Capítulo 4 - 2

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O trio musical foi substituído por uma orquestra completa. Ela concentrou-se no mestre-de-cerimônias da casa, um homem de meia-idade que tinha um sorriso nos lábios.

— Senhoras e senhores, eu gostaria de lhes agradecer por terem escolhido o Club Paradise para este encontro romântico. Como devem saber, nossa única finalidade aqui é fazer com que tenham horas agradáveis. Todas as noites tentamos um meio de lhes fornecer programas interessantes. Esta noite, exibimos o casal mais lindo que selecionamos.

A multidão aplaudiu.

Dulce lembrou-se das palavras que o fotógrafo dissera a Christopher. E apareceu a foto dela e de Christopher projetada na parede, no centro de muitos outros casais, como acontecera ao entrarem na sala de jantar.

— O fotógrafo da casa tomou a liberdade de tirar algumas fotos. Os casais sentados às mesas sete, quinze, dezesseis, vinte e três, trinta e cinquenta e seis, por favor venham para o palco.

Christopher colocou seu garfo sobre a mesa e levantou-se.

— Venha — disse a Dulce —, estão nos chamando.

Ela arrumou os cabelos, ajustou as alças do vestido, respirou fundo.

— Dulce, querida, venha — ele disse de novo. — Trata-se de uma brincadeira inocente. Venha.

— O que vão querer que a gente faça? — ela perguntou, tomando a mão que Christopher lhe oferecia.

Christopher andou tão depressa que ela quase teve de correr para acompanha-lo. Chegaram ao palco e o mestre-de-cerimônias alinhou-os de acordo com o número da mesa. Perguntou o nome a cada um. Quando os sobrenomes não coincidiam, a audiência dava uma gargalhada.

Depois o mestre-de-cerimônias perguntou a cada casal o número do quarto que ocupavam. Quando chegou a vez de Dulce, ela sentiu o rosto pegar fogo.

— Alô, mesa vinte e três. Como é seu nome?

— Querida. Bem... meu nome é Querida.

— Entendo. Ok, Querida, é sua primeira visita ao Club Paradise?

— É.

— Ótimo. E você, cavalheiro? Como é seu nome?

— Senhor Querido — Christopher respondeu, escondendo um sorriso.

— Então, sr. Querido e sra. Querida, estão em lua-de-mel?

— Não! — Dulce quase gritou.

— Sim! — disse Christopher ao mesmo tempo.

Os presentes aplaudiram, rindo muito.

— Muito bem, sr. e sra. Querido, que estão ou não estão em lua-de-mel, falem-nos sobre vocês. Onde se conheceram?

—Na escola. Nos conhecemos na escola — Dulce sussurrou. Isso, ao menos, era verdade.

— Entendo. E conte-nos, sr. Querido, foi amor à primeira vista ou ela o fez sofrer?

Se o chão se abrisse e a engolisse naquele momento, Dulce teria gritado de alegria. Christopher continuava jovial, mas não sorria com os olhos. Dulce segurou a respiração enquanto esperava pela resposta dele. Que tipo de mentira diria agora?

— Amor à primeira vista, naturalmente. — Christopher fitou-a por alguns segundos. — O que mais poderia ter sido?

A audiência aplaudia, enquanto o mestre-de-cerimônias agradecia a ambos e continuava com as perguntas para o resto da fila.

— Muito bem, todos. Vamos agora continuar com o jogo — ele disse, subindo no palco. — Nossos casais irão dançar e, enquanto isso, vocês, audiência, votarão em quem pensam ser o casal melhor combinado — no modo como se veste, no modo como dança, ou simplesmente no modo como respondeu às perguntas. No fim da música irão votar. Há papel e lápis em cada mesa. Os garçons passarão para coletar os votos, e o casal vencedor será anunciado na festa de praia amanhã, no nosso luau.

O mestre-de-cerimônias percorria as mesas dos concorrentes dando a cada um deles o número da mesa, de novo. A orquestra iniciou uma música suave. Christopher tomou Dulce nos braços.

— Vamos dançar.

— Vamos. Mas, por favor, não fique zangado comigo se pisar em seu pé. Sou ótima em fazer isso.

— Siga meus passos. Esta competição está ganha.

Dulce dançou muito bem, guiada por Christopher. Jamais se divertira tanto como naquela noite. Christopher era um excelente dançarino, o que Dulce atribuía ao atletismo dele. Fora fácil segui-lo na pista. Quando terminaram de dançar, a audiência aplaudiu-os.

Agora, caminhavam pelo salão. Christopher segurava-lhe a mão, como se fossem namorados. Era uma noite quente, o vestido dela perfeito, e estava com um homem que secretamente admirara por anos. Se o mundo fosse acabar naquele instante, ela iria para o céu como uma mulher feliz.

Por que demorara tanto para se liberar de convenções absurdas e se divertir um pouco?

Olhou para Christopher, alto, elegante, atraente. Entraram no hotel, mas em vez de irem aos elevadores, ele levou-a ao terraço do lado oposto ao saguão. Apreciaram a vista da noite.

— Você já parou alguma vez para olhar as estrelas, Dulce? Olhar mesmo, quero dizer.

— Às vezes. Mas devo confessar que não entendo nada de astronomia.

— Há um outro mundo além do nosso, que não podemos imaginar como é. Isso me humilha de um modo que não consigo lhe explicar como.

— Não sabia que você era um poeta, Christopher. Diga-me, por que não se graduou em Astronomia em lugar de Administração, na universidade?

— Pela mesma razão que você não se graduou em inglês e começou a escrever seu livro. É horrível se viver tentando satisfazer as expectativas de nossos pais.

Estaria Christopher procurando dizer-lhe que havia uma conexão entre eles dois que ia mais adiante do que a de colegas de classe?

— Aprendi a aceitar isso. E porque você não aceita? Li muito sobre sua firma no Post. Falava-se que sua companhia...

— A companhia de meu pai.

—Ok. De seu pai. Falava-se que era responsável pela eleição de um quinto dos senadores. Um recorde impressionante. Você não gostaria de ser senador? Não acha esse um emprego importante?

— Se o senador honra sua posição, sim. Às vezes me pergunto se é verdade.

— Eu lhe perguntaria então por que continua trabalhando na firma. Mas desconfio que é pela mesma razão que eu continuo na escola. Contudo, é um homem de sorte. Pode desistir de seu cargo a qualquer hora, pois não é a única pessoa para sua posição, como eu sou na escola.

— Ela não queria lhe contar que às vezes se sentia como uma prisioneira, e desejava abandonar tudo.

— Se eu saísse, a escola fecharia e centenas de anos de serviços à comunidade sumiriam.

— Você não ousaria fazer isso, verdade?

— Não. O melhor é irmos para nosso quarto.

Christopher estava acostumado a usar seu charme, mas naquela noite tudo acontecia de maneira diferente. Ele fora bastante esperto em sobreviver ao desdém de seu pai e em esconder do mundo sua pouca habilidade. De forma alguma confessaria a Dulce que, se deixasse o trabalho com seu pai, a única coisa que poderia fazer era ser professor de tênis.

Que tal confessar tudo a Dulce? Ela era tão bondosa que o faria esquecer-se de segredos escondidos por tanto tempo. Não gostaria de fazer isso. Porém, se a confissão o ajudasse a levá-la à cama, por que não confessar?

— Chegamos — ele disse quando as portas do elevador se abriram.

Dulce tomou-lhe a mão e seguiu-o. Entraram na suíte. Acendendo as luzes, Christopher pensou no próximo passo. Deveria levá-la ao próprio quarto ou conduzi-la ao seu? Gostaria ela de ser levada ou apreciaria mais se ele fosse sutil? Mas, antes que pudesse tocá-la, Dulce olhou para os próprios pés.

— Meu Deus, Christopher!

Correu para o banheiro e ele foi atrás, ela abriu a porta e gelou. Estava inundado. A água jorrava aos borbotões do vaso de porcelana. 

Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora