#31. H

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Abro os olhos e estico os braços, me espreguiçando. Olho ao redor observando todo o cômodo. É estranho estar de volta e ao mesmo tempo não é.

Eu pensei que não voltaria mais, mas agora que estou aqui, me sinto em casa novamente.

Olho para o relógio e já se passou um pouco mais do meio dia. Caramba, eu dormi por quase quatro horas. Levanto e vou me arrumar. Quando termino, vestindo uma das poucas roupas que ficaram, vou até o quarto de Ayla. Ela continua dormindo profundamente. Por mais que ela tenha dormindo muito no hospital, não é a mesma coisa. Ela deve estar exausta de tudo o que tem acontecido.

Sinto um peso no peito por eu ter sido a responsável por isso. Eu nunca quis abandoná-la. Mas eu precisava me afastar. Tudo estava muito intenso, e eu estava à duzentos quilômetros por hora correndo em direção à Kerem. Quando tudo aconteceu, foi como se tivesse ido direto para uma parede.

As coisas voltarão ao normal agora. Devagar, mas voltarão.

Fiquei pensando em tudo que Kerem me disse a maior parte da noite. A minha vontade foi de me jogar nos braços dele e voltarmos a ser o que éramos, mas não ainda não consigo deixar a insegurança de lado, a dorzinha no peito toda vez que me lembro do que aconteceu.

Eu realmente acredito em tudo o que ele me disse. Que me contaria depois, que não era como ele se sentia e que foi para me proteger. Eu acredito.

Mas na prática... é outra história.

Apesar dele não admitir, eu sei a dependência emocional que ele tem com o irmão. Ele tenta bravamente ir contra, mas é algo que ele começou a se dar conta somente agora.

Eu preciso ter certeza que, quando Murat aparecer, ele não terá influência sobre a vida de Kerem. Não preciso mais que ele nos assuma para o irmão. Pensando melhor durante a noite, concordo com o que Serhat disse e com o que Kerem fez, prefiro mesmo que Murat fique no escuro quanto a minha existência.

Mas a razão principal está além disso. Ele não tem que se impor por mim, nem por Ayla. É por ele mesmo.

Chegou a hora dele cortar essa ligação.

Eu sei que ele conseguirá. Eu não o deixarei sozinho, não fugirei de novo. Mas é algo que ele terá que fazer ele mesmo, mesmo que signifique que terei que nos manter um pouco afastados.

Procuro a babá eletrônica pelo quarto mas não a encontro. Franzo as sobrancelhas, será que Kerem já acordou? Ele também estava morto, a noite no sofá não foi nada confortável.

Desço as escadas e vou em direção à cozinha. O encontro encostado no balcão encarando a geladeira com uma xícara de café nas mãos. Ele está de jeans, blusa azul escuro e descalço.

-Oi. - Eu digo e ele se vira para mim e sorri.

-Oi, conseguiu descansar? - Pergunta, pegando uma xícara e colocando-a no balcão para mim.

Decido ignorar a parte em que dormi no quarto de Ayla e, magicamente, acordei no meu.

-Aham. - Respondo, me sentando na cadeira alta. - Tinha esquecido como aquela cama é boa.

Ele ri, servindo o café.

-Fico feliz. Preciso ir comprar o remédio para Ayla, acabamos esquecendo quando saimos do hospital. Só estava esperando você acordar para poder ir.

Eu franzo a sobrancelha.

-Você não descansou também? - Pergunto.

-Não. - Ele balança a cabeça antes de tomar um gole do café.

Someone to youOnde histórias criam vida. Descubra agora