Cap 3 - Ruiva

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POV Gabe

Acordei com o alarme soando como um sino descontrolado em meu ouvido. Abri os olhos devagar e rapidamente bati o olho no calendário. Era dia de eu ensinar as crianças do orfanato a tocar violino ou qualquer outro instrumento, já que eu sei quase todos.

Eu estava para entrar no penúltimo período da faculdade, mas como estava de férias, aproveitei para participar de algumas ações voluntárias de São Francisco.

Eram sete e quarenta da manhã, mas eu já podia ouvir a voz de Bethany no andar debaixo. Provavelmente Ellen estava tentando a convencer de tomar vitamina e ela estava resistindo.

Havia algo acontecendo entre minha mãe e meu pai, mais especificamente era algum problema com meu pai. John estava mais afastado, mais quieto, não almoçava mais em casa. Tudo o que ele fazia era se afundar no trabalho. Ellen tentara conversar várias vezes, mas papai sempre recuava. Já tentei cutucar meus avós, mas eles não disseram nada.

Suspiro e desço já depois de fazer minhas higienes matinais e trocar de roupa.

Quando eu cheguei na cozinha, realmente minha mãe estava tentando convencer Bethany a tomar vitamina. Papai estava debruçado sobra a bancada, olhei pra ele, mas o mesmo estava com um olhar perdido, sem brilho. Fiquei alguns segundos o encarando, mas ele nem se quer notou.

- Bom dia, gente. - Falei por fim. Ellen caminhou até mim e me deu um beijo carinhoso na testa, depois voltou a atenção para minha irmã. John olhou pra mim e exibiu um fraco sorriso, depois voltou com aquele olhar perdido. Suspirei e fui procurar algum iogurte na geladeira. - Pai? Você vai no orfanato comigo?

- Orfanato? - John olhou pra mim confuso. Fiquei o olhando esperando que ele lembrasse. - Ah, claro. As ações voluntárias...

- Então, você vai?

- Eu gostaria muito de ir, mas tenho que resolver algumas coisas no trabalho. Aproveite.

- Que saco, mãe! Eu detesto esse líquido nojento! - Bethany se exaltou e eu olhei pra ela. Ellen suspirou e pareceu desistir de falar. - Deixa-me tomar iogurte? Ou achocolatado?

- Não, Bethany. Você vai tomar essa vitamina, e vai tomar agora. - O tom de voz de papai soou cortante. Beth continuou com os braços cruzados e um bico enorme. - E não adianta ficar assim. Agora termine logo de beber isso aí antes que você ganhe umas palmadas!

Ninguém era capaz de enfrentar John quando ele estava bravo.

Peguei a chave do meu carro e dirigi até o orfanato, antes de protestar, lembre-se que tenho 19 anos e fiz minha carteira aos 16.

Deixei o carro no estacionamento do orfanato e caminhei vagarosamente até o hall de entrada. Nesse meio tempo, uma sensação bem ruim tomou conta de mim e eu tive que parar e respirar um pouquinho, ou eu teria um "chilique" nervoso. Mal tive tempo de me recuperar e algumas crianças vieram ao meu encontro. Todas elas esbanjaram um sorriso enorme quando me avistaram. Senti um alívio por uma fração de segundos.

Fui guiado por várias crianças até o salão de música.

Quando entrei, me deparei com uma garota ruiva. Ela estava tocando "Canon in D" no piano de calda. Seus dedos pareciam dançar por sobre as teclas e a melodia nos trazia um ar melancólico. Ela parou ao perceber nossa presença, até porque aquelas crianças não paravam de falar. Quando ela se virou, pude ver melhor o seu rosto. Era coberto de sardas, seus olhos eram extremamente azuis e ela tinha traços finos. Ela era linda.

- Ah, você deve ser Gabriel Church, né? - Ela se levantou e veio ao meu encontro. Demos um rápido aperto de mão. - Sou Molly Monirson. Ensino piano às crianças.

- É um prazer, Molly. - Dei um leve sorriso à ela. - Bem, eu trouxe um violino.

- Então, formaremos uma ótima dupla. Conhece alguma peça de Mozart?

- Todas elas...

- Então... - Ela olhou para as crianças. - Que tal verem uma pequena apresentação improvisada? Sentem-se no chão.

As crianças sentaram e continuaram com os olhinhos atentos em mim e em Molly. A garota se encaminhou para o piano e eu a segui. Tive que tomar alguns minutos até tirar o violino do estojo. Escolhemos juntos tocar a primeira partitura escrita por Mozart.

Parecia que havíamos treinado por tempos, pois a música saiu com grande perfeição e ainda não erramos nenhuma nota. As crianças ficaram encantadas. Algumas até choraram de emoção. Tocamos mais algumas coisas e depois fomos ensinar as crianças. Fiquei no orfanato até cinco horas da tarde.

- Foi um prazer tocar com você, Molly. - Falei, antes de deixar a sala de música.

- Bom, você toca muito bem. Estou aqui todas as quartas. Pode vir se quiser.

- Quem sabe um dia - Acenei pra ela e voltei para casa.

Quando entrei dentro de casa, encontrei um caos total.

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