Capitulo 24

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• Henry Parker•
Estou nervoso enquanto olho para a porta da minha casa, esperando pela minha namorada. Eu desejei tanto que esse dia chegasse, sei que a Elena tem um passado obscuro, eu vejo isso nos seus olhos que demonstram tristeza, medo e angústia, e eu sempre quis que ela dividisse essa dor comigo. Tentei de tudo pra fazer ela falar, mas ela sempre se fechava ou mudava de assunto, parece que finalmente ela está pronta pra me contar.
Nem preciso dizer que eu morri de ciúmes quando eu vi o seu ex bem na nossa frente. O modo como ele olhava pra Elena me fazia querer matá-lo, mas confesso que na hora, eu senti um pouco de inveja dele, inveja por ele conhecer Elena tão bem e saber de todas as suas angústias e medos. A forma como pareciam tão íntimos me deixou incomodado, pelo o que eu sei, foram anos juntos e ele deve a conhecer melhor que eu. Além de tudo isso, eu também senti medo, medo que a Elena voltasse a sentir algo por ele, que vê-lo fosse despertar qualquer tipo de sentimento retraído que ainda pudesse existir. Mas procurei Eliminar todos esses pensamentos, eu não vou ficar inseguro e ter uma crise louca de ciúmes, eu prefiro acreditar no amor que Elena sente por mim, nossa história pode ser curta ainda, mas eu sei que é intensa. Eu sei que Elena me ama e não vai ser esse idiota com malditos olhos verdes que vai estragar isso.
A companhia toca e eu me levanto quase que imediatamente. Vou até a porta e abro, encontrando minha namorada linda com um sorriso fraco. Ela então, me abraça.

-oi amor. - diz enquanto ainda nos abraçamos.

-oi amor, vem entra- digo e dou espaço pra ela entrar.

-sua mãe não tá em casa?- ela pergunta assim que nota o silêncio.

-não, hoje ela está de plantão- digo e ela assente, se sentando no sofá.
Elena aperta as mãos e eu sei que ela está tensa, talvez até com medo e triste. Vou até ela e me sento ao seu lado, pegando nas suas mãos, que estão frias.

-você tá bem?- pergunto preocupado.

-eu tô... bem . - responde nada confiante e eu fico um pouco angustiado por vê-la assim.

-amor, me desculpa se eu te pressionei pra você me contar sobre o seu passado. Se não estiver pronta eu juro que vou entender....

-não Henry. Você merece saber e eu quero te contar. Eu quero dividir isso com você- ela diz e eu assinto, um pouco mais aliviado.

-certo, quando você quiser. Vamos no seu tempo, tá bom? Se quiser parar ou desisti, tá tudo bem. - digo e ela concorda , respirando fundo.

-tudo começou quando minha mãe se envolveu com o meu pai. De início, ele era um cara romântico, cuidadoso e atencioso, com um tempo, ele foi se demonstrando ser uma pessoa... terrível. Ele tinha crises de ciúmes, controlava tudo que minha mãe fazia, com quem andava, ele até chegou a agredi-la um dia. Minha tia, Anastácia nunca concordou com esse relacionamento, sempre fazendo de tudo pra que minha mãe enxergasse quem ele era de fato. Mas meu pai, era tão manipulador que quando minha mãe descobriu que estava grávida de mim, ele a convenceu a se afastar da sua irmã e única família e se mudar para outra cidade. Foi aí que minha mãe entrou em trabalho de parto e morreu logo depois de dar a luz a mim.- ela para de falar e vejo suas lágrimas já caírem pelo seu rosto. Eu seguro em sua mão mais forte, me sentindo triste por ela. Ninguém merece nascer e não conhecer sua própria mãe, isso é trágico.

-amor, se quiser parar... - tento falar, mas ela interrompe enquanto enxuga as lágrimas.

-tá tudo bem. Eu estou bem- diz e respira fundo - desde que minha mãe morreu eu fiquei nas mãos do meu pai, ele fazia questão de não deixar ninguém interferir na sua educação, nem mesmo minha tia. Fui criada por ele da pior forma possível, ele controlava minha vida inteira assim como fez com minha mãe. Ele não deixava eu sair, não deixava eu ter amigos, controlava o que eu vestia, o que eu devia falar e fazer. Aí eu entrei na escola e conheci o Oliver, ele foi o único que não se afastou da "menina estranha" como todos me chamavam, porque nunca me viam sorrir, nunca me viam nas festas ou socializando, o meu pai me fez se tornar antissocial e foi aí que o Oliver conquistou minha amizade, ele me incluiu no mundo, fez eu ir a academia com ele, me fez participar de peças de teatro, me ensinou teoricamente o que era ser jovem, apesar de que eu jamais conseguiria ser uma. De alguma forma, ele me fez se sentir mais viva, e então eu me apaixonei, e ele foi minha válvula de escape por todos os malditos anos que eu passei naquela casa, até que, eu completei 18 anos. No mesmo dia do meu aniversário, Oliver havia sumido, fazia dias que ele não falava comigo e isso me deixou arrasada, eu queria acreditar que tinha uma razão plausível pra ele fazer isso comigo e foi aí que eu tomei uma péssima decisão : Eu sairia de casa sem a permissão do meu pai, pra ir até a casa dele saber o que aconteceu. Então, eu fugi e fui parar na porta da sua casa e para a minha supresa, ele me contou que estava indo pra Califórnia em dois dias, para realizar o seu sonho de estudar em Stanford. Ele ia me deixar sem ao menos se despedir, sem dar uma única satisfação, como se eu não fosse nada pra ele. Nem preciso dizer que isso acabou comigo, eu chorei horrores e voltei pra casa rezando para que o meu pai não tivesse acordado. Mas assim que eu abri a porta de casa.... - ela para de falar e fecha os olhos, como se isso lhe causasse alguma dor física. Suas mãos estão frias e seus olhos não param de lacrimejar. Eu em sinto tão mal em vê-la assim, nunca vi a Elena tão vulnerável, tão abalada. Eu já odeio esse pai dela e apesar de ainda não ouvir o resto da história, já imagino o que ele pode ter feito e já o odeio por isso. Que tipo de monstro seria capaz de causar algum tipo de dor, em alguém tão incrível como a Elena?

-Elena... tem certeza que quer continuar? - pergunto com receio que isso seja demais pra ela, posso ver claramente que essa história a machuca de uma maneira inimaginável. Elena apenas assente e respira fundo, tentando controlar as emoções.

-ele... me viu e ficou possesso de raiva. Eu estava tão triste e ele começou a gritar comigo, então... eu o provoquei. No meio da nossa discussão, eu acabei revelando que não era mais virgem. Isso para o meu pai foi o fim do mundo, ele ficou cego de raiva, então ele... ele ...- ela desaba em lágrimas e meus olhos também já estão marejados. Abraço a Elena, e ela encosta o rosto na minha camisa, desabando ali mesmo.

-tá tudo bem, amor. Eu to aqui- digo também sentindo suas dores e ela se afasta um pouco.

-ele tentou me matar, Henry. Ele tentou me sufocar, por isso eu estava com marcas roxas pelo o meu pescoço... eu me tranquei no meu quarto e liguei pra única pessoa que podia me ajudar naquela hora. A Juliet. Ela veio correndo com minha tia e no outro dia chegaram até mim. Elas chamaram a polícia e me levaram a delegacia, onde prestei queixa de tudo o que o meu pai fez comigo, desde os assédios Morais até as violências verbais e físicas que eu tive durante todos esses anos da minha vida. O meu pai é um mostro Henry. Ele é terrível- diz ainda chorando e eu a abraço novamente.

-chega amor. Não precisa mais falar, por favor.- peço até um pouco desesperado. Se eu soubesse que reviver essa história causaria tanta dor, eu jamais teria pedido pra ela me contar. Viveria toda a minha vida se perguntando o que de fato aconteceu só pra não ver ela tão arrasada assim. Eu a abraço forte e deixo ela chorar, até que ela se acalme. Limpo suas lágrimas e olho bem fundo nos seus olhos.

-Eu sei que você passou por muita coisa ruim e que o seu pai te tirou muitas coisas. Mas olha só pra você agora, Elena. Se tornou uma mulher forte, incrível.
Você não precisa dele pra nada e ele não merece a filha que tem. Espero que ele pague por toda a dor que te causou - digo sincero e ela sorri fraco. Agora ela já parou de chorar e está um pouco mais calma.

-obrigada, Henry. Eu não ligo mais pro meu passado, tudo que importa agora, é o presente E o futuro, e eu quero passar ambos com você. VOCÊ me trouxe a vida novamente, me fez se sentir amada como eu nunca fui antes, nem mesmo pelo próprio pai. Eu te amo. - ela diz e me beija delicadamente nos lábios.

-também te amo, Elena. Mais que tudo nesse mundo- digo e ela sorri.

-agora vem, hoje eu vou cuidar de você- digo e seguro em sua mão a levando até o meu quarto. Eu tiro nossas roupas e a levo para um banho, sem segundas intenções, apenas um banho relaxante. Elena veste uma das minhas camisas e eu fico só de cueca. Nos deitamos na minha cama e eu a puxo pra colar nossos corpos, fico acariciando seu cabelo até vê-lá pegar no sono.
Minha única vontade é de colocá-la em um portinho e não deixar que ninguém nunca a machuque de nenhuma forma possível. Ela não merece nada disso...

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