#46. K

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Sugestão de música: Thinking out loud - Ed Sheeran

-☆-

Sinto uma mãozinha no meu rosto, mas mantenho meus olhos fechados. Muito cedo, Ayla. Ouço uma risada abafada de Hande e tenho quase certeza de que ela sabe o que eu acabei de pensar.

Mas não me importo, continuo fingindo que estou dormindo. Talvez elas desistam e eu consiga dormir por pelo menos mais dez minutos.

Não dura muito. Ayla fica em pé, usando meu ombro de apoio e depois meu rosto, eu faço uma careta quando ela quase arranca o meu olho com o dedinho no processo. Ela então deita todo o corpinho na minha cabeça e começa a rir.

Não abro os olhos para conferir se Hande ainda está no quarto, mas acredito que tenha só deixado Ayla na cama e saído. Então, com medo de que ela caia, tiro Ayla da minha cabeça e a coloco deitada do meu lado e a abraço.

-Shiii, mimi agora. – Eu falo.

-ÃO! – Ela diz, divertida. – Coda.

Eu sorrio. Coda, de acorda, é uma das minhas palavras preferidas dela. Ainda mais quando usa no momento certo. Eu a puxo mais para perto, ainda fingindo dormir.

-Vamos dormir só mais cinco minutos e o papai promete que brinca o quanto que você quiser depois.

Por incrível que pareça, ela fica quieta, eu nem ouso respirar direito na esperança de que ela durma novamente. Mas alguns minutos depois sinto uma mãozinha no rosto, delicada, passando pela minha bochecha, subindo e descendo, do jeito que eu faço com ela quando a coloco para dormir.

Abro um dos olhos e vejo Ayla me encarando, com os grandes olhos verdes bem abertos e o bico na boca. Eu sei que eu sou seu pai e que ela depende de mim para tudo, mas porra... Quando ela olha para mim assim, com tanto amor no olhar, como se eu fosse todo o seu pequeno mundo... Meu coração erra as batidas ao constatar seu amor incondicional.

Sinto o colchão se mexer e mão de Hande se aproximar do meu rosto, limpando algumas lágrimas. Eu nem havia percebido que estava emocionado e nem que ela ainda estava na cama.

Estico meu braço e a puxo mais para perto e nós três rimos quando esmagamos Ayla no meio. Dou um beijo na testa de Hande.

-Bom dia, linda.

Ela sorri, se aconchegando no meu braço.

-Bom dia. – Hande enruga o nariz. –  Ela madrugou hoje. Tinha esperança de que ela pudesse dormir se a colocasse aqui.

Eu franzo a testa.

-Que horas são? – Pergunto.

-Cinco e meia.

-O que? Puta merda, Ayla. – Eu reclamo, passando as mãos no rosto.

-Kerem... – Hande diz, mas está com sono demais para brigar comigo. 

-Desculpa, mas dessa vez ela se superou.

-Eu sei! Eu até fiz uma mamadeira, mas assim que ela te viu o foco mudou.

Sorrio, contente. Ayla está distraída, puxando a tromba do seu elefante de pelúcia e conversando sozinha.

-Onde está? – Pergunto.

Hande se afasta e se senta na cama, esticando o corpo para pegar a garrafa na mesa de cabeceira. Ela balança para misturar o líquido dentro e isso chama a atenção de Ayla.

Ela dá um gritinho, falando alguma palavra ininteligível e estica os bracinhos, abrindo e fechando os dedos. Hande se deita na cama novamente e puxa Ayla mais para perto, ela se aconchega no colo da mãe, segurando a mamadeira com uma mão e enrolando o cabelo de Hande com a outra. 

Someone to youOnde histórias criam vida. Descubra agora