Fernanda uma vez mais agradeceu pelos pêsames que recebeu de uma pessoa que dizia ser mais um amigo de serviço de Enrico. Por mais que tentasse estar ali, de corpo, alma e coração, ela sabia que se encontrava distante, muito distante do local onde o corpo sereno de seu marido agora descansava.
Franziu sua testa, equilibrando-se sobre os saltos de seu sapato preto assim como o restante de suas roupas. Fechou seus olhos antes que sua cabeça se virasse uma vez mais para o centro da luxuosa sala onde cerca de duas dezenas de pessoas se centralizavam, falando em tom baixo, servindo-se de algumas bebidas, lamentando e chorando pela morte de seu marido que alheio a todo aquele sofrimento descansava em paz em algum lugar do paraíso o qual ela não mais podia encontrá-lo nesta vida. Apertou seus olhos com força, com seu rosto assustadoramente pálido contorcendo-se em uma careta de dor, com suas mãos trêmulas cobrindo seus lábios, segurando um soluço que a rasgaria em prantos doloridos uma vez mais.
Ao seu lado, um assustado, emocionado e frágil menino abraçava suas pernas, recebendo em sua cabeça repleta de cabelos lisos o carinho de sua mãe.Queria tirar Lucas dali. Queria desaparecer dali com seu filho até que Enrico se levantasse daquele leito e lhe dissesse que tudo aquilo não passava de uma brincadeira de mal gosto.Queria tirar Lucas dali, colocá-lo em seus braços e lhe dizer que papai estava apenas brincando, que papai não estava no paraíso, que papai logo acordaria, os abraçaria e continuaria os amando como sempre havia sido.Queria tirar aqueles malditos saltos... Queria tirar aquele maldito e elegante coque, queria rasgar sua roupa em pedacinhos, expulsar aquelas pessoas conhecidas, queridas e desconhecidas do campo de sua visão. Queria que Enrico ao menos não levasse aquela expressão serena em seu rosto pálido e desprovido de vida como se tivesse partido em paz, sem deixar ninguém ali!
Como ele pôde fazer isto? Como ele pôde apenas partir deixando-a ali com o filho tão amado que havia sido trazido em seus braços para a veneração e o delírio de Fernanda? O que ela faria agora? Como ela cuidaria sozinha de Lucas? Como ela sobreviveria àquele Funeral?Mesmo sem as respostas o final do Funeral chegou.
E como havia pedido para os encarregados da cerimônia, tudo foi muito breve, significativo e simplório.Antes das cinco da tarde Enrico já repousava debaixo da terra de um dos mais bonitos e bem cuidados cemitérios de Manhattan.
Lucas deixou-lhe flores, desenhos, beijos e lágrimas. Fernanda deixou-lhe seu amor, seu carinho e toda sua dedicação como esposa e mulher durante os anos que formaram aquele sólido casamento.
Dezenas de limusines pretas deixavam o local, enfileiradas, tomando o caminho que os levaria até a casa de Fernanda onde uma breve e íntima recepção aconteceria uma vez mais.Dentro do grande carro à sua frente encontrava-se Marina, que distraída levava o pequeno Joaquim em seu colo. A mãe deste estava ao lado da janela, provavelmente longe dali também.
Lucas estava em seu lado, deitado em seus braços como um bebê, com seus olhinhos fechados e inchados indicando que dormia profundamente.Era certo que ela também queria fechar os olhos. Era certo que sua cabeça latejava pelas horas sem dormir, pelo baque que fora reconhecer o corpo de Enrico, pela exaustão que foi organizar um funeral em menos de 24 horas.Fechou seus olhos com força, os abrindo apenas quando sentiu outros olhos sobre si.
Era Joaquim, que do colo de Marina mantinha seus olhinhos fixos no rosto de Fernanda. Ela o encarou com seriedade, curiosidade, perguntando-se o que se passava na cabecinha daquele menino naquele instante.Fernanda percebia perfeitamente que ele estava assustado e cansado. Fernanda percebia perfeitamente que ele observava tudo com grande atenção desde a primeira vez que havia o visto. Era como se ele estivesse computando cada imagem, armazenando informações em sua pequena cabecinha.
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A FALTA QUE VOCÊ ME FAZ
FanficAs consequências de um perda. Inquebrável ligação. A química. Os olhos dele. O sorriso dela. A falta que você me faz.