#30. K

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Sugestão de música: The Scientist - Coldplay

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Eu encaro a mulher na minha frente. Nas últimas duas semanas, tudo o que eu queria era que tivéssemos a chance de conversar, mas agora que ela está me dando essa oportunidade, não sei por onde começar.

Quase não acreditei quando a vi no saguão do hospital mais cedo. Eu tentei ligar para ela algumas vezes depois que a situação se acalmou e Ayla foi atendida, mas ela não me atendeu. Quando Ayla precisou fazer exames, uma das enfermeiras era Gamze, então pedi para que ela avisasse a irmã, mas não esperava que ela realmente aparecesse.

Apesar de ainda sentir o clima de tensão no ar, alguma coisa mudou. Ela não está hesitante ou insegura perto de mim, ela não vacilou nenhuma vez.

E ainda está disposta a me ouvir.

Eu sorrio, mas sai tenso. Decido ser totalmente honesto com ela.

-Não sei por onde começar.

Ela dá de ombros. - Acho que pelo começo. Por que não contou para seu irmão sobre nós dois?

Porra. Já começa assim? Se ela foi direta, eu também serei.

-Quando estava na faculdade, eu saia algumas vezes com uma menina. Não era nada demais e, pensando agora, eu nem gostava tanto assim dela. Um dia, a levei até minha casa, não era para meu irmão estar lá, ele nunca estava, então não vi problema em levá-la. Quando ele a viu, a humilhou de todas as formas possíveis. A simples ideia de ter uma mulher na minha vida o deixou louco. Ele pensava que isso tiraria o meu foco, que eu não me dedicaria 100% a carreira brilhante que já tinha traçado para mim.

Eu não olho para ela, estou apenas encarando Ayla pelas frestas do berço, mas sei que ela está olhando para mim. Eu continuo:

-Depois desse dia, eu nunca mais apareci com alguém. Não que tivesse tido alguma namorada oficial. - Eu falo, tentando brincar. Hande sorri um pouco. - Quando eu percebi que estava apaixonado por você e que correria o risco de vocês se encontrarem, prometi para mim mesmo que não permitiria que você passasse por essa situação.

-Isso soa um pouco hipócrita vindo de você, não acha? Depois de tudo que passamos quando trabalhávamos juntos.

Eu rio, não porque achei engraçado. Mas por perceber que eu estava indo para o mesmo caminho que Murat. Se Ayla e Hande não tivessem entrado na minha vida, eu teria me transformado nele.

-É, sim. Mas eu queria compensar. Queria te proteger de passar por ainda mais chateação. - Eu suspiro. - Não saiu como eu esperava.

-E o que esperava? - Pergunta.

-Que ele ficasse satisfeito e fosse embora. Eu nunca assumi ninguém, Hande. Se eu fizesse isso, ele saberia o quanto você é importante para mim e estouraria nossa bolha. Eu estava tão feliz com o que estávamos vivendo, não queria que acabasse.

-Então escolheu o que era mais fácil...

Eu a olho.

-Por que você acha que foi fácil?

Ela dá de ombros. - Não sei. Se você falasse a verdade, teria que enfrentar depois. Então ocultando você ficaria livre, sabe, de me assumir, não ficaria envergonhado e...

Someone to youOnde histórias criam vida. Descubra agora