Capítulo Vinte e Seis

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Um dia se passou e eu voltei para Araven para buscar a resposta de Jean. Me agachei atrás de algumas caixas enquanto ouvia a voz dele ecoando com ordens aos seus funcionários.

Seu típico avental estava sujo de graxa, as últimas caixas chegavam e eram colocadas empilhadas. Quando o armazém começava a ficar escuro e vazio, segui Jean sozinho até o seu escritório.

- Jean.

- Que susto! Para de me dar susto Kath.- Jean disse com a mão no coração e se virando, entramos rápido no seu escritório.

- E então?

- Eu vou ajudar vocês. Mas com algumas condições.- me sentei na cadeira e ele na cadeira atrás da sua mesa.- Está chegando bastante carregamento a pedido do rei para essa guerra, o que eu posso fazer é guiar algumas caixas para vocês, em pequenas quantidades para que não fique totalmente suspeito. Posso alterar alguns documentos, porque eu só dou o visto de entregue e feito, a quantidade são alguns dos meus funcionários que cuidam.

- Por que você mudou de ideia?

- Erwin não é um rei ruim, mas ele não cuida do seu povo. Os médicos pararam de dar o remédio da minha mãe.- um aperto apertou meu coração.- A flor medicinal está mais de cem moedas de ouro, eu não tenho dinheiro para isso. Minha mãe está bem agora, mas os remédios era para caso ela tivesse alguma recaída.- a mãe de Jean tinha uma condição rara no coração, não tinha cura mas tinha tratamento, o pai de Jean é um comerciante e estava nas terras do norte.

- Eu entendo. Vou ver o que eu posso fazer.

- Não, Kathryn.

- Jean, é o meu dever ajudar. Eu sou a sua amiga.- ele pegou a minha mão.

- Obrigado.- sua voz falhou, eu sabia quanto Jean amava a mãe dele.

Jean me disse que já havia escondido algumas caixas, avisei que amanhã iria mandar um bilhete mágico com os detalhes de como os soldados de Mikael iriam pegar as caixas.

Me despedi de Jean e voltei para a casa usando as sombras. Abri os olhos e estava na sala.

- Já voltou?- Mikael perguntou, sentado em uma poltrona folheando um livro, nem levantou o olhar. As sombras serpentearam até ele e depois sumiram.

- Nós teremos armas, agora precisamos de um jeito para fazer o carregamento.- tirei a capa que usava.

- Vou resolver isso amanhã, mas provavelmente eu e um grupo devemos ficar encarregados nisso.

Estava saindo da sala quando paro de andar e me viro para Mikael.

- Você tem cem moedas de ouro?- ele fechou o livro e me olhou.

- Isso é bastante dinheiro.

- Você era general, seu salário era bem melhor que o meu. Você tem ou não?

- Acho que sim. Por que?

- Quero pagar uma dívida.- menti.- me de pelo menos algumas de ouro e o resto eu pago eu mesma. Depois eu te pago.

- Não precisa me pagar de volta.

- Eu não gosto de ficar devendo.- sai da sala e fui para o meu quarto.

Entrei no banheiro, tirei minha roupa e tomei um banho para lavar meu cabelo. Depois coloquei um vestido verde longo de manga curta, meu ferimento no braço estava melhorando bastante.

Abri a porta do banheiro passando a toalha no meu cabelo quando reparei que em cima da cama tinha um saquinho marrom. Coloquei a toalha no ombro e abri o saquinho vendo as moedas de ouro, nunca tinha visto tantas moedas de ouro na minha vida.

Guardei as moedas na minha bolsa para não esquecer onde tinha colocado. Depois do jantar, deitei na minha cama e cai no sono cansada.

...

Estava em um sono profundo quando durante a madrugada, fui acordada com a sensação de sufocamento, um aperto no peito.

Abri os olhos e sentei na cama olhando para os lados, o quarto estava completamente escuro, nem dava para enxergar a luz da lua.

Estiquei minha mão percebendo que era uma espécie de fumaça densa escura que tampava tudo, quase que sufocando, parecida com as sombras de Mikael.

- Mikael...- afastei os cobertores e sai do quarto, o corredor estava todo escuro, todas as velas foram apagadas e tomadas pela escuridão.

Fui reto até chegar a porta do quarto dele da onde a fumaça vinha. Abri a porta e tentei caminhar até a cama dele, esbarrando em alguns móveis.

Minhas pernas esbarraram na cama.

- Mikael.- nada, inclinei um pouco e apalpei os braços dele até achar seus ombros.- Mikael!- quase gritei balançando seus ombros.- Acorda! Mikael!

Então tudo aconteceu muito rápido, a fumaça se foi, Mikael abriu os olhos, tirou minhas mãos do seu ombro e me jogou na cama, ficando por cima de mim, na sua mão se formou uma espécie de faca afiada feita de sombras e ele colocou perto do meu pescoço.

- Mikael!- as luzes do quarto voltaram, iluminando tudo. O garoto finalmente olhou nos meus olhos, a faca quase cortava meu pescoço.

- Kathryn?- a faca se desfez. Conseguia ver como seus olhos estavam perturbados, a respiração acelerada e as mãos tremendo.- Me desculpa...eu...

- Tudo bem, foi um pesadelo. Não foi?- ele balançou a cabeça, Mikael se sentou na cama e eu levantei meu tronco o abraçando. Seus braços apertaram minha cintura e sua cabeça se apoiou na curva do meu pescoço, fiquei passando a mão nas suas costas coberta pela camisa que usava para ver se o acalmava.

- Não me deixe sozinho.- foi quase como um sussurro, mas aquelas palavras doeram, o peso delas caíram sobre mim. O abracei mais forte e não tinha a intenção de soltá-lo tão cedo.

A muralha entre reinosOnde histórias criam vida. Descubra agora