Tirou o carro garagem com pressa, dirigindo com grande velocidade até o parque que pensavanão mais existir. Estacionou o carro observando os brinquedos já gastos, a grama antes verdeagora destruída...
Dul – Não o empurre muito alto Christopher.
Chris – Não seja chata Dulce, olhe para ele, está adorando!
Para a sua desgraça a avistou atrás de um balanço vazio, o empurrando com um breve sorriso no rosto. Deixou de caminhar, porque sabia que se fechasse os olhos como ela fazia nesteinstante, podia imaginar Leonardo ali sentado, rindo a gargalhadas, batendo palminhas,animado, acenando para as demais crianças como ele sempre fazia.
Voltou a caminhar,lentamente, com o vento cortando seu rosto ainda avermelhado, com o vento balançando oscabelos avermelhados da mulher que ele logo alcançaria.
Estava frio, tão frio... O dia era tão escuro, levemente melancólico ou até mesmo triste. Parouatrás dela, sabendo que ela, mesmo sem abrir os olhos sabia que ele estava ali, bem ali,sentindo seu perfume natural, sentindo a carícia de seus cabelos ao vento que lhe batiam norosto e no rosto dela, o recordando das noites em que faziam amor com loucura e essesmesmo longos cabelos ficavam espalhados por sua barriga, por suas costas, pelo travesseiroao seu lado na cama.
Ela não deixou de empurrar a balança. Nem se virou para dizer algo, uma palavra, qualquerpalavra para ele.Christopher segurou suas mãos colando seu corpo por trás do dela sem nenhuma malícia.Impedindo que ela continuasse com aquele movimento.Dulce deixou de sorrir, abrindo seus olhos para mirar o vazio absoluto de um lugar que já forapalco dos momentos mais belos de sua vida.
O vento bateu com mais força contra seu rosto, seus cabelos... Suas mãos apertaram as mãosde Christopher, sua cabeça tombou para trás, repousando sobre o peito dele.Pôde sentir as mãos dele apertando suas mãos também, os braços se fechando em torno desua cintura, deixando que algo - que nenhum dos dois sabia ao certo o que era - acontecer nosminutos que seguiram...
Nos minutos em que o vento soprava com fúria, em que o tempo sefechava ainda mais, como se reprovasse aquele consolo, aquelas saudades que pareciaminocentes, que deveriam ser inocentes.Não havia nada mais ali, naquele espaço esquecido e abandonado de alegria.Somente o tempo, duas pessoas, dois pais...Dulce encolheu-se ainda mais, entrelaçando seus dedos com os dedos de Christopher,prometendo a si mesma que isso duraria apenas mais alguns minutos. Prometendo a si mesmaque seu egoísmo, sua péssima conduta e sua gritante falta de direitos lhe avisaria para sair daliem poucos minutos, pouquíssimos minutos.
Chris – Quem sabe sobre ele, Dulce?Ele murmurou em seu ouvido e Dulce podia sentir o coração dele bater acelerado em suascostas, exatamente como seu coração havia feito quando havia recebido a ligação de Torres.
Dul – Delegado Torres. – Estremeceu-se, sentindo seu corpo arrepiar-se dos pés a cabeça,como se estivesse revivendo naquele instante o momento o qual havia atendido ao telefone. –Ele falava da Central de Busca de Crianças Desaparecidas, aquela que...
Chris – Eu sei. – Ele uma vez murmurou e Dulce perguntou-se se os olhos dele também seencontravam fechados, se ele possuía aquela expressão tão intensa e familiar em seusemblante de quando falava nesse tom de voz, com essa proximidade.
Dul – Uma senhora foi presa por tráficos de Drogas, uma senhora americana, que diz terinformações sobre as crianças desaparecidas naquele mês... Eles mostraram as fotos dascrianças e ela reconheceu nosso filho. – Christopher lentamente separou-se de Dulce, tendoconsciência da proximidade a qual se encontravam, tendo consciência de que não deveria,apesar de todas as circunstâncias, a segurar em seus braços daquela forma tão íntima esaudosa. Ela entendeu, pois se afastou ainda mais, sentando-se no balanço, recompondo-semais rápido do que se julgava capaz.
Chris – Está dizendo que uma senhora americana foi presa?
Dul – Sim, uma senhora americana foi presa na fronteira do México. – Christopher franziu atesta, sentando-se no balanço vazio ao lado de Dulce. – Ele parecia um pouco... Eu não sei,falava baixo, pausadamente, como se fosse importante fazer com que eu entendesseclaramente o que ele dizia. Eu entendi. – o mirou nos olhos – Ele me disse que ela estavaneste instante sob custódia da polícia Mexicana, mas que era uma cidadã americana e por issoa Polícia Federal dos Estados Unidos a queria de volta.
Christopher franziu ainda mais a testa, apoiando seus cotovelos em seus joelhos, esperandoque ela falasse mais.
Dul – Disse que uma das exigências dela era um bom advogado e um bom acordo, que sóassim falaria algo sobre as crianças que disse conhecer.
Chris – Delegado Torres? – perguntou. – Eu não me lembro de ter falado, ou conhecidonenhum Delegado Torres.
Dul – Ele era novo quando fomos lá, quando íamos lá. – Baixou sua cabeça. – Ele disse que aPolícia Federal dos E.U.A, pode estar a protegendo. – Christopher ergueu sua mirada,observando-a com seriedade, encorajando-a continuar. – Disse que isso pode ser um caso deTráfico de Crianças e que talvez a Polícia dos Estados Unidos não queira um escândalo, o quede fato aconteceria se essa senhora realmente soubesse de algo sobre o meu filho e as outrascrianças.
Chris – Um Delegado lhe passou essas informações, lhe disse tudo isso?
Dul – Sim, disse também que trabalhavam em um sistema falho, onde os fracos mandavamnos mais fortes e que não saberia o que poderia acontecer se essa senhora fosse deportada...Disse que esperava ordens de superiores, que voltaria a me ligar e que se nós fossemoschamados para um novo depoimento, não dizer em hipótese nenhuma que ele havia me ditoessas coisas, certas coisas... – Christopher levantou-se, com o vento soprando cada vez commais intensidade, o dia tornando-se cada vez mais escuro. – Tentei prestar atenção no tom queele usava e notei certo receio, talvez... Eu não sei, como se ele realmente não pudesse estarme dizendo o que disse, como se estivesse sendo vigiado. Pediu para que eu falasse comvocê, que contasse o que havíamos conversado. Falou para fazermos barulho. – Os olhos deChristopher miraram o horizonte. – Falou do sistema e falho e disse que eu precisava saber,que alguém precisava saber.
Dulce mirou com atenção o semblante de Christopher.
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A FALTA QUE VOCÊ ME FAZ
FanfictionAs consequências de um perda. Inquebrável ligação. A química. Os olhos dele. O sorriso dela. A falta que você me faz.