Cap 28 - Amor ao próximo e sentimento de culpa

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POV Katherine

- O que custava vocês terem esperado um pouco mais?! – Perguntei irritada, enquanto tentava de alguma forma ter contato com Davi, mas infelizmente seu celular só dava na caixa postal. Respirei fundo tentando manter a calma e não surtar pela falta de responsabilidade das crianças.

- Eu é que não iria perder meu tempo esperando Davi – Disse Ethan, de forma grosseira. Meu sobrinho possuía um estilo bem "rebelde". Quase sempre se recusava a usar a farda da escola. Hoje preferiu vestir calça jeans larga e uma camisa xadrez, fora os all-stars sujos e o cabelo despenteado.

- Não é questão de perder tempo. Vocês sabem que Davi perdeu a memória e precisa de cuidado redobrado... ele precisa da paciência de vocês e não do desprezo, principalmente dos dois, Stephane e Ethan. Deveriam praticar o amor ao próximo, começando por quem vive com vocês...

- Mas não é só nós que estávamos lá não, tia. Que saco de ficar desviando as broncas só para alguns de nós... – Reclamou Stephane, cruzando os braços. Cerrei os olhos tentando imaginar de onde estavam vindo tantas malcriações por parte dos meus sobrinhos, apenas Anthony estava com a cabeça baixa. Derek por sua vez estava apenas me olhando.

- O que estou dizendo, vale para todos vocês... aliás, todos os adultos aqui já conversamos com vocês, mas parecem que vocês só aprendem quando as coisas ficam feias, não é?

- Quer saber, mamãe? Davi, apesar de estar tendo todos esses problemas, ele sabe muito bem o que está fazendo, até porque ele não é só um bebezinho que usa fraldas – Derek se levantou e olhou pra mim de forma irritada. – Não temos culpa dele ter sido um idiota e não ter nos esperado, não fomos contratados para sermos a babá dele! Ele é seu filho, então é sua responsabilidade!

Me surpreendi com as palavras dele, por impulso me aproximei do mesmo e lhe meti um tapa caprichado na boca. Derek me olhou surpreso e rapidamente seus olhos se encheram de lágrimas. Ele abaixou a cabeça e saiu caminhando, apressadamente, em direção às escadas.

- Derek! Volte aqui agora mesmo! Você vai ouvir eu falar assim como todos os outros – Avisei, mas meu filho me ignorou. Apertei os olhos e agachei para pegar meu chinelo. Todos os outros no sofá desviaram a atenção para outras coisas. – Não me faça ir atrás de você, rapazinho.

Meu filho se virou e me observou por alguns segundos, provavelmente averiguando se eu estava falando sério ou não. Quando avistou o chinelo em minhas mãos, rapidamente voltou para o seu lugar. Suspirei e voltei a falar.

- É bom que vocês torçam para Davi aparecer aqui antes de Steven, vocês sabem que ele não tem tanta paciência quanto eu.

- Vamos procurar, titia. – Anthony falou calmamente.

- Vamos? – Ethan parecia indignado.

- Sim, vamos... ele é nosso primo, Ethan, e também é seu melhor amigo, deveria estar tão preocupado quanto tia Kathy. Vamos dar uma olhada pelas redondezas da escola, quem sabe ele não está numa daquelas bibliotecas antigas que tem lá perto?

Anthony, apesar de ser o mais novo entre os primos ali, parecia ser o mais consciente. Soltei o ar dos pulmões, sentindo um alívio por ao menos um deles ter entendido o que eu havia dito.

Eles relutaram um pouco, mas não demoraram para ir procurar. Enquanto isso, eu enviei mensagens a alguns conhecidos. Caso passasse de 48hrs, aí sim eu deveria acionar a polícia.

POV Carl

Bati algumas vezes no quarto de Ivy, alguns segundos depois, ouvi sua voz permitindo minha entrada.

Minha sobrinha estava deitada na cama enquanto digitava algumas coisas no celular. Bethany estava junto com ela, mas estava distraída com alguns desenhos.

- Como você está, Ivy? – Perguntei, sentando na cadeira da escrivaninha, que estava fielmente organizada. Os livros de Ivy estavam enfileirados por matéria, as folhas organizadas em pastas e os livros empilhados por ordem de tamanho.

- Estou bem, tio... quer dizer, acho que estou bem. – Ela sorriu carinhosamente.

- Olha, querida... eu sinto muito pelo que aconteceu. A culpa disso é minha e de John, não devíamos ter colocado Connor aqui dentro da casa. – Falei, soltando um suspiro pesado.

- Não quero que o senhor ou o papai fiquem se culpando... vocês são bons, apenas isso.

- Não importa... além do mais, James avisou que não era uma boa ideia, se tivéssemos ouvido o papai, nada disso teria acontecido, Gabe não estaria num hospital... e você também não teria um trauma...

Ivy se sentou na cama e me olhou de forma profunda.

- Não aconteceu nada, Gabe está bem e Connor já está preso... imagine se vocês não tivessem o trazido pra cá... a justiça não teria sido feita e Connor estaria a solta por aí, atacando mais pessoas.

Refleti um pouco e realmente a garota tinha um pouco de razão, ainda assim, meu sentimento de culpa não havia se desvencilhado.

Minha sobrinha se aproximou de mim e me abraçou. Retribui ainda preocupado com seu estado de saúde mental.

Balancei a cabeça, me culpando novamente. As lembranças dos problemas que tive com Connor na infância passaram como um flash na minha mente. Não sei como tive coragem de coloca-lo perto dos meus filhos, dos meus sobrinhos... realmente não sei qual foi a lógica que usei para achar que Connor havia mudado.

Não tenho muitas lembranças dos meus pais biológicos, pois quando eles faleceram, eu ainda era muito pequeno, mas, por mais incrível que pareça, lembro claramente do meu pai dizendo: "Pessoas boas sempre são boas, pessoas más sempre são más".

- O senhor acredita que mamãe não quis ir visitar Gabe no hospital?

- Sério?

- Sim, eu mandei mensagem questionando-a, mas ela não me respondeu... talvez ela tenha enjoado de vez da gente.

- Eu sinto muito por isso, querida.

- Ah, tudo bem... está com a chave do carro, vais sair?

- Preciso buscar alguns medicamentos exclusivos, mas não tem nas farmácias aqui perto. Terei que ir na cidade vizinha.

- Posso ir, tio? Posso? – Bethany apareceu por trás de Ivy com os olhinhos brilhando. Assenti, não tendo como negar um pedido assim, ainda mais com Beth me olhando como um cachorrinho abandonado. Minha sobrinha sorriu animada e saiu correndo para fora do quarto. - Iyy sorriu.

- E eu vou ir até o hospital, ficar um pouco com Gabe.

Enquanto eu ia para o carro, Benjamin apareceu e quis ir junto também. Balancei a cabeça vendo as duas crianças animadas perto de mim. Coloquei Ben na cadeirinha e o prendi bem, em seguida ajudei Beth com o cinto.

Dentro de mais ou menos quarenta minutos, estávamos na outra cidade. Durante todo o trajeto, Bethany não parou de falar sobre a escola, sobre seus amigos, desenhos e mais um tanto de outras coisas. Eu não sei de onde ela tirava tantas palavras e ideias mirabolantes, tendo apenas dez anos de idade. Benjamin acabou dormindo no meio do caminho.

Deixei o carro no estacionamento e desci.

- Fique aqui um pouco, Beth. Eu logo estarei de volta – Falei, abaixando um pouco os vidros do carro e por fim, descendo e trancando as portas. Enquanto caminhava até a conveniência farmacêutica, avistei Davi de longe e me perguntei o que meu sobrinho estava fazendo lá.

- Davi? – Chamei. Assim que o garoto me viu, ele correu até mim e me abraçou.

- Finalmente alguém que vai me levar pra casa – Disse ele, com a voz carregada de alívio.

- O que faz aqui? – Perguntei.

- Ahn... depois eu explico, tio. Só quero ir pra minha casa...

A grande famíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora