Capítulo Dois

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Olho para a grande muralha de pedra ao meu lado, guardas do rei estavam de patrulha do alto dela, o grande portão de madeira estava fechado separando os dois reinos.

- Krüger.- saio dos meus pensamentos com um homem me chamando.- O novo carregamento chegou, está lá no armazém.

Não respondi, apenas bati as rédeas do meu cavalo e calvaguei até o armazém pelas ruas do reino Araven. O dia foi calmo, o por do sol já estava começando a aparecer, pássaros voavam livremente.

As casinhas eram de pedras com telhados de telhas marrons, havia algumas árvores nas ruas. Em menos de vinte minutos eu chego no armazém, desço do meu cavalo e dou as rédeas para um funcionário.

- A assassina de Araven, sabia que você chegaria assim que soubesse do novo carregamento.- Jean, um velho amigo, disse se aproximando. Tiro o capuz de minha capa e ando na sua direção.

- Você tem as melhores mercadorias, não tem como não resistir.

- Então venha, pegue as melhores antes que eu tenha que enviá-las para o exército.- andamos pelo grande armazém, homens carregaram caixas, mulheres limpavam espadas e rifles novos deixando-os brilhando.

Jean era um garoto da minha idade, vinte e três anos, nos conhecemos quando eu me tornei a assassina real do rei, ele trabalha na fabricação de armas e o comércio delas, de maneira legal perante a lei.

Ele tinha cabelos castanhos curtos, a pele marrom escura e os olhos cor de mel, era apenas dois centímetros mais alto que eu.

Jean me guiou até algumas caixas recém abertas e eu me aproximei olhando as novas mercadorias.

- Novinhas em folha e completamente afiadas.- me abaixo e pego duas espadas médias, dou para Jean segura-las enquanto olho para a segunda caixa.- Teve mais algum...trabalho?

- Tive ontem, hoje estava andando envolta da muralha.

- Não sei como você aguenta isso, Kath.

- Depois de nove anos você acaba se acostumando....uh essa é bonita.- digo pegando uma adaga e dou para Jean.

- Escutou alguma coisa quando você esteve em Casina?

- Não, aquele reino é igual o nosso, eles nos chamam de fracos e nós os chamamos de demônios.- Entrego mais algumas espadas.

- Ei! Não acaba com o estoque de uma vez.

- Tem flechas e um arco novo?- Jean assentiu, escolhi um arco novo e mais flechas.- Vou levar só isso.

- Só isso.

- Não reclame, eu sou sua cliente mais fiel.

- Você não paga.

- O rei paga.

Jean colocou todas as armas em uma bolsa e me acompanhou até o meu cavalo, quando percebeu que estávamos sozinhos ele se virou para mim.

- Por que você continua com o rei? Pensei que odiasse ele.

- Eu odeio, odeio mais que tudo, mas eu não tenho escolha, minha cabeça está em jogo.- Ajeito a bolsa na sela do cavalo.

- Você já tentou matá-lo?

- Muitas vezes, mas o reino poderia entrar em guerra e eu acabaria morta por traição. Eu nem tento mais.

- Você não liga para a sua liberdade?

- Já sonhei muito com ela, mas agora ela está muito longe de mim.- subo da sela, me despedi de Jean e sai galopando.

Deixei meu cavalo em um estábulo perto da minha casa, coloquei a bolsa com as armas no ombro e entrei na casa.

Eu tinha a opção de morar com a família real no castelo, mas eu achei melhor essa casa simples no centro do reino, havia ruas e atalhos perfeitos. Além que, se o rei quisesse que eu matasse alguém, era só mandar um mensageiro real.

Subo para o segundo andar, deixo as novas armas no quarto de armas e vou para o meu. Tiro a capa e as botas do meu uniforme, solto meu cabelo do rabo de cavalo e sinto uma sensação de alívio.

Pego roupas limpas e vou para o banheiro tomar banho. Tiro meu uniforme e sinto a água gelada contra o meu corpo, fecho os olhos sentindo a pressão da mesma.

Eu nasci nos subúrbios do reino, minha mãe era uma prostituta e por acidente me teve, nunca conheci ou soube quem era o meu pai. Minha mãe me deu educação, não consegui ir para escola porque era cara e para a nobreza e burguesia.

Quando eu tinha quatorze anos, minha mãe pegou uma doença de um dos seus clientes e ficou de cama, eu tentei levá-la a um médico mas ele não podia atende-lá porque eu não tinha dinheiro.

Eu vi minha própria mãe morrer na minha frente e no mesmo dia, guardas do rei invadiram minha casa e me levaram a força para o castelo.

Eu sou a última da linhagem da família Krüger, uma família poderosa que foram os soldados protetores do primeiro rei do continente, porém acusados de traição, meus ancestrais foram caçados até a morte.

O rei Erwin me olhava com desgosto e talvez com curiosidade pelo fato da última Krüger ser uma garota suja, magra, de apenas quatorze anos. Naquele dia ele fez uma proposta, ou eu me tornava a sua assassina real ou eu era decapitada.

Aceitei com algumas condições e ele deu as dele, e eu vivo nesse "trabalho" depois de nove anos, recebi treinamentos com todo o tipo de arma e finalmente o sangue da minha linhagem corria em minhas veias.

Eu sou forte, consigo matar dez homens de uma vez, sou atenta a qualquer ruído e tenho agilidade em meus movimentos. Sou considerada a preferida dele e todos chegam a temer "a assassina do rei".

Desligo a água do chuveiro e saio do banheiro com as roupas novas, pego um livro da minha prateleira, me jogo na minha cama e começou a ler a primeira página.

A muralha entre reinosOnde histórias criam vida. Descubra agora