Cap 1 - Mentira tem perna curta

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POV John

  Naquele momento eu tive a plena certeza de que meu casamento chegara ao fim. Eu não queria acreditar que o que eu tinha acabado de descobrir era verdade.

  Eu e Ellen, desde quando nos conhecemos, éramos muito unidos, nossa conexão ia além do que eu podia imaginar. Mas James, meu pai, nunca nem se quer confiou em Ellen, lembro-me bem que, no dia do meu casamento, acabei discutindo feito um adolescente mimado com o papai, o tapa que levei ficou gravado em minha memória até hoje...

  Deixei por algumas frações de segundos, as lágrimas escaparem e a profunda sensação de tristeza tomar conta de mim. Não era fácil eu chorar, muito menos mostrar fraqueza diante de várias situações, quando isso ocorria, era porque atingi o ápice dos meus sentimentos.

  Na minha mão esquerda, eu segurava um documento sobre um teste de D.N.A feito alguns meses depois que Gabriel, meu filho mais velho, nasceu. Anexado a esse teste, havia a cópia de um documento pessoal meu, de Ellen e um de Merlin, meu melhor amigo. Vocês já devem imaginar o resto... Gabe não era meu filho biológico...

  Desisti daqueles papéis e os guardei na caixa que estavam e devolvi ao guarda-roupas. Passei a mão pelo rosto e sai do quarto com passos largos, a tristeza já havia dado lugar à irritação.

  - Papai? – Me sobressaltei ao ouvir a voz de Ivy. Olhei para trás e a vi na porta de seu quarto. Ela ainda estava de pijama.

  - Por que ainda está de pijama? – Perguntei com um tom de voz cortante. Ivy recuou um pouco para trás.

  - Ainda são nove e meia...

  Chequei o relógio e realmente ainda eram nove e meia. Balancei a cabeça e respirei fundo. Seria errado da minha parte descontar minha raiva na minha filha. Virei os calcanhares e caminhei até Ivy. Segurei seu rosto e dei um beijo carinhoso em sua testa.

  - Eu não havia notado a hora... como você está filha?

  - Tô animada. Hoje é a inauguração do bazar da igreja. Quero muito participar... – Ivy parou de falar por alguns segundos e analisou meu rosto. – Você estava chorando?

  Aquela pergunta me pegou de surpresa. Apenas respirei fundo para não trazer aquele assunto à tona. Neguei com a cabeça.

  - Eu estava tomando banho, querida. Não se preocupe, estou bem. – Sorri para dar mais ênfase na minha mentira, Ivy pareceu satisfeita. – Já que está acordada, prepare algo para você e seus irmãos comerem. Tenho que resolver uma emergência na empresa.

  - Tá bem, pai. Você vai voltar para o almoço?

  - Não tenho hora pra voltar hoje.

  Dei mais um beijo na testa de Ivy e caminhei para o meu carro.

  Dirigi por mais ou menos 40 minutos e parei no acostamento. Deitei a cabeça no volante do carro e deixei as lágrimas caírem livremente pelo meu rosto. Chorei tanto que cheguei a soluçar. Em meio a tanto desespero, me surgiu a ideia de ir na casa dos meus pais. Eles não moravam longe. Apertei os olhos e respirei fundo antes de voltar a dirigir. Olívia e James eram os únicos que poderiam me ajudar.

  Levei cerca de uma hora para chegar na casa deles. Estacionei o carro vagarosamente. Suspirei e desci, fui caminhando devagar até a porta. Antes que eu pudesse tocar a campainha, ouvi o latido de Magnos, o cachorro da minha mãe. Ele farejou por debaixo da porta, em seguida pareceu estar pulando. Acho que ele reconheceu meu cheiro. Pude ouvir os passos largos de meu pai se aproximando.

  - John? – Papai abriu a porta e sorriu ao me ver, em seguida me deu um abraço demorado. Magnus não demorou para pular em mim e quase me derrubar. – Sai pra lá, Magnos! – Ordenou meu pai e o cachorro se afastou e sentou na calçada.

  - Oi, pai...

  - Você está com a cara péssima...

  - Não estou bem... preciso conversar.

  - Claro, entre. Sua mãe deve estar na cozinha.

  Assenti e entre na casa devagar. Senti uma onda de nostalgia invadir o ambiente. Meus pais nunca se mudaram, então, eu cresci nessa casa. A decoração interior estava diferente. Os móveis estavam mais claros e a casa mais arejada. De certa forma, o ambiente me reconfortou.

  - John! – Mamãe apareceu com um pano de prato nos ombros e os braços cobertos de farinha de trigo. Não me importei em abraça-la assim mesmo.

  - Mamãe... senti sua falta – Falei. Olívia afagou meus cabelos e se afastou.

  - Você não parece bem, filho.

  Sorrio sem emoção. É incrível a forma como nossos pais nos conhece, de longe. Meus pais sempre foram muito atenciosos e superprotetores.

  - Aconteceu uma coisa... – Falei, a minha voz trêmula entregou que eu estava prestes a chorar.

  - Vamos lá na sala e assim poderemos conversar. – James falou e todos nós seguimos para a sala. Magnus apareceu também e pulou no meu colo. Respirei fundo antes de descarregar tudo o que eu estava sentindo.

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