Capítulo Vinte e dois

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Senti meu corpo se movimentar por segundos e depois com os pés no chão novamente, abri os olhos e estava no que parecia ser a sala de uma casa, quase escura e sem uma vela acesa. Mikael nos trouxe para uma casa em algum lugar.

Sentia uma dor vinda do meu braço e algo escorrendo, gemi de dor e olhei para o ferimento. Uma bala havia atingindo meu braço e estava sangrando.

- Vou procurar algum curativo.- Mikael se afastou.

Tirei a ombreira e as luvas, rasguei o resto da manga da blusa para ver melhor o ferimento que estava feio. Usei o tecido rasgado para estancar o sangue e me sentei no sofá.

Estava ficando cada vez mais escuro, mas percebi que era uma sala simples, com algumas janelas, quadros e uma lareira apagada.

Escutei as botas de Mikael contra a madeira do chão, ele colocou uma caixinha na mesinha na frente do sofá e acendeu os candelabros da sala, iluminando o local.

Ele tirou o sobretudo preto e as luvas, arregalou as mangas da blusa e sentou ao meu lado.

- Posso?- tirei o tecido encharcado de sangue e deixei ele ver o ferimento, ele tinha que tirar a bala.

- Somos finalmente inimigos dos dois reinos.

- Quer uma festa para comemorar?- ele sorriu de lado e limpou o sangue do meu braço.

- Onde estamos?

- Essa casa é escondida, estamos em uma área afastada de Casina...Eu morei aqui durante a infância.

- Eles não sabem a localização?

- Não, eles pensam que está abandonado e mato cresceu envolta. Estamos seguros por enquanto.- disse pegando alguns objetos da pequena caixa.

- Você morou aqui?

- Foi antes da minha mãe ser assassinada, meu pai queria que eu crescesse longe do reino mas quando ela morreu, ele não teve escolha e me levou para o quartel. Deixe o braço o mais parado que você conseguir.- ele aproximou um candelabro para enxergar melhor, senti ele colocar a ponta da pinça no ferimento e olhei para o outro lado.

Fechei minhas mãos e senti minhas unhas machucando as palmas das mesmas, segurei um grito quando ele tirou a bala, meu corpo deixou de ficar tão tenso.

Mikael fechou o ferimento com alguns pontos e passou uma pomada de ervas para evitar inflamações.

- Filhos da puta.- Mikael xingou enquanto terminava de colocar o curativo no meu braço, reparei que as sombras nas salas ficavam maiores.

- Não foi culpa sua.- segurei sua mãe e ele me olhou.- Foi só um ferimento, ninguém é de ferro.- olhei novamente para as sombras e elas tinham voltado ao normal.- Obrigada pelo curativo.

Mikael assentiu e eu beijei seus lábios, apenas alguns selinhos demorados e depois nós levantamos. Mikael jogou fora todos os panos cobertos de sangue que tinha usado e lavou as mãos.

Depois ele me levou para o andar de cima me mostrando os cômodos da casa. Havia poeira na maioria dos móveis, mas nada impossível de limpar depois.

- Esse é o seu quarto, o meu fica no final do corredor.

- Por que eu iria querer saber onde fica o seu quarto?

- Caso você queira dormir nele talvez.- me provocou e eu ri fraco, ele foi para o seu quarto.

Fechei a porta do meu, acendi algumas vela para iluminar ele. Tirei os panos brancos que estavam em cima de alguns móveis, não tinha tanta poeira, perto da cama tinha as bolsas com as minhas coisas.

Ontem a noite, quando eu voltei e Casina e aceitei a proposta de Mikael, arrumei minhas bolsas a pedido dele e Mikael as trouxe para essa casa.

Troquei de roupa deixando o uniforme em uma cadeira, nunca mais colocaria ele, mudei para um vestido longo simples que a manga larga ia até meu cotovelo e nos pés coloquei um par de sapatilhas.

Desci as escadas e fui para a cozinha acendendo as velas da casa. Olhei no estoque e achei vegetais para fazer o jantar, estava morta de fome. Mikael havia me dito que planejava se esconder em um lugar depois da reunião, que já tinha tudo preparado.

Acendi o fogo das panelas e comecei a cortar alguns vegetais, coloquei eles na panela para cozinharem junto com a água. Estava cortando alguns pedaços de carne quando escutei Mikael entrar na cozinha.

- Eu te deixo sozinha e você já está cozinhando.- olhei para ele, seu cabelo preto estava molhado, provavelmente tomou banho, a camisa era branca, calças marrons e botas.- Você devia descansar.

- Você acha que um simples ferimento no braço me impede de fazer algo? Já sofri um ferimento na barriga e no dia seguinte tive que fazer outro trabalho para o rei.- voltei a cortar a carne e coloquei na panela.- Estou cozinhando porque estou morrendo de fome, se sobrar algo eu te dou.- escutei uma risada fraca dele.

- Não sou muito fã de sobras, gosto do prato principal.- Mikael começou a mexer na panela com a carne, segurei um sorriso.

- O que faremos amanhã?

- Um amigo meu vira para dar notícias e resolveremos o próximo passo.

- O que você queria dizer com o quartel vazio?

- Todos que sabem sobre o meu plano se esconderam ou saíram de Casina para o rei não caçá-los a procura de respostas ou por punição. Antes do amanhecer, o quartel estava vazio, apenas com alguns soldados humanos.- ele jogou alguns temperos na panela e misturou.

- Você me chamou de meu amor na reunião.- ele parou de misturar, deixando ferver um pouco.

- Foi o primeiro apelido que veio na minha cabeça, mas não sou muito fã dele. Eu faria tudo de novo só para ver a cara de Caleb.

- Você não gosta dele né?- término de lavar as louças e olho para Mikael.

- Nem um pouco.- ele me olhou e cerrou um pouco os olhos.

- O que foi?- sua mão foi para o coque do meu cabelo, ele puxou o grampo que prendia e o soltou.

- Você fica melhor de cabelo solto.- sorri, ele me beijou, coloquei minha mão na sua nuca aprofundando o beijo, o beijo de Mikael era viciante, igual uma bebida que eu nunca pararia de beber, eu esquecia o mundo a minha volta quando ele me beijava.

Mas o som do ensopado borbulhando fez eu voltar, separei o beijo e abaixei o fogo, mexi com a colher para ver se tinha queimado algo.

- Ainda da para comer.- Empurrei Mikael de leve com o seu comentário e ele pegou as tigelas para colocar o ensopado de carne.

A muralha entre reinosOnde histórias criam vida. Descubra agora