Capítulo Vinte e Cinco

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Desci as escadas e encontro Connie sozinho na cozinha olhando algumas folhas de papel.

- Como você entrou aqui?

- Pela porta.- ele me olhou confuso.

- Não...você sabe a localização daqui para ter vindo de cavalo?

- Sim, é complicado mas eu sei, cheguei agora a pouco.- me sentei na mesa e me servi café.- Onde está Mikael?

- Dormindo, eu acho.- ficamos em um silêncio, eu abaixei a xícara de café e olhei para Connie.- Como foi o ataque de ontem?- Connie colocou as folhas na mesa.

- Mikael não te contou?

- Algo grave aconteceu?- o que Mikael não tinha me contado?

- Bom...- Connie se ajeitou na cadeira.- no final caímos quase que em uma armadilha. Havia sim alguns guardas do rei Lucien mas também havia alguns cidadãos de Casina.

- Cidadãos?

- Sim, parece que o povo está meio dividido em que lado ficar nessa guerra, muitos preferem ficar calados com medo e neutros, e outros estão revoltados e juntos do rei. Quando chegamos no armazém, guardas e cidadãos nos atacaram, não sabemos se aquelas pessoas eram contra ou a favor de nós, provavelmente contra.

- O que aconteceu depois disso?

- Lutamos, eu salvei os nossos soldados do armazém e os levei para longe, para outro esconderijo.

- E Mikael?- Connie olhou para o seu prato com migalhas e depois limpou a garganta.

- Ele matou todos usando sua magia. Tanto os soldados quanto os cidadãos.- bile subiu na minha garganta mas eu engoli.

- Quantos?

- No total? Talvez uns trinta ou quarenta.

- Sozinho?- Connie assentiu.

- Mikael é poderoso igual o pai dele foi, não é atoa que é considerado um dos melhores, meu poder de fogo é migalha com o que ele pode fazer com um simples levantar de mãos.

Me lembrei na hora de sangue ontem perto da escada.

- Não fale para Mikael que você me contou isso.

- Por que?

- Porque não, tudo bem?

- Então tá.- Connie encostou as costas na cadeira e olhou por cima do meu ombro.

- Bom dia.- escutei a voz de Mikael, ele beijou minha cabeça e sentou na cadeira ao meu lado. Sorri fraco e voltei a comer meu café.

- E o seu amigo? Teve alguma resposta?

- Daqui a dois dias ele me dará a resposta, mas não sei se ele vai aceitar.

Terminei o meu café e sai da cozinha, Connie ficou na casa até depois do almoço quando pegou seu cavalo e foi embora, estava na sala contando o número de armas que eu tinha quando Mikael entrou.

- Você está estranha.

- Como assim?- joguei outra adaga dentro da bolsa, dando o total de quatorze adagas.

- Quase não falou comigo o dia todo.

- Você estava com o Connie, porque eu deveria?

- Ele te falou algo?- Mikael se aproximou, olhei para o chão por alguns instantes.

- Foda-se.- murmurei para mim mesma e me levantei olhando para Mikael.- Você matou inocentes? Você matou cidadãos de Casina?

Mikael suspirou.

- Eles estavam defendendo Lucien, estavam a favor dele.

- Não importa, eram pessoas, com famílias.

- E você pensou nisso quando assassinou aquelas pessoas por Erwin?- coloquei as mãos na cintura.

- É diferente.

- Não é. Aquelas pessoas também tinham famílias, quando o rei mandou assassina-las por motivos quase bobos. Vingança, traição, arrependimento, vai negar que esses não foram os motivos de alguns dos assassinatos?- fiquei calada porque ele estava certo, alguns dos trabalhos que o rei mandava eu fazer, era sobre traição da coroa.

- É diferente, as pessoas que você matou estavam sendo manipuladas, com medo, olhe o que estamos fazendo, eles são humanos, eu sou humana e tenho medo do que pode acontecer.

- Você também estava sendo manipulada pelo Erwin. A muralha entre os reinos não é apenas física, mas sim mentalmente também. Você tem que escolher um lado, o lado que você escolher terá consequências boas e ruins.

- Você hesitou? Quando o olhou para os rostos delas, quando viu quantos estavam lá?

- No começo sim, mas agora só me arrependo por um segundo.

- Eu sempre hesitava por alguns segundos antes de matar, preferia fazer a noite enquanto dormiam para evitar que seus gritos ecoassem não minha mente. Tenho pesadelos até hoje com as almas de alguns que me assombram. Se vamos para essa guerra, sem mortes de inocentes fora do campo de batalha, se não eu coloco tudo a perder.

- Então você sabe ser misericordiosa?

- Apenas com aqueles que merecem.

- Eu mereço?- nos encaramos por alguns segundos.

- Não sei...realmente não sei.- ele sorriu fraco enquanto assentia.

- As vezes é bom ser o vilão, porque isso mostra que você já viu os dois lados da história.- ele me deu um selinho rápido nos lábios e saiu da sala me deixando sozinha.

A muralha entre reinosOnde histórias criam vida. Descubra agora