Demorou apenas um minuto para Dulce dar-se conta do que acontecia.A energia que a envolvia a transportava para uma espécie de encantamento que vinha acompanhado da trilha sonora mais rica que havia escutado em sua vida.
Forte... Vivo, estava ali seu coração.
Estava ela ali, sozinha, no meio daquela sala, sentindo uma vez mais seu corpo encher-se como uma piscina, com seus sistemas adormecidos trabalhando de forma árdua para reconstruir novamente um organismo que havia estado meio morto desde o mês de dezembro.
O telefone tocou para avisar-lhe algo que já sabia. Levantou-se de imediato, com seus olhos arregalados procurando a chave de seu carro quase não utilizado por ela nos últimos meses. Não pegou sua bolsa ou seus documentos. Correu pelos corredores de sua casa, trancando a porta com suas mãos trêmulas denunciando a forma como se conectava ao mundo uma vez mais, fazendo parte de um lugar, ocupando um espaço no universo, atrapalhando-se com seus passos, com sua respiração, recebendo as boas-vindas de um Deus que possivelmente havia escutado suas preces, dando-lhe uma terceira chance de viver a vida, de fazer parte de algo maior, muito maior do que qualquer outro ser humano fora capaz de entender.
Acelerou o carro, não percebendo seu rosto molhado até que mirou seus olhos no retrovisor, reconhecendo pela primeira vez em tantos meses a mulher refletida no espelho. O som de seu coração tornou-se mais urgente. As batidas tornaram-se ainda mais aceleradas, selvagens. O vento da manhã batendo contra seus cabelos trouxe-lhe a breve sensação de que as coisas ao seu redor aconteciam em câmera lenta, como se os anjos ou o mundo quisesse lhe mostrar detalhes que Dulce não havia visto antes, detalhes que sua meia-morte havia lhe roubado.
Dirigiu com mais velocidade, batendo a porta do carro quando chegou ao hospital, não se importando em travá-las porque não havia nada mais no mundo que alguém pudesse lhe roubar. Não usou o elevador. Não pediu por informações e nem ouviu a voz de Christian gritando-a pelo nome.
Apenas seguiu aquelas batidas que brindavam a vida, apenas seguiu aquelas batidas que existiam porque o homem de sua vida havia as requisitado.
Era assim que acontecia? Era assim que uma mulher como ela era avisada por Deus que havia acontecido um milagre? Era daquela forma desesperada e intensa que as pessoas viviam? Era daquela forma alucinada e inabalável que os Homens se amavam? Porque para evoluir, amadurecer e vencer na vida eram necessários tantos sofrimentos, tantas batalhas e tantas derrotas? Porque não era fácil? Porque não era sempre prazeroso? Porque não era sempre somente sorrisos, ganhos e alegrias? A resposta certamente era simples. Tão simples que nenhum mortal ainda havia a encontrado. Os mortais são complexos, imperfeitos, amantes do amar e incapazes de aprender pelo caminho mais fácil quando o mais difícil tinha uma série de complicadas lições para ensinar.
Dul – Onde ele está?
- Temos que lhe falar algo importante, acho que...
Dul – Eu sei, sei o que vai falar, eu posso sentir. Onde ele está?
- No terceiro quarto, querida. – Dulce assentiu, agradecendo em voz baixa, voltando a correr pelo andar conhecido da UTI, entrando no quarto indicado pela enfermeira, parando há alguns metros de distância de um homem acordado, levemente sentado e que sem dúvidas esperava a sua chegada.
Chris – Eu gosto da casa. Ele disse, e então Dulce fechou seus olhos, com sua testa se franzindo, com suas pernas lhe faltando ao sentir em seu corpo aquela poderosa descarga de adrenalina passando, dando lugar aos sentimentos mais belos que havia no mundo.
Encostou-se a parede, voltando a abrir os olhos, negando com a cabeça, impedida por seus soluços de dizer a Christopher todo o imenso amor que guardava dentro de seu pulsante coração. Ele se emocionou, tombando a cabeça para o lado com seu rosto magro e ainda pálido expressando a intensidade com a qual podia sentir as lágrimas da mulher à sua frente. Cerrou o maxilar, engolindo a saliva com cuidado, esperando que ela liberasse aquele pranto para então se aproximar, abraçá-lo e chorar com ele.
Os soluços a sacudiam, prendendo-a no lugar no qual se encontrava, dando a Christopher apenas uma pequena noção, uma mínima noção da falta que havia feito para ela.
Chris – Toque-me. – Ele murmurou, desviando seu olhar por alguns segundos, limpando com velocidade as lágrimas que escorriam por sua face, deixando seus olhos e seu nariz avermelhados, em contraste com sua pele extremamente branca.
Dul –Nunca mais me faça isso. – Continuou a negar com a cabeça, buscando ar, ciente de que sua respiração lhe faltava. – Está escutando? – Ergueu-se, correndo até ele. – Nunca mais volte a me fazer isso porque eu não vou aguentar. – Christopher assentiu com a cabeça, mirando-a com sua costumeira intensidade, estendendo sua mão, tocando-a finalmente, puxando-a para os seus braços, sentando-a em seu colo sobre a cama, de frente para seu corpo magro e ainda fraco.
Chris – Perdoe-me. – Abraçou-a com força, beijando-a nos lábios, recebendo beijos, misturando suas lágrimas com as dela, agarrando-a pela cintura, pelas coxas, trazendo-a para mais perto de seu corpo como se nenhuma proximidade fosse o bastante para suprir aquelas saudades.
Segurou-a pelos cabelos avermelhados, enlouquecido por aquela cor, embriagando-se por aquele cheiro de mulher... Por aquele cheiro de sua mulher. A necessidade que ela tinha de tocá-lo, principalmente no rosto antes tão machucado estava um grau acima do desespero.
Dul – Meses Christopher... Você dormiu por meses. – Soluçou com força, beijando-o demoradamente nos lábios, deixando de fazê-lo somente pelo fato de precisar tomar fôlego e deixar de soluçar. – Nunca mais me faça isso.
Chris – Está tudo bem. – Acalmou-a, segurando seu rosto perfeito e avermelhado com as duas mãos, presenteando-a com um sorriso deslumbrante e emocionado. – Está tudo bem agora.
Dul – Não vivo sem você. ESTÁ ESCUTANDO? NÃO POSSO VIVER SEM VOCÊ! – Ele assentiu, sorrindo com mais intensidade, beijando-a por todos os lados, acariciando-a com desespero e amor, afastando-lhe os cabelos dos olhos para poder mirá-los com liberdade, deliciando-se com aquela intensidade, perdendo-se em suas próprias emoções. - Maldito! –Abraçou-o com força, segurando-o pelos cabelos muito mais cumprido do que o habitual. –Maldito bastardo egoísta.
Beijou-o com paixão, com as lágrimas escorrendo por seu rosto, com um gemido abafado escapando de sua boca ao sentir a forma como todos os seus sistemas respondiam a ele, ao sentir a forma como ele a puxava para seu corpo, abraçando-o com todo seu coração.
Chris – Sim, eu sou. Chore... – Não limpou suas lágrimas dessa vez, fechando seus olhos, segurando sua mulher em seus braços. – Chore porque eu juro por Deus que é a última vez que o fará. – Mirou-a, beijando-a rapidamente, intimamente. – Sem mais lágrimas Dulce. – Ela assentiu, liberando seu pranto contido. – Sem mais faltas. – Soluçou, assentindo com a cabeça, sorrindo e chorando com ela, por ela. – Nossa vida será até chata de tão tranquila. Sem mais dores... Eu amo você mulher, amo você dos pés a cabeça e eu sinto muito, sinto muito que nosso amor seja assim tão devastador e intenso. Eu sinto muito por não ter encontrado outra forma de dizer o quanto eu te amo sem ser colocando-me á sua frente para receber aqueles disparos. Eu vou aprender... – Sorriu, fechando seus olhos, encostando suas testas ao perceber que ainda não podia com tamanha intensidade. – Eu vou aprender dizer que sou apaixonado por você de outras formas!
- Quem conseguiu avisá-la que ele havia acordado? – Christian sorriu, respirando aliviado pela primeira vez em tantos meses, não ousando entrar no quarto e atrapalhar aquele momento. Mirou a enfermeira, negando com a cabeça.
Christian – Ninguém. – Respondeu simplesmente, porque era a mais pura verdade.
- Mas... Ela chegou aqui sabendo que ele estava acordado.
Christian – Não tente entender. – Sorriu, deixando seu corpo cair sobre uma das cadeiras da recepção. – Eu até hoje não entendo muito bem. É uma espécie de conexão.
- Conexão?
Christian – Sim... – Christian fechou seus olhos, decidindo que era hora de agradecer por aquele milagre. – Uma espécie rara de conexão.
Posto o Epílogo hoje ainda!! Quem amou?
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A FALTA QUE VOCÊ ME FAZ
FanficAs consequências de um perda. Inquebrável ligação. A química. Os olhos dele. O sorriso dela. A falta que você me faz.