#2. K

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Alguns minutos antes...

Assim que abro a porta da minha casa, após um jantar de comemoração do lançamento de uma campanha das minhas empresas, avisto minha empregada no hall de entrada. Ela me olha com os olhos preocupados.

Eram duas horas da manhã, ela já deveria ter ido embora.

-O que aconteceu? - Pergunto, esperando o pior.

-Bom, o senhor tem uma hóspede. - Ela diz, nervosa.

-Como assim uma hóspede? Eu não estou esperando ninguém.

-Sim, eu sei. Mas acho que o senhor terá que recebê-la mesmo assim.

-☆-

Eu estou fodido.

Não pouco, não mais ou menos.

Muito fodido.

O dia já havia sido uma merda: recebi a notícia que meu irmão estava voltando para a Turquia, tive uma reunião que durou a manhã inteira por incapacidade de funcionários que não quero ver tão cedo, tenho um melhor amigo idiota e quase demiti minha secretária pela milésima vez.

Bebo mais um pouco do meu uísque.

Minha secretária.

Deus sabe que eu tento fazer com que ela desista. Eu não posso demiti-la. Ela não faz nada de errado. Por mais absurdo que for o que eu a mande fazer ou por mais estúpido que eu seja com ela, a Srta Erçel ainda está lá, com um sorriso debochado no rosto como se dissesse: é o melhor que você pode fazer?

Eu a odeio.

É simpática demais. Agradável demais. Solícita demais.

Linda demais.

Passo a mão pelo rosto, para tirar esses pensamentos. Não vá lá, Kerem.

Ouço um barulho estranho e olho para o lado.

O motivo do meu colapso.

O motivo pelo qual estou sentado há quarenta e cinco minutos nesse balcão, bebendo minha terceira dose de uísque

Porra.

Como se não bastasse tudo isso, chego em casa e me deparo com essa bomba.

Olho para a carta em cima do balcão e a leio novamente:

Kerem,

Não sei se você se lembrará de mim. Nos conhecemos há alguns meses e tivemos ótimos momentos juntos. Porém, tivemos um acidente no percurso.

Você foi à farmácia comprar o remédio e deixou para mim antes de ir embora. E, acredite em mim quando digo que realmente acreditei que não fosse necessário. Nunca pensei que isso aconteceria comigo.

Ops, aconteceu.

Eu me debati por muito tempo e decidi que não te contaria. Eu já estava com muitos meses adiantada e não conseguiria fazer o aborto.  Então, conheci um casal que aceitou adotar esse bebê quando ela nascesse. Eu sou modelo, você sabe. Não poderia ficar com ela, isso acabaria com a minha carreira e eu nunca quis ser mãe.

Porém, o casal desistiu de última hora e eu realmente não posso ficar com ela.

Seu nome é Ayla, ela nasceu há dois meses. No envelope estão todos os documentos que você precisará para cuidar dela.

Sinto muito que tenha acontecido assim.

Adeus.

Defne

Puta merda.

Someone to youOnde histórias criam vida. Descubra agora