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          Os meses foram passando e não houve um dia que o Hokage deixasse de ver a esposa e conversar com ela sobre o que havia acontecido durante as horas que passou longe, a paz reinava e tudo parecia calmo, ele gostaria que Akemi estivesse apta para aproveitar aquilo, sentir na pele como era a paz depois de tanto tempo em guerra, depois de tantas perdas. Houve um dia em que Shizune avisou que não conseguiriam mais manter a gravidez por muito tempo e por isso haviam agendado o parto para pouco antes do final do mês.
          O fatídico dia havia chego, e Kakashi sabia o que viria com ele, sabia que ao mesmo tempo em que uma vida viria ao mundo, outra seria levada e aquilo o machucava, mais do que todas as feridas que teve durante todas as suas batalhas somadas, talvez estivesse exagerando ao pensar aquilo mas era o que sentia. O ex-membro da ANBU respirou de forma profunda antes de entrar na sala onde estavam fazendo o procedimento, o coração batendo apertado no peito, ao ouvir o choro de um bebê ecoar pelo ambiente seus olhos foram tomados por lágrimas, o médico responsável levou a incubadora para perto de Kakashi, informando o gênero do bebê antes de levá-lo a sala onde ficaria.

— Akemi, é uma menina, assim como eu disse que seria... — Ele soltou uma risada pelo nariz, observando a esposa que agora poderia descansar em paz. — Por toda essa situação que rondou ela, acho que Sayuri vai combinar, eu dei uma pesquisada em nomes e ela é um pequeno lírio que nasceu antes da hora, então... — Falou de forma baixa. — Hatake Sayuri é um nome bonito no fim das contas.

          O mais velho depositou um beijo sobre a testa de Akemi, permitindo que as lágrimas represadas rolassem por seu rosto, sussurrou que a amava e que iria amá-la enquanto fosse possível, mesmo que ela não o ouvisse precisava dizer aquilo, caso contrário se sentiria ainda mais culpado, quando terminou de se despedir da esposa fora levado para a salinha onde sua garotinha ficaria até ser liberada para ir para casa, ficou observando-a de longe, o cabelo cinza como o seu, será que a garota teria os olhos parecidos com os da mãe, assim como a habilidade sensorial? Apenas o tempo poderia responder essas perguntas.
          No dia seguinte fora realizado o funeral de Akemi, até o céu se encontrava chorando naquele fim de tarde, como se a morte dela tivesse mudado o curso de tudo, o que para Kakashi era uma verdade, a vida dele realmente mudara de curso, mas quanto isso havia afetado as pessoas que a conheciam? Quantas pessoas teriam suas vidas tiradas da rota original por causa dela? Era justo tantas vidas sofrerem?
          Kakashi precisou manter a compostura durante toda a cerimônia, sendo enchido por palavras e até mesmo toques de conforto, como se ele fosse o único ali que precisava daquilo, ele não era a única pessoa deixada com um buraco no peito. Quando o funeral acabou Shino seguiu Kakashi a distância, não tinha conversado com ele enquanto estavam lá e sabia, pela forma como o mais velho estava agindo, que ele estava se culpando por tudo.

— Vai ficar me seguindo por muito tempo? — Kakashi parou de andar de forma abrupta, se virando em direção ao mais novo.

— Eu sei que nós dois não somos muito próximos... — Shino parou ao lado dele, suspirando de forma pesada, havia mesmo se apegado a Akemi, ela era como a irmã mais velha que ele nunca teve. — Você não precisa represar a dor que 'tá sentindo agora, Kakashi-sensei. — A voz dele falhou, a guerra havia levado pessoas importantes para ele também, por isso sabia como o mais velho se sentia. — Colocar tudo pra fora vai te ajudar de alguma forma. — Colocou a mão sobre o ombro dele, dando um sorriso fraco. — Não fique guardando tudo.

— Obrigado, Shino. — Ele afirmou de leve com a cabeça e então voltou a caminhar, deixando o garoto para trás, era como se estivesse dizendo que queria ficar sozinho.

          Kakashi parou em frente a entrada da casa, olhando para o céu e então soltando um grito de dor acompanhado por lágrimas enquanto seus joelhos fraquejavam e o levavam ao chão, ele se apoiou ali, apertando os dedos da mão esquerda contra a terra encharcada enquanto dava socos com a mão direita, a respiração ficando cada vez mais curta à medida que as lágrimas aumentavam sua intensidade, queria ter forças e enfrentar aquela situação, mas tudo o que conseguia fazer era se sentir perdido, com raiva e magoado por ter mais uma pessoa arrancada de sua vida por causa da guerra, ficou ali até sentir seus braços cederem e seu corpo ser jogado contra o chão, onde se virou de barriga para cima sentindo a chuva cair sobre seu rosto enquanto os momentos ao lado de Akemi passavam diante de seus olhos, ergueu a mão esquerda, onde estava a aliança dourada, em frente aos seus olhos, observando-a por um tempo, foi tirado do transe por uma voz que reconheceria a qualquer momento.

— Você vai ficar doente se continuar deitado aí, Kakashi... — A voz pareceu mais próxima do que havia imaginado.

          Kakashi apenas ficou em silêncio, não tinha forças para falar qualquer coisa, então sentiu seu corpo ser erguido e levado em direção a porta da casa. Ele abriu a porta depois de resmungar que não precisava ser carregado, então foi em direção ao quarto, aquele que ele só entrava para pegar uma nova peça de roupa porque ainda não conseguia dormir ali sozinho, depois foi ao banheiro onde tomou uma ducha rápida, indo para a cozinha e preparando um chá para ele e para o visitante imprevisto, voltou a sala e colocou a xícara com o chá em frente a pessoa, então se sentando ao lado dela.

— Você precisa se recompor... — Falou, segurando os ombros do Hokage sentado ao seu lado e o balançando um pouco. — Tem uma filha e uma vila pra cuidar agora, e ambos vão precisar de você como nunca. — O soltou e então tomou um pequeno gole do chá que fora servido antes. — Eu não vou ser hipócrita e dizer que vai passar, porque o vazio não vai sumir, mas com o tempo vai ficar mais... Suportável.

          O visitante deu de ombros e Kakashi engoliu a seco, mordendo o lábio inferior por dentro com força enquanto seus olhos eram tomados por lágrimas mais uma vez, sabia que precisava reunir toda a força que ainda restava dentro de si, mas naquele momento parecia inútil. Acabou desviando seus olhos para a porta, vendo a chuva cair do lado de fora e suspirando pesado, quantos dias chuvosos como aquele havia passado na companhia da esposa? Provavelmente conseguiria contar nos dedos de apenas uma mão já que haviam se casado alguns meses antes da eclosão da guerra, era sortudo por conseguir aproveitar alguns momentos ao lado dela? Ou aquilo iria matá-lo pouco a pouco a cada dia que passasse? Balançou a cabeça algumas vezes, afastando os pensamentos e então lançando uma pergunta em um fio de voz.

— Como foi pra você? Quando o Dan morreu...

— Foi como se tivessem arrancado uma parte de mim bem diante dos meus olhos e eu não pude fazer nada, mesmo depois de tentar tudo o que estava ao meu alcance.

— Acha mesmo que fica mais suportável depois?

— Você meio que se acostuma ao novo ritmo... — Suspirou de forma pesada, também olhando para a chuva pela porta que estava aberta. — Vão haver momentos onde você vai querer se enfiar no seu mundinho e ficar lá até passar toda a dor, mas isso faz parte. — Terminou de beber o chá e então apoiou uma das mãos sobre um dos ombros de Kakashi, se levantando pouco depois. — Eu espero que consiga passar por isso, e, se precisar de ajuda com o bebê você pode me chamar...

— Obrigado, de qualquer forma. — Kakashi sorriu de forma mínima, se levantando e levando Tsunade até a porta, se despedindo dela.

          Ele não fechou a porta como costumava fazer, pouco se importava, e então se jogou no sofá, era ali que costumava dormir todas as noites, quando ia para casa, mesmo que na manhã seguinte sempre acordasse com pontadas de dor espalhadas pelo corpo por causa do desconforto. Seria capaz de voltar a dormir em sua própria cama? Não era como se tivesse medo que Akemi voltasse para assombrá-lo, só era desconfortável não ter a esposa ali, até se achava meio bobo por pensar daquela forma.
          Mais algumas semanas haviam passado e Kakashi decidiu ir ao cemitério, o tom laranja tomava conta de boa parte do céu, havia passado em todos os túmulos que precisava antes de parar em frente ao último, vendo uma senhora próxima a lápide.

— Você deixou a minha menininha morrer! — A senhora chorava copiosamente, ajoelhada próxima ao túmulo de Akemi quando viu o homem se aproximar. — Como tem coragem de vir aqui depois disso?

— Eu... — Kakashi respirou fundo, tentando não chorar diante daquela cena, sentia-se culpado por não ter conseguido defender Akemi do ataque de Obito naquela noite. Acabou por cair de joelhos enquanto mordia o lábio inferior com força, sentindo seus olhos arderem por causa das lágrimas se formando.

          Era a primeira vez que ia ao túmulo de Akemi depois do funeral e da ida para casa de Sayuri, ainda não tinha forças suficientes para encarar o nome dela em um bloco daqueles, seu corpo vacilava sempre que pensava nela, por mais rápido que fosse, era como se a morte dela tivesse levado toda a sua força, como se ele agora não passasse de um ser humano comum.

— Eu prometo que vou cuidar bem do nosso floquinho de neve... — Ele passou seus dedos pelas inscrições que tinham ali, a mãe de Akemi já havia ido embora, achava que a relação com ela estava progredindo. Antes da garota morrer ela não o olhava mais com desdém, mas agora estava ainda pior, não era mais desdém, parecia ser puro ódio e além disso nunca havia ido visitar a neta, nem mesmo quando ainda estava no hospital.

[...]

ANBU LOVERSOnde histórias criam vida. Descubra agora