Não entendo exatamente o que é isso que você está me mostrando, Phillip — disse Dulce.
Ela ainda continuava atordoada, e por uma semana já, o que talvez fosse o melhor que pudesse ter acontecido. Tirava a mente da dor do coração. E de alguns outros problemas que não estava pronta a encarar. Mas esse último problema parecia-lhe demais para entender. Phillip Cummings, contador da escola, o homem com quem devia ter ido ao Club Paradise, sacudiu a cabeça.
— Chame isso de chantagem ou extorsão, ou do que desejar, mas só posso seguir a evidência. Revi a papelada uma dúzia de vezes, e se o que você me contou sobre a construção e reforma da escola é correto, não posso tirar outra conclusão.
— Minha mãe estava chantageando alguém? — Dulce cobriu o rosto com as mãos.
— Ela fazia depósitos regulares de enormes somas de dinheiro, nada disso vindo das mensalidades dos alunos ou de doações de ex-alunos. Esse dinheiro foi contabilizado com o salário dos professores, livros e suprimentos escolares. A modernização do campo de atletismo, das quadras de tênis, do laboratório de ciências, do novo auditório, da lanchonete, e tudo o que foi feito teve lugar num período de dez anos. De acordo com o livro de contabilidade particular de sua mãe, o dinheiro veio de alguém que ela lutara para proteger.
Phillip colocou uma pasta junto de Dulce, dizendo: — Foi a ala da computação que começou com a atual crise financeira da escola. O dinheiro da contribuição ficou no banco por seis anos, e retirado todo ele para financiar as reformas.
— Minha mãe nunca mantinha relações sociais com alguém que não tivesse conexões com a escola. O que será que houve com alguma pessoa, qualquer que fosse a pessoa, que se viu forçada a lhe dar esse dinheiro todo?
— Tem alguma idéia? — Phillip perguntou.
Senhor Uckermann era bastante rico para dar a enorme quantia de dinheiro que Phillip mencionara, Dulce pensou. Christopher lhe perguntara, no Club Paradise, sobre os encontros que seu pai tivera com Faith. Era inacreditável admitir que Faith fosse tão gananciosa por dinheiro a ponto de sacrificar uma criança para o benefício de sua preciosa escola. Mas era a única resposta que tinha para o fato, Dulce refletia. E Christopher Uckermann fora a vítima. Por culpa de Faith, mulher egoísta, que não se compadecera com a inaptidão da criança em ler.
Christopher fora educado no instituto e depois mandado para a universidade com os fundos que Faith recebera do Senhorl Uckermann. Dulce lembrava-se de ele ter comentado que havia cursado a mesma universidade de seu pai. Agora sabia por quê. Infelizmente, se contasse isso a Phillip, estaria traindo a confiança que Christopher depositara nela. Mesmo depois de ter sabido da vergonhosa aposta, não cometeria ato tão desonroso. Mais ainda, com a notícia do noivado de Cissy, todos pareciam ter se esquecido das fofocas do jornal. O escândalo passara a ser coisa do passado.
— O que houve com o dinheiro obtido no leilão? Ajudou em nossa situação financeira? — Dulce perguntou.
— Quase deixou a escola totalmente sem dívidas. Por falar nisso, o cheque do rapaz que superou minha aposta, de cento e vinte mil, chegou ontem, mas ainda não descontei. Estou segurando, conforme seu pedido, Dulce. Existe alguma razão especial para você não querer que eu o deposite?
Quando Dulce soube da aposta, disse a si mesma que nunca descontaria aquele cheque. Porém, depois que soube de tudo, teve uma idéia de como gastar o dinheiro, mas quis antes falar com Christopher... se ainda tivesse chance de vê-lo.
— Segure um pouco mais — ela pediu a Phillip. — Sei qual é a fonte, mas não posso cuidar disso agora. Quanto mais tempo você acha que levará até ter os livros em ordem para a auditoria?
— Uma semana, ou duas no máximo. — Phillip levantou-se. — Bem... Dulce, se você tiver uma noite livre, quer ir ao cinema comigo esta semana? Podemos jantar antes... — Phillip olhava para o chão. — Ou não pode...
Phillip não era gordo nem esquelético, não era feio nem usava roupas fora de moda, não cuspia quando falava, e não fazia nada inaceitável pela sociedade que frequentavam. Era amável, um rapaz igual aos outros, enfim. Mas estava longe de ser Christopher. Dulce já havia recusado, na véspera, o convite dele para almoço; e para jantar, na noite anterior. Ela achava que já era o suficiente. Phillip não se importou pelo fato de Dulce não lhe dar uma resposta de imediato. E continuou:
— Sei que você acabou de voltar de férias fantásticas, com um rapaz famoso e rico, mas dê-me uma chance, Dulce. Não sou tão insípido como pareço. Gosto de dançar e de ir ao cinema. Tomo parte em corridas de carros e adoro velejar pelo Potomac.
Dulce engoliu um sorriso. Até suas férias, ela nunca fizera muito de nada. Jamais poderia pagar por tudo o que Christopher lhe dera e por tudo que sua mãe tirara dele.
— Acho que não quero, Phillip.
— Entendo — ele respondeu. — Mas, se mudar de idéia...
Trinta segundos mais tarde Eloíse entrou na sala. Sentou-se.
— Como se sente aqui de volta? — perguntou a Dulce.
— Bem. Telefonei a Rita Mae para lhe agradecer pelo bom trabalho que fez cuidando de tudo aqui. Mas você já devia saber disso, não?
— Sabia. Ela me contou.
Dulce sempre fora muito cuidadosa a respeito das finanças da escola. E ainda tinha de agradecer a Eloíse e a suas amigas pelo que fizeram.
— Peço-lhe desculpas por não ter lhe agradecido ainda pelas roupas que me providenciou e pelas férias. O lugar era lindo. Você e Norman devem ir lá um dia. Merecem isso.
— Não, você é que mereceu. Apenas sinto as coisas não terem saído como planejadas. Mas se divertiu ao menos parte do tempo, não foi?
— Mais tarde contarei tudo a vocês. Por agora, não posso revelar o que houve entre Christopher e mim... a ninguém. Eloíse cruzou os braços e perguntou:
— Ouviu falar dele? — Christopher tentou se comunicar comigo, mas... não dei chance.
— Claire me perguntou se eu sabia por que você não havia retornado os telefonemas dele.
— Eu sei. Ela me telefonou e me perguntou a mesma coisa.
— Então, por que não retornou?
— Você não precisa dar uma aula agora, Eloíse?
— Caso não tenha percebido, Dulce, estamos na hora do almoço. Meus alunos comem enquanto conversamos.
— Acho que você não deveria deixá-los...
— Deixá-los sozinhos? Estão com Angelina. Ela sempre insistia em preparar uma autêntica refeição mexicana para as crianças. Finalmente eu disse "sim". Mas pedi a Claire que trouxesse alguma coisa para nós, da lanchonete do sr. Belgradian.
— Oh, Eloíse, você não devia ter feito isso! Não estou ainda pronta para responder às perguntas de Claire.
— Parece cansada, Dulce. Tem certeza de que não pegou uma dessas doenças dos trópicos? — Eloíse comentou.
Uma pancada na porta interrompeu a conversa. Erguendo um saco de papel branco, Claire entrou.
— Nosso almoço está aqui. Eloíse levantou-se. — Levou muito tempo para trazer. Abra isso logo.
— Oh, eu devia ter incluído Dulce? Sinto muito. Trouxe comida suficiente para duas pessoas apenas. — Assim falando, Claire desapareceu.
Sorrindo, Eloíse disse:
— Algumas vezes, as pessoas fazem a coisa certa por um motivo errado. Mas, o que quer que aconteça, Dulce, daremos apoio a você, querida, porque a amamos. E será bem-vinda juntando-se a nós e às crianças para almoçar.
Dulce levantou-se, pronta a aceitar, quando ouviu vozes masculinas à porta da sala. Voltou ao seu lugar. Como um par de touros bravios, Christopher e Phillip tentavam entrar na sala ao mesmo tempo, ombro contra ombro.
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Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]
RomanceAté que ponto seria aceitável ser leiloada para salvar uma escola de falência? Vinte mil dólares! Esse foi o lance que Christopher ofereceu para ter um encontro intimo com a sensual professora Dulce. Passaria sete dias numa paradisíaca ilha nos tróp...