Capítulo 8

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Comecei a perambular pelas ruas do bairro sem saber para onde eu iria seguir, enquanto isso, o meu pai me ligava de forma insistente, porém, eu não estava preparada para falar com ele e principalmente encontrá-lo, então, eu desliguei o meu celular e peguei um ônibus qualquer.
Minha cabeça doía e minhas lágrimas saiam carregadas de sentimentos de impotência, dor e sofrimento. Eu nunca estaria preparada para enfrentar as pessoas, principalmente com essa comparação tão vazia e sem fundamento. Elas não tem noção como isso fere a minha existência, pois além de eu ter que carregar o peso de  perder minha mãe, carrego o fardo de todos verem ela em mim.
Eu sempre me orgulhei de se parecer fisicamente com ela e eu sabia que minha mãe também.

Mamãe, você ainda vai me amar quando a Manu nascer?
—Mas é claro, meu amor! O coração da mamãe é gigante.
—Ela também se parecerá muito com a senhora?
Talvez  não quanto você  se  parece, pois o papai teria ciúmes. Mas bem que a mamãe ficaria muito feliz se ela se parecesse muito com nós duas.
Eu gosto de ser igual à mamãe.
—Eu também gosto de ser igual a você.

E desde a sua morte, eu tentava de tudo para  ficar o  mais distante da imagem dela, mas isso não era o suficiente, jamais seria. Como eu queria  que ela estivesse comigo agora, como eu queria estar deitada em seu colo como todas as manhãs antes de ir para a escola eu fazia, como eu  queria ouvir da sua boca que se orgulhava de  mim  mesmo com todas as minhas atitudes erradas e como eu queria dizer  pelo menos mais uma vez o quanto eu a amava.
Depois  de muito andar e ficar cerca de 2  horas sem destino, eu encontrei uma igreja aberta e um fio de memória veio a tona, era a igreja que minha mãe frequentava nos fins de semana, então resolvi entrar. Não lembro da última vez que estive em uma igreja  e muito menos a última vez que rezei, eu apenas sei que me revoltei com Deus na noite em que minha mãe havia falecido, porém, nesse momento eu só tinha vontade de chorar  aos seus pés e implorar  que a minha vida voltasse ao normal.
Uma mistura de arrependimento, perdão, dor e saudade invadiam meu peito e eu não parava de soluçar, eu não sei quanto tempo eu já estava por ali, mas foi tempo suficiente para reunir algumas pessoas para uma espécie de oração, eu até hesitei em me juntar ao grupo que se formou, porém, resolvi deixar aquele lugar e não preocupar ainda mais o meu pai.
Quando eu me aproximava da porta,  uma mão tocou meu braço de leve e eu  me  virei para ver de quem se tratava.
—Eu não sabia que Melissa Watson  frequentava Igreja.
—Eu não sabia que você estava me seguindo.
—Eu jamais seguiria alguém. Tem muitas  coisas sobre mim que você não sabe e estar aqui  é uma delas.
—Desculpe-me insinuar uma coisas dessas, eu não estou muito bem.
—Você  quer conversar?
—Eu só quero chegar em casa e chorar quietinha no meu quarto.
—Eu te levo.
Eu então assenti e Luan me direcionou até seu carro, o qual era bem caro para alguém que era bolsista.  Talvez você esteja se perguntando o mesmo que eu: O que ele estava fazendo nesse lugar? Será que era perseguição, coincidência ou destino? Prefiro a última.
—Você pode confiar em mim, minha boca é um túmulo. Pode desabafar.
—Você se assustaria.
—Jamais.
Eu então resumo os principais pontos da minha história e vejo ele direcionar sua atenção a mim e a estrada ao mesmo tempo, sempre com gestos de compreensão e olhares de consolo. Não demoramos quase nada até estacionarmos a frente  do condomínio de prédios, onde eu morava, mas não soltei do carro,  porque eu estava aos prantos literalmente.
—Princesa, não chora—diz enxugando minhas lágrimas—eu estou aqui.
—É tão difícil — sussurro e ele aproxima seu corpo do meu.
—Confio que em breve  tudo ficará bem e essas lágrimas de dor darão lugar a lágrimas de felicidade —ele começa a beijar minhas lágrimas e eu posso sentir o meu rosto queimar e minha pele corar apenas pela sua  aproximação.
Aos poucos nossas bocas se tornaram próximas o suficiente para o meu coração acelerar descontroladamente e meu olhar se direcionar fixamente em seus olhos e  involuntariamente os nossos lábios se tocaram, dando lugar a um beijo calmo, aconchegante e de tirar o fôlego.
—Perdão, eu não tive intenção  — diz interrompendo o beijo para a minha infelicidade.
—Eu gostei, não se culpe! Agora eu preciso subir. Até amanhã!! —digo batendo a porta e não dando espaço para ouvir sua resposta.
Que beijo, que homem, que destino!
Eu segui o meu caminho imaginando o quanto o dia foi difícil e o quanto eu tive momentos mágicos ao lado do Luan, o quanto eu precisava de alguém tão protetor, carinhoso e perfeito comigo durante esse tempo, ao invés de noites  vazias, companhias  rasas e  atitudes banais...ele é quem eu  sonhava ter um dia ao meu lado, alguém que eu imaginava nunca existir...Droga, eu  estou apaixonada por um completo desconhecido.

—Filha, nunca mais faça isso comigo! Eu não posso perder  você também! —ele chorava como eu nunca vi antes assim que eu entrei pela porta.
—Desculpa, mas eu precisava de um momento meu. Eu não tenho sangue frio para suportar isso.
—Eu sei, meu amor! A gente sabe o que nós três passamos juntos e  principalmente o que você passa por se parecer tanto com a Mia.
—Pai, você sofre quando olha para mim ao se lembrar da mamãe?
—Minha filha, você é o meu orgulho! Eu jamais sentiria tristeza em te olhar  e me lembrar da mulher que mais amei em toda minha vida. Lógico que no início foi um pouco difícil de eu acostumar com a ideia de que me lembraria dela sempre que eu te olhasse, mas eu percebi que lembrava dela quando eu olhava para a Manu, assim como eu me lembraria mesmo se vocês não se parecessem com ela, porque qualquer filho nosso traria a  consequência do nosso amor. Eu me recordo dela imaginando como  ela estaria feliz com a família que a gente construiu diante  do  altar, eu me recordo dela por ter a certeza  do quanto ela se orgulharia de vocês duas, principalmente de ti que além de enfrentar tudo e todos, se tornou a nossa chefe  de  família tão nova. Porém, eu me recordo principalmente principalmente por ter me deixado vocês como a melhor recordação que eu poderia ter dela nessa vida. —a gente chorava juntos a cada frase mencionada.
—Obrigada, pai! Não sei o que seria de minha vida sem você...
—Muito menos eu! Eu te amo!
—Eu também te amo!

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