Capítulo 38

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Melissa

Subo as escadas em direção ao meu quarto com as pernas bambas, mas com a ânsia de chegar até o chuveiro o mais rápido possível para tentar me libertar de todas as coisas ruins que vivi durante o dia de hoje. Tirei o salto alto que já estava machucando o meu pé e joguei de qualquer jeito pelo quarto, peguei as roupas limpas e leves que estavam em cima da cama que certamente a Carmen deixou preparadas para mim, e segui o meu caminho até o banheiro.

Olhei para o espelho e vi o quanto estou frágil, ou melhor, dilacerada com todos esses acontecimentos. Os meus olhos estão completamente inchados, estou com uma olheira quase no queixo e um semblante de velório, aliás, uma parte muito grande de mim morreu hoje. Solto o meu cabelo e pego o meu celular com todo cuidado possível para não ver nada que pudesse piorar ainda mais ou meu estado e coloco uma playlist aleatória e começa a tocar logo Say Something enquanto eu colocava o chuveiro no morno.

Tentei erguer a minha cabeça, mas a cada vez que eu ouvia: "Say something, I'm giving up on you (Diga algo, eu estou desistindo de você)", as minhas pernas ficavam mais bambas e eu comecei a tremer muito, então precisei sentar no box para não cair. Deixei a água cair sobre mim, tentava respirar fundo para me acalmar e não passar mal, mas tudo foi em vão, acabei vomitando muito ali mesmo algumas vezes e não tinha mais força alguma para levantar e muito menos para pedir ajuda a alguém. Não sei dizer por quanto tempo eu fiquei por ali sem fôlego e forças, ouso a dizer que acho que desmaiei por alguns minutos, mas agora me sentia um pouco melhor para me levantar e reiniciar a tentativa de lavar a minha alma e assim fiz.

Por alguns poucos instantes, eu consegui esquecer de tudo o que vivenciei e aos poucos fui sentindo-me um pouco melhor, até consegui rezar e acreditar que o meu pesadelo teria fim. Então, sai do banho decidida a não ser uma derrotada e enfrentar essa situação assim como todas que fui obrigada a enfrentar. Vesti-me, passei uma maquiagem para esconder as minhas marcas de sofrimento e fui para o meu quarto aguardar o meu pai para uma longa conversa. Eu só queria poder lembrar de tudo o que aconteceu naquela noite, mas eu não conseguia, e a única coisa que passava pela minha cabeça era que o Luan me drogou e abusou de mim, mas por qual motivo ele teria feito isso comigo?

Eu não conseguia entender e nem criar nenhuma hipótese que justificasse tamanha covardia, cheguei a pegar uma agenda e tentar ligar os pontos soltos que eu lembrava e que me disseram sobre aquele dia, mas nada, absolutamente nada fazia sentido para mim, então desisti. A minha mente passou a pensar na ideia de assistir o tal vídeo para ver se eu conseguia me recordar dos fatos, mas eu sentia muito medo de isso piorar ainda mais as coisas, principalmente porque nesse momento eu estou sozinha. Admito que estou muito curiosa, mas sou incapaz de me arriscar assim, ainda não estou pronta para isso.

Fico olhando para o teto esperando o meu pai me procurar, ele deve estar conversando bastante com as meninas sobre hoje e agradecendo-as, e eu não posso nem ligar a televisão e nem muito menos usar o celular, pois eu e o Luan sem sombra de dúvidas somos o assunto do momento, e eu o odeio ainda mais por isso. Como ele teve coragem? Ele esperou eu o amar e ter o nosso relacionamento exposto na mídia para atrair ainda mais prejuízos na minha vida, mas eu não vou ficar me vitimizando, eu vou sair dessa muito mais forte do que eu mesmo acho que sou capaz, eu só não sei como.

Depois de duas horas desde que eu cheguei em casa, o meu pai finalmente vai me procurar.

—Desculpe a demora, minha filha! Eu queria deixar você um pouco sozinha e acabei conversando mais do que eu havia planejado. —ele fala preocupado indo se sentar perto de mim.

—A sua sorte é que eu me recuperei sozinha de um piripaque. —comento não deixando passar a oportunidade de dizer que ele mesmo não querendo, me colocou em perigo.

—Como foi isso? Perdão, nem passou pela minha cabeça que poderia acontecer isso, mesmo sendo óbvio. —fala tenso coçando a cabeça.

—Como você está vendo, eu estou bem, foi só um pequeno susto. Eu vomitei e acho que desmaiei por um tempo, fiquei fraca, mas consegui me restabelecer. —digo omitindo pequenas informações para não preocupá-lo ainda mais.

—Fico mais tranquilo, aliás, você está linda. —ele diz com um sorrisinho e acaba arrancando um sorrisinho tímido meu, acho que foi o único do meu dia, só ele mesmo para me ajudar.

—Eu precisava mesmo de você. —desabafo engolindo o choro.

—Eu sei disso e por isso estou aqui agora. Passei o dia inteirinho pensando em estar logo ao seu lado, mas por você mesma e para o seu bem, eu fui obrigado a ocupar o meu tempo resolvendo essa bomba. Você está pronta para a nossa conversa? —ele fala tudo muito sério e eu temo o que vem pela frente.

—Pronta, eu nunca irei estar, mas podemos conversar agora mesmo. —digo do fundo do meu coração.

—Por onde começamos? Você quer começar? Quer me perguntar alguma coisa? —ele diz completamente sem jeito de como chegar no foco da conversa, até porque é muito constrangedor para um pai, principalmente viúvo, chegar nesse assunto.

—Sei que o tema da nossa conversa é delicado, constrangedor e sério, mas eu vou ser muito direta ao ponto. Você já deu algum motivo para o Luan querer se vingar de você? Seja muito sincero, se isso aconteceu no mesmo dia em que nos conhecemos e de forma aparentemente muito programada, eu não vejo outra origem do problema.

—Sim. —ele responde pálido depois de um longo silêncio, completamente surpreso por ter sido essa a minha primeira pergunta e eu me assusto, mesmo já desconfiando que essa seria a resposta. O que o meu pai aprontou? Estou mais uma vez exposta ao medo do que me espera e sentindo que não sei nem ¼ dessa história toda, e espero que o meu pai seja muito sincero comigo e não me decepcione ainda mais. 


Adianto que  lá vem muita bomba! Fiquem ligados(as)!

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Até o próximo!

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