O centro de uma metrópole vive numa constante competição, ruas, avenidas e prédios duelam entre si para ver o que consegue chamar mais a atenção dos milhões de transeuntes apressados que passam por ali todos os dias. Qual rua tem a melhor estética visual? Qual estabelecimento é o mais chamativo? Em qual avenida o trânsito flui melhor? Ou, ainda, qual rua consegue brilhar mais à noite? Dentre todas as perguntas e respostas que podem surgir pelos diferentes pontos de vista, uma opinião era quase unânime entre todos os cidadãos que conheciam a região: naquela avenida específica, o prédio que chamava mais a atenção era, sem dúvidas o do Tribunal.
Era o maior da cidade; com seus cinco andares, o prédio era certamente imponente, contrastava com a modernidade dos demais prédios e outdoors iluminados e coloridos; suas grandes colunas na fachada quase proporcionavam uma viagem no tempo, de volta à Antiguidade. A presença de elementos da arquitetura grega era indiscutível, mas o deslumbre maior ficava por conta da união entre diferentes elementos, como os minuciosos e extravagantes detalhes em todos os componentes externos, típicos da arquitetura barroca, a grandiosidade das arquivoltas na entrada principal, do estilo românico, e o frontão triangular no topo do prédio, que no centro trazia uma balança em equilíbrio esculpida, um dos símbolo da justiça.
Entretanto, a beleza do prédio não conseguiu seduzir nem por alguns segundos os dois homens que entraram ali às pressas. Oras, os dois já sabiam de cor cada pequeno detalhe daquele edifício, talvez fossem até capazes de desenhar uma planta baixa do prédio. Mas havia um outro motivo para Uchiha Sasuke estar caminhando a passos rápidos e furiosos, enquanto seu irmão mais velho tentava acompanhar seu ritmo, logo atrás de si.
— Otouto! – Itachi usava o tom mais alto que o ambiente lhe permita utilizar, chamando Sasuke de maneira repreensiva enquanto tentava alcançá-lo. Mentalmente, prometia a si mesmo que iria procurar uma academia ou praticar qualquer atividade física que fosse, pois sabia que em seus plenos 34 anos não deveria estar tão ofegante daquele jeito, só por uma caminhada rápida. Mas ele não estava preparado para uma espécie de corrida matinal daquelas! – O que você pensa que vai fazer? Sasuke, isso não é de bom tom!
O Uchiha mais novo revirou os olhos, já estava chegando na fase do irmão chamá-lo pelo nome e apelar para suas frases clichês que professoras de primário usam para tentar educar crianças teimosas. Sasuke só diminuiu o ritmo de seus passos quando teve de parar e esperar alguns segundos para elevador abrir, e aguardou mais um instante para que as pessoas saíssem da cabine antes de entrar na mesma. Revirou os olhos escuros mais uma vez quando viu seu irmão conseguir chegar a tempo, antes que as portas fechassem, e observou ele apoiar suas costas uma das laterais do cubículo e ofegar mais forte do que deveria, dando ao seu corpo todo o oxigênio que ele exigia pelo desgaste físico.
— Você tem quantos anos, oitenta? – Mesmo ironizando o estado do irmão, a expressão e o tom irritado não faziam aquilo parecer uma brincadeira, mas uma bronca. Antes que o outro pudesse falar alguma coisa, Sasuke apertou um dos botões do painel, indicando o último andar, onde ele sabia que ocorriam as audiências. Itachi esperou seu ritmo respiratório estabilizar para poder responder.
— E você tem cinco!? Pretende fazer o que, exatamente? Interromper a audiência porque não foi avisado!?
Sim.
— Não. – Sabia que se não negasse, Itachi o manteria preso dentro daquele elevador até ter a certeza que a audiência já tinha terminado. Além disso, mesmo que quisesse, e muito, interromper a sessão, sabia que não poderia. E isso o deixava ainda mais irritado com o Uzumaki.
Itachi iria fazer uma pequena viagem durante o final de semana, mas não queria deixar de ver o irmão. Em função disso, transformaram o costumeiro almoço de sábado num café da manhã de quinta-feira, e tudo estava indo como de costume até o mais velho comentar o quão criativa e proveitosa era a didática de Naruto ao fazer todos os alunos participarem de um de seus casos e levá-los para assistir sua audiência. Seria apenas um comentário leviano que Sasuke ignoraria, se não se tratasse da sua disciplina e dos seus alunos sendo levados para um tribunal por outro professor que não tinha sequer lhe avisado nada. Sim, Sasuke certamente teria ignorado, se não tivesse ficado sabendo de tudo na exata hora em que a audiência estava ocorrendo, e se a cafeteria onde estava com seu irmão não fosse praticamente ao lado do tribunal.
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Diké
RomanceEntre os gregos antigos, recorriam ao culto da deusa Diké aqueles que clamavam pela Justiça, sabendo que a divindade impiedosa não pouparia os corações nefastos e traiçoeiros. A musa tornou-se então o símbolo mor daqueles que em seu ofício lutam pel...