CAPÍTULO 2

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OLÍVIA

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OLÍVIA

Não vou durar muito.

Sinto minha pele queimando e o suor escorrendo, mesmo nevando ao meu redor.

Dói admitir, mas estou cada vez mais fraca, mais vulnerável. Apesar da mente cansada permaneço alerta para os ruídos ao meu redor, não desejo ser pega de surpresa mais uma vez no mesmo dia.

Sei que as coisas estão se complicando para meu lado, e a cada trote do cavalo fica mais difícil me manter na cela e não ceder a escuridão que tenta se infiltrar com um promessa de sonhos, mas sei que assim que fechar os olhos não vou abri-los de novo, morrer congelada na neve não é bem a forma que planejava de morrer, sempre imaginei mais glória em meu último suspiro.

Mas a sorte não está comigo a muito tempo, e meus desejos raramente se realizam.

Estapeio meu próprio rosto para me manter desperta, o tapa faz meu rosto já machucado latejar mas tem o efeito que eu preciso, a dor repentina me deixa mais desperta. Foco nos sons que vem da floresta ao meu lado, nos ruídos da estrada que me deixam tensa com a possibilidade de outra pessoa aparecer, foco em qualquer coisa que possa me distrair do sangue que sinto escorrer em minhas costas, da dor que parece mil demônios puxando e brincando com a pele destroçada.

A estrada rodeada pela floresta acaba, e dou de cara com montes de neve que se estendem até onde não posso mais enxergar. Vasculho cada canto em minha cabeça tentando lembrar para qual direção fica o vilarejo mais próximo, mas não consigo ter certeza de qual caminho seguir. Olho para o sol, apenas uma manchinha luminosa no céu cinzento, flocos de neve caem em meu rosto como plumas, a sensação seria adorável se eu não estivesse nessa situação deprimente. Não parece que vai demorar muito para escurecer, não chegarei a aldeia alguma hoje e talvez nem amanhã, o pensamento sombrio de jamais alcançar um destino e de só parar e me deitar na neve enquanto espero a morte me reivindicar é perturbadoramente sedutor.

Sobreviver.

Estou sobrevivendo a tanto tempo, apenas respirando e esperando os dias e anos passarem, a ideia de só... desistir e acabar com tudo parece um alívio. Não tenho nada, nenhum título ou lugar em que serei bem vinda nessas terras, não tenho ninguém a quem recorrer.

Não tenho nada.

Então para que lutar ? Por que seguir em qualquer direção se todas elas me levam a um lugar que não serei bem vinda, por que não pegar a adaga e simplesmente acabar com a dor que devasta meu corpo e ameaça levar minha sanidade, para que continuar sobrevivendo se a única razão para eu ter permanecido lutando até hoje é a mesma que me traiu, a mesma que indiretamente levantou o açoite contra mim ?

Porque ele vence, aquela vozinha sussurra em meus pensamentos.

— Porque ele vence — sussurro ao vento e continuo repetindo para mim mesma até as palavras se confundirem em minha cabeça, até eu parar de ser tão consciente da adaga presa em meu cinto.

Olívia (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora