na pequena agenda que tinha em mãos. Procurou o nome do homem, e assim que encontrou, voltou sua atenção para ele. Se chamava Hozuki Suigetsu.

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