Capítulo Dezenove

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Mikael ficou na minha frente, coloquei minha mão direta no seu ombro, a esquerda ficou entrelaçada na dele para cima na altura de nossos ombros, ele colocou sua mão livre na minha cintura.

A primeira melodia da valsa começou, Mikael me guiava lentamente e eu tomava cuidado para não pisar no seu pé. Nos poucos bailes que eu fui em Araven, apenas Caleb tinha me convidado para uma valsa, depois do pequeno desastre que eu tive dançando com ele, pedi para Jean me ensinar a como dançar uma valsa.

Enquanto dançávamos acompanhados de outros casais, percorria meu olhos pelo salão, sempre atenta.

- O que está pensando, assassina?- voltei a olhar para Mikael.

- Percebi que você tem muitas pretendentes.

- São apenas meninas tolas que não sabem o que é viver no perigo.

- Tão dramático.- Mikael sorriu e me girou.- Espero que esse baile seja bom, porque minha cabeça está em jogo.

- Você já teve a sensação de ficar em paz? De por algumas horas não ter que se preocupar se sua vida está em jogo ou não.- era uma pergunta profunda que infelizmente eu sabia a resposta.

- Não.

Mikael segurou minha mão e eu girei para dentro, ficando de costas para Mikael.

- Então, pelo menos por essa noite, tente sentir essa sensação de paz.- sua voz perto do meu ouvido fez um leve arrepio passar entre minha nuca. Sai do giro e voltamos a posição de antes.

A valsa continuou por mais três músicas, parecia um sonho que eu não queria acordar.

Mas meus pés me fizeram acordar.

- Podemos sair, meus pés estão me matando.- Mikael riu fraco e fez uma reverência terminando a valsa.

Segurei a saia e sai do centro.

- Vou pegar algo para bebermos.- assenti e Mikael se afastou.

Andei um pouco, olhei para as grandes janelas de vidro e tinha começado a chover, o som dos trovões eram abafados pela música mas dava para ver um clarão pela janela.

- Com licença.- me virei e me vi parada na frente de frente para Dimitri, o príncipe herdeiro de Casina, minha sorte não estava comigo.- Você é a dama que dançou com o general Mikael?

- Sou, sim, vossa alteza.- fiz uma reverência, doia ter que fazer uma reverência para alguém da realeza de Casina.

- Não sabia que Mikael tinha uma amiga de infância, ainda mas tão linda quanto a senhorita.

- Obrigada, vossa alteza.

- Gostaria de saber se poderia me conceder uma valsa até o final dessa noite.

- Ah claro, apenas estou cansada agora.

- Entendo perfeitamente. Até depois?

- Até.- ele fez uma reverência e saiu, queria cavar um buraco para me esconder.

- Então o príncipe curioso já veio ver quem era você.- agarrei a minha taça e virei o líquido de uma vez.- Calma.

- Eu preciso de um lugar para me esconder, o príncipe quer dançar comigo pelo menos uma vez.- Mikael bebeu de sua taça.

- Então vamos fugir daqui.- ele segurou minha mão e deixamos as taças com um criado em uma bandeja. Subimos as escadas e saímos do salão.

Abracei meus próprios braços enquanto escutava a música diminuir.

- Para onde estamos indo?

- O jardim seria uma boa opção, mas como está chovendo...- ele abriu uma porta dupla.

- A biblioteca?- sorri entrando.- Está vazia.

- Por causa do baile.

- Ela é bem mais bonita acessa.- subimos para o segundo andar, Mikael tirou sua máscara e eu a minha.- Essa é a história da rosa encantada?- digo pegando o livro de uma estante.

- Um clássico infantil, não tem em Araven?

- Eu cresci escutando essa história, minha mãe contava para mim toda a noite.- folheio o livro e o guardo novamente.

- Você nunca me disse o que aconteceu com os seus pais.- comecei a andar pelo corredor.

- Eu nunca conheci o meu pai, nem sei quem ele é, minha mãe...acabou contraindo uma doença e morreu de cama.

- Os médicos...

- Não atenderam porque eu não tinha dinheiro, eu nasci na parte pobre de Araven.

- Desculpa.

- Não tem problema, está no passado.- um clarão se fez presente junto com um trovão alto, engoli um pouco os ombros mas voltei ao normal.

- Você tem alguma...relação com o general Caleb?- queria rir alto mas apenas ri fraco, me virei para Mikael.

- Por que a pergunta?

- O olhar que ele te deu na muralha, apenas quero saber se não estou me metendo com uma pessoa compromissada.

- Não. Eu não tenho nenhuma relação com ele, Caleb é uma pessoa boa mas nunca o vi com segundos olhos.- olhei para mais um livro em uma estante.

- Kath.- o olhei e Mikael estava próximo. Outro trovão se fez presente, e Mikael me puxou pela cintura.

- Mikael, o que pensa que está fazendo?- digo olhando por cima do seu ombro, vendo se alguém ou algum guarda estava nos observando.

- Está com medo, assassina?- ele segurou meu rosto e passou o polegar de leve por cima do meu lábio inferior, olhei para seu rosto e seu coração começou a acelerar.

Então ele me beijou.

Fiquei alguns segundos paralisada, sem acreditar no que estava acontecendo, senti a outra mão de Mikael ir para a minha nuca. Fechei os olhos e meu corpo deixou de ficar tenso.

Quando senti o toque da língua de Mikael contra a minha, levei minhas mãos para o seu casaco e o segurei. Andei alguns passos para trás ficando com as costas na estante, nossas máscaras estavam caídas pelo chão.

Meu cérebro gritava para eu parar aquilo, para eu empurra-lo e corta-ló a garganta pela audácia, porém meu coração queria mais, pedia por mais.

Queria me perder naquela escuridão que eu tinha entrado.

A muralha entre reinosOnde histórias criam vida. Descubra agora