A grande família

Cap 4 - Desentendimento

POV John

  Respirei fundo várias vezes antes de tomar coragem e finalmente falar com Ellen.

  Aquele assunto estava me consumindo de uma forma que eu nunca imaginei. Minha vontade mesmo era de me enterrar num buraco e ficar lá até que esse pesadelo acabasse, mas não era um mero pesadelo... Eu não conseguia mais olhar para o meu filho e sentir uma tristeza profunda, por mim e por ele.

  Sempre confiei muito em Ellen, nosso casamento nunca foi conturbado, nos entendíamos bem. Achei que o carinho era recíproco, mas não era. Fui traído pelas duas pessoas que eu mais confiava.

  Não tive nem se quer forças de ir para a empresa e ver a cara de Merlin, então nessas últimas semanas, escalei outra pessoa para ir no meu lugar, sinceramente? Eu não estava preparado para conversar com meu "melhor amigo". Eu saía de casa e ficava a tarde com meus pais. Eles eram os únicos que poderiam me consolar agora, nem os meus irmãos sabiam do que estava acontecendo.

  Eu temia pelo pior, até porque eu não poderia imaginar outro cenário. Ellen mentiu durante anos pra mim, eu não podia ter compaixão. Perdoar? Talvez..., mas perdoar não significa esquecer.

  - Ellen? – Chamei. Ellen me olhou um pouco surpresa, pois há dias não me comunico direito com ela. – Precisamos conversar... – Falei em um tom de voz baixo.

  - Claro... Beth, vá com Ivy. – Minha caçula levantou emburrada e foi atrás da irmã. – Então... – Minha esposa, se é que ainda devo considerá-la sentou no sofá e esperou que eu começasse a falar.

  Pedi forças para Deus antes de abrir a boca.

  - Eu queria que fosse sincera comigo... – Falei, a voz arrastada. Ellen apenas assentiu e esperou que eu continuasse. – Eu achava que não tínhamos segredos entre nós, mas parece que me enganei...

  - O que quer dizer com isso?

  - Você sabe muito bem o que eu quis dizer...

  - Não! Eu não sei, eu não sei porque há dias você está estranho, mal passa tempo com seus filhos, mal fala comigo, nem almoça mais em casa, além de tudo ficou monólogo e enigmático! Eu é que quero saber qual é o problema com você.

  Ellen já começara a ficar nervosa. Estralei os dedos deixando claro que eu também não estava tranquilo.

  - Qual é o problema comigo? Meu problema foi confiar, durante vinte anos, em você!

  - Se você não dizer o que há de errado, eu nunca irei saber onde eu errei.

  - Eu deveria ter ouvido meu pai...

  - Do que droga você está falando?

  - DA PORCARIA DO EXAME DE D.N.A! – Eu levantei do sofá, exasperado e sentindo meu sangue ferver. Ellen iria abrir a boca pra falar alguma coisa, mas ela se calou. Seu olhar pareceu desesperado.

  - Exame de D.N.A? – Sua voz já estava trêmula.

  - Não se faça de idiota, eu já sei de tudo... eu só não esperava que você fosse me trair com o Merlin! O MERLIN! ELE É MEU MELHOR AMIGO! VOCÊ TEVE UM FILHO COM A MERDA DO MEU MELHOR AMIGO!

  - E-eu...

  - Nem tente se justificar! Olha a merda que você fez! Como eu fico?! Aliás, como eu vou falar para o Gabriel que ele não é meu filho biológico?! Como?! Tem ideia de como isso destruiu com o meu psicológico? Eu tô destruído por dentro, Ellen. Estou acabado.

  - Eu sinto muito, John..., mas aconteceu, eu nem se quer premeditei. Não imaginaria que ficaria grávida assim. Eu me arrependi momentos depois que senti o Gabe pela primeira vez...

  - Se arrependeu?! VOCÊ NÃO TEVE COMPAIXÃO NENHUMA POR MIM! - Nesse momento, empurrei os três vasos de vidro que estavam na mesa de centro. Espalharam-se mil caquinhos pelo chão. Ellen se assustou com a minha atitude.

  - John! Vamos conversar mais tarde... você está nervoso...

  - NÃO VAI TER NADA MAIS TARDE! NOSSA RELAÇÃO ACABA AQUI E AGORA! – Eu já estava cego de raiva.

  - Pai? – Virei bruscamente para olhar e vi Bethany com os olhos assustados. Respirei fundo tentando me controlar.

  - Filha, é melhor você ficar com Ivy... – Ellen disse, ficando de frente para Bethany.

  - Eu ouvi os gritos... você e o papai estão brigando... não quero que briguem...

  - Está tudo bem, pequena. Agora vá.

  Beth olhou por mais alguns segundos pra gente, em seguida sumiu pelos corredores.

  - John, por favor, se acalme...

  - Gabe está chegando daqui a pouco. Espero que diga a verdade a ele. – Falei, peguei a chave e saí em disparada para o carro.