Capítulo 5

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Para: Milton

De: Júnior

Assunto: Savinon-Uckermann

Via: Heavenet Todos os sistemas funcionando.

Um grande sucesso nas primeiras vinte e quatro horas. Nada preocupante. Mandaremos mais notícias amanhã, à mesma hora. Fim.

Júnior olhou para o recado durante muito tempo antes de enviá-lo. Seu plano engenhoso literalmente funcionara.

Christopher iria levar Dulce à cama e Dulce aceitaria a iniciativa. Milton insistira em ter notícias a cada vinte e quatro horas e atenderia prontamente. Júnior apertou o botão send. Um segundo mais tarde a tela escureceu e abriu-se uma janela com o recado:

Sua mensagem foi enviada. Obrigado por ter usado o sistema Heavenet. Tenha um bom dia.

Antes de ele ter saído do gabinete no corredor abaixo da suíte de Christopher e Dulce, seu celular tocou. Júnior imaginou logo quem era, e esperou.

Um toque... Dois toques...

— Alô. É Júnior falando. Que posso fazer para ajudá-la?

— Júnior? Venha depressa! Por Deus, precisa fazer alguma coisa!

— Não se preocupe. A ajuda está a caminho — disse Júnior.

Ouviu-se o clique do telefone desligando. A ajuda está a caminho.

Dulce sabia que a maioria dos hotéis podia verificar o número do quarto pelo chamado telefônico, mas como identificar o problema através da linha telefônica? Ela colocou o fone no gancho e ouviu o barulho da água invadindo a saleta.

Dulce imediatamente percebera o que estava acontecendo assim que abrira a porta do banheiro. Quando Christopher afastou-a da água e gritou para que pedisse socorro, tudo de que pôde se lembrar foi das últimas palavras de Júnior quando entraram no hotel.

Chame-me a qualquer hora. Disque 99 e atenderei imediatamente.

Christopher andava pelo banheiro, nervoso. Já havia enchido o vaso sanitário com toalhas. Não tinha ideia do que causara o problema, mas sem dúvida não poderiam ficar lá aquela noite.

Bateram na porta.

Dulce foi atender.

Era Júnior com dois trabalhadores usando avental, e um empregado do hotel. Júnior apontou para seu funcionário, dizendo:

— Vá arrumar a bagagem da sra. Savinon. Temos de tirar nossos hóspedes deste lugar.

— Estava na hora de alguém do hotel vir até aqui. Não sei que tipo de hotel é este, o que está acontecendo é inacreditável! — queixou-se Christopher.

— Eu sei, eu sei, o senhor tem razão. Para lhe mostrar como estamos embaraçados pela inconveniência, vamos transferi-los ao melhor de acomodações que temos.

— Pensei que estivéssemos no melhor — resmungou Christopher

— E estão, mas no hotel. Estamos levando-os para um lugar ainda melhor.

— Que tipo de lugar melhor? — indagou Christopher. — Não vi nenhum outro edifício na propriedade.

— Não se preocupe — disse Júnior. — Vou levá-los a uma cabana. Todas são moderníssimas, apenas um tanto isoladas. O único meio de chegarmos até lá é em carrinhos de golfe ou percorrendo longa distância a pé. Conservamos os chalés para recém-casados ou para casais que preferem permanecer anônimos.

— Dois chalés separados? — Dulce quis saber.

— Isso não faz diferença, Dulce. Deixe o homem fazer seu trabalho — disse Christopher.

— Como já lhe disse mais cedo, colocá-los em quartos separados é impossível — Júnior explicou a Dulce.

— Impossível? Mas a culpa não foi nossa.

— Naturalmente que não foi. Porém não podemos mudá-los para duas suítes iguais se só há uma vaga.

Gritos e um barulho estranho vieram do banheiro. Os trabalhadores correram para a sala e depois para o corredor. Um segundo depois voltaram com outras ferramentas.

— Venham, vamos sair daqui — convidou-os Júnior. — O vaso pode explodir a qualquer momento. Não queremos que se firam.

Dulce soltou um gemido.

Se Faith já não estivesse se revirando no túmulo por causa do leilão, sairia agora do túmulo ao saber que na lista de falecimentos estava o anúncio de sua única filha: Diretora do prestigiado Instituto Savinon morre em consequência de explosão de vaso sanitário.

Dulce seguiu Júnior à caminhonete de bagagem, para ver como iriam acondicionar suas roupas.

— Mencionei o caso do banheiro quando telefonei? Não me lembro de ter feito isso — Dulce perguntou a Júnior.

Ignorando a pergunta dela, outra coisa chamou a atenção de Júnior:

— Olhe aquele vestido.

Dulce olhou para a caminhonete e segurou as lágrimas.

— Meu lindo vestido! — gemeu, ao ver o vestido de gaze arrastando no chão.

— Acha que posso encontrar outro igual?

— Quase tudo pode ser refeito hoje em dia, exceto coisas do coração — Júnior respondeu.

Dulce sorriu. O rapaz era um verdadeiro filósofo, muito melhor numa crise do que seu companheiro de quarto, que a mandara sair do banheiro como se ela fosse uma idiota. E pensar que, minutos atrás, estava perdida nos beijos dele e pronta a fazer tudo o que lhe pedisse.

Sacudindo a bainha do vestido, Dulce olhou espantada para a poça d'água do carpete do corredor. Não admirava homens tomarem chuveiro frio para acalmar a fúria da paixão. Devia funcionar.

Christopher entrou no corredor carregando sua mala, seguido do empregado do hotel carregado de roupas.

— Espero que o hotel pague pelo estrago de nossas roupas.

— Sem problema — Júnior disse. — Já falei sobre isso com a sra. Savinon.

Dulce e Christopher tomaram o elevador em silêncio. Júnior conduziu-os ao carrinho de golfe.

Os sons da música executada pela banda continuavam no ar. Hóspedes dançavam no pátio, nadavam na piscina, enrolavam-se em toalhas nas enormes chaises-longues. Tremendo de frio, Dulce subiu no pequeno carro de golfe. Devido à brisa forte da ilha, sentia muito frio. Júnior dirigia. Ela e Christopher cobriram o rosto com a toalha, e deixaram-na caída nos ombros como um xale.

— Você está bem? — Christopher lhe perguntou.

— Ficarei melhor depois que tomar um chuveiro e for dormir.

— Um chuveiro? Claro, claro.

Christopher sabia que Dulce estava irritada, mas não tinha muita certeza se era com ele, com a situação, ou com ambos. Céus, não tivesse sido sua culpa o vaso sanitário ter explodido.

Ok, talvez ele fora um pouco autoritário demais, mas alguém teria de tentar fazer parar a queda da água. Fora perfeito ele ter de tomar uma providência enquanto ela pedia socorro.

Christopher tinha consciência de que se irritara um pouco demais por causa dos vestidos dela, porque sabia quanto Dulce gostava daquelas roupas. E ela nem lhe agradecera por a ter salvo de um possível afogamento. Ele segurou-lhe o rosto e sorriu. Dulce assemelhava-se a uma gatinha ensopada. Porém, mesmo assim tinha o nariz em pé, parecendo intocável, como nos tempos de escola.

Mas agora Christopher sabia que se tratava apenas de uma encenação. Na verdade Dulce era boa gente, e ele esperava trazê-la de volta ao que fora no começo da noite. Daí se concentraria em refazer a cena do elevador. E desejava muito isso. Logo.

Infelizmente, a vista das lágrimas de Dulce o desanimou. 

Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora