Capítulo 51

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Melissa

O Emanuel parecia muito apreensivo após a ligação da empresa do pai, eu fiquei sem graça de perguntar o motivo para não parecer curiosa demais, mas demonstrei certo afeto para dizer que eu estava ali ao seu lado independente do que estivesse acontecendo. Ele correu no banho e se arrumou em tempo record, e eu percebi que nunca o tinha visto tão sério.

—Eu não sei quanto tempo vou demorar, mas não se preocupe, ok? Vou tentar te mandar mensagem caso as coisas compliquem ainda mais do que eu estou imaginando. Pode pedir comida com o cartão que deixei com você. —ele diz andando de um lado para o outro tenso e procurando por alguma coisa.

—Fique bem, ok? Vou ficar te esperando e torcendo para que tudo dê certo. —me aproximo dele quando ele enfim encontra uma pasta e sem perceber selo os nossos lábios, ele retribui rapidamente, pois ele já estava atrasado e com uma bomba para resolver.

—Não vejo a hora de estar de volta. —ele suspira e sai pela porta me deixando completamente preocupada.

Imagino o quanto ele tem uma relação difícil com o pai e o quanto deve se cobrar a todo momento para mostrar ser competente e capaz de lidar com as questões da empresa, mesmo não gostando da área. O meu pai até hoje é assim, faz o possível e o impossível para agradar o meu avô, mas nunca parece que é o suficiente, uma vez já foi parar na emergência por ter atingido um pico de estresse, mas diferente de Emanuel, ele nasceu para os negócios e ama de paixão o que faz. Através dessa lembrança percebi que sinto a falta dele mesmo com todo esse problema de omissão de fatos que preciso saber, do quanto ele tenta me proteger de tudo achando que é o melhor para mim, do quanto se preocupa com a falta que a minha mãe nos faz e com a cobrança das pessoas com a nossa semelhança física...eu o amo e mesmo com toda raiva do mundo ele é o meu melhor amigo, o único que sabe o quanto sou vulnerável por tentar ao máximo não parecer com a minha mãe, por não me sentir capaz e digna, mas por consequência errar muito e não estar satisfeita.

Sinto uma força e um impulso dentro de mim, um desejo de parar de ficar de braços cruzados e com resquícios de luto em meu coração, sei lá, é diferente dos últimos dias que eu tentei achar e me convencer que eu estava pronta para enfrentar as coisas e seguir a minha vida. Agora me sinto mais capaz e talvez isso tenha relação com a vontade de querer me dar a oportunidade de viver algo com o Emanuel, a saudade da Manu e de meu pai, que embora com muitos problemas é a minha família. Óbvio que eu não vou ceder ao ponto de voltar a morar com ele e esquecer toda a minha decepção, mas sinto que tem uma forma de conviver neste momento com ele.

Organizo algumas coisas antes de sair e ir até a minha casa de surpresa, e já deixo um peito de frango descongelando para mais tarde. Resolvo ir de cara limpa mesmo, sem nenhum tipo de disfarce, da mesma forma que saí de casa naquele dia e esbarrei com o meu anjo da guarda. Respiro fundo algumas vezes para ter fôlego e seguir totalmente em frente. Faço a caminhada entre os blocos de forma rápida e quando me dou conta já estou na frente da porta de casa, e cheirinho do almoço invade o meu olfato extraordinariamente. Toco a campainha e prontamente o meu pai atende com a cara pálida de surpresa, completamente incrédulo com a minha presença. Antes de trocarmos qualquer palavra, a Manu que estava sentada em um sofá de frente para a porta corre até os meus braços ao me ver. Abraço-a fortemente e dou um giro com ela no ar, o que rende boas gargalhadas da nossa parte.

—Quanta saudade, meu amor! —digo agora em lágrimas diante da minha menina.

—Eu estou com muita saudade, eu achei que você tinha ido embora e que eu não te veria tão cedo ou nunca mais. —ela diz emocionada com a sinceridade de uma criança e o meu coração fica minúsculo.

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