Capítulo Trinta e dois

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Dois ou três dias se passaram, não sabia direito.

Eu estava cansada, mentalmente e fisicamente, as torturas eram espancamentos e assédios, me chamavam de vadia, traziam coisas do meu passado.

Ele estava me despedaçando, estava me quebrando.

Não bebia ou comia direito, apenas um copo de água e um pão pequeno.

Tentei fazer um plano para escapar mas não tinha nada para quebrar as correntes, não tinha nada para abri-las.

Não tinha nenhum sinal de Mikael.

Conseguia escutar o barulho de tiros e bombas, o que significava que a guerra ainda continuava.

Mais um noite chegou, não conseguia imaginar o que viria com ela, não queria ver o meu estado, provavelmente estava com o rosto avermelhado, corte nos lábios e um na testa.

O corte do meu braço havia parado de sangrar, mas não sabia se estava com alguma infecção.

A porta de ferro foi aberta e eu já tentei me arrastar para me afastar. Cain estava nela, esperei ele falar alguma merda mas fui surpresa com o corpo dele caindo na minha frente com uma adaga cravada nas costas.

Levantei o olhar e vi Pietro, o homem de cabelo avermelhado, entrando na cela com as chaves e se agachando ao meu lado começando a me soltar das correntes.

- Me perdoe pelo que ele fez, eu não podia acabar com o disfarce antes do tempo.- ele soltou o meu pulso direito.

- Quem é você?- ele riu fraco tentando abrir a corrente do pulso esquerdo.

- Sou o espião que estava infiltrado em Araven. - ele me soltou e fez uma chama com a mão, ele tinha magia. Ele soltou meus pés também.- Consegue se levantar?

Ele me ajudou e eu fiquei em pé, uma leve tontura me atingiu mas nada que eu não conseguisse aguentar.

- Você sabe de Mikael?

- Ele matou Lucien, a rainha e o príncipe estão desaparecidos.

- Ele não tentou me salvar?- não podia ser verdade.

- Eu tentei entrar em contato com ele antes mas não consegui, está um inferno lá fora...ele fez um inferno.

- Como assim?

- É melhor ver com os seus olhos depois, agora vá, fuja. O castelo está praticamente vazio, todos abandonaram ele, eu já mandei um bilhete mágico para Connie antes de matar Cain.

- E Erwin?

- Está na sala do trono, sozinho.- sabia que ele não tinha dito aquilo atoa, peguei uma espada da cintura de Cain e sai da sala.- Kathryn!

Não virei para trás, continuei andando até sair dos calabouços, cada passo doía os meus ossos e músculos.

Andei no corredor vazio, sem criados, sem guardas, havia coisas quebradas pelo chão. Continuei andando até chegar a porta dupla de madeira, abrindo com um chute.

Erwin estava sentado no pé do trono, sem coroa, as roupas amaçadas e a cara abalada e inchada como se ele estivesse chorado.

Olhei para as janelas e entendi o que Pietro queria dizer com inferno, o reino tinha alguns telhados pegando fogo mas o que me chocou foi que mesmo de dia, não havia céu. Tudo foi tomado por uma fumaça preta e aparentemente densa, havia guardas mortos pelas ruas.

Agora eu entendi porque durante esse tempo não entrava uma luz do sol na cela, não havia sol, nem a lua ou estrelas.

- Nunca te vi tão fraco.- digo e o rei me olha ficando em choque.

A muralha entre reinosOnde histórias criam vida. Descubra agora