#28. K

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Sugestão de música: Arcade - Duncan Laurence

-☆-


Eu olho para Hande congelada com uma vasilha na mão. Vejo o cupcake em cima do balcão e sei que ela está preparando a cobertura. Eu pisco algumas vezes, olho para trás e depois novamente para ela só para garantir que não estou tendo nenhuma alucinação.

-Hande? - Eu a chamo, apenas para conferir se ela é real mesmo.

-Oi. - Ela responde, timidamente.

Eu sorrio. Porra, provavelmente não é o momento para isso mas, porra! Ela está aqui! Parada na minha cozinha, na minha casa e... isso é inacreditável.

-Você está aqui. - Eu falo estupidamente.

Ela cora, sem graça. Ela olha para mim nervosamente, e então franze as sobrancelhas.

-O que aconteceu com seu rosto?

-O que? - Instintivamente, levo a mão ao rosto. Me lembro da mancha amarelada na bochecha. - Ah, isso? Foi um acerto de contas. - Ela franze ainda mais as sobrancelhas. - Não se preocupe, você tinha que ver como o outro cara ficou.

Eu brinco, mas não parece agradá-la. Eu limpo a garganta. Porra, estou muito nervoso. 

-Desculpa, linda. É só que eu não esperava te ver e... - Eu dou um passo para me aproximar dela, mas ela recua. -Merda, desculpa. Mas eu estou tão feliz em ver você.

-Eu vim para ver Ayla. Sei que na atual situação não é exatamente o ideal, mas eu precisava vê-la.

Eu balanço a cabeça. Claro, claro.

-Tudo bem, eu só não esperava que você ainda estivesse aqui.

-Espera - Ela para e franze as sobrancelhas. - O que quis dizer com ainda estivesse aqui? Você sabia?

Tenho que me segurar para não revirar os olhos. Ela realmente pensou que eu não notaria? Porra, Ipek é a pior mentirosa que existe. Uma ótima pessoa, mas uma péssima mentirosa.

Ela pensou que eu não fosse perceber os pincéis dentro d'água? As roupas faltando no armário? A única coisa que tenho feito, além de cuidar da minha filha, é ficar naquele maldito quarto de pintura olhando para cada canto. Outra, Ayla passou quatro dias seguidos sem dormir, agitada e chorosa... E do nada, simplesmente como um passe de mágica, ela está ótima, dormindo a noite inteira e feliz.

Me dê um pouco de crédito, porra!

-Kerem? - Ela chama minha atenção.

Eu suspiro. - Sim, eu sabia.

-E por que não disse nada? Por que deixou?

Dou de ombros.

-Foi uma das coisas mais difíceis que tive que fazer na vida, Hande. Eu sabia que você precisava de um tempo longe, mas que não conseguiria ficar longe o bastante por causa da Ayla. Eu só quis facilitar as coisas para você. E funcionou, não foi? Porque você está aqui. Eu avisei Ipek que estava voltando mas você ainda está aqui. Isso significa que você voltou, certo? Então podemos recomeçar e...

-Eu não voltei. - Ela diz, sem olhar nos meus olhos.

Eu paro. Tento controlar a respiração. Tenho a sensação que, o que sobrou do meu coração, sairá a qualquer momento do meu peito.

-O que? - Pergunto.

-Eu sinto muito, Kerem. Mas eu não consigo fazer isso agora.

Eu passo a mão pelo rosto. Só pode ser brincadeira.

Someone to youOnde histórias criam vida. Descubra agora