Capítulo 7

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Para: Milton

De: Júnior

Assunto: Savinon-Uckermann

Via: Heavenet

Enquanto você está lendo isto, as coisas aqui vão indo às mil maravilhas, na maneira natural. Dulce parece ter se liberado bastante bem da influência da mãe e Christopher sente-se protetor dela. Nada de compromissos ainda, no entanto, mas tenho a impressão de que tudo é questão de tempo. O sol tropical está agindo de maneira acolhedora. Estou necessitado de um banho de mar, por isso vou dar um mergulho. Entrarei em contato com você de novo em algum momento, amanhã à noite.

Júnior largou o computador e estalou os dedos. Saiu assobiando uma canção alegre. Achava que tudo caminhava lindamente. Dulce de fato se liberava da pesada influência da mãe.

Atravessou o gramado indo para a praia. Ignorando a presença de algumas pessoas deitadas na areia, foi até a água, certo de que Milton estava satisfeito com os últimos acontecimentos. Pensou nos primeiros passos de sua incumbência. Eloíse, Norman. Recordou-se de que Milton não quisera lhe dar crédito de início.

Pondo um pé na água, sentiu frio.

Teve pena de Christopher e Dulce por causa dos complexos de culpa de ambos, em relação aos pais. A mãe de Dulce era fora de questão, mas havia ainda muitas outras pessoas em jogo: o pai de Christopher, Cissy e até a irmã de Christopher, para nomear apenas algumas. Júnior ergueu os olhos aos céus. A vida era boa. E a dele, ainda melhor.

Christopher ouviu o telefone tocar e sentou-se na cama. Dulce estava encolhida a seu lado, dormindo profundamente. Depois da noite que haviam partilhado juntos, a última coisa que ele queria fazer era acordá-la.

— Alô — sussurrou ao telefone. Quem estaria telefonando para aquele lugar, em hora tão imprópria? Por certo não um amigo. Devia ser engano.

— Christopher, é você?

— Sim, sou eu. Espere um momento. — Ele imaginou ter ouvido a voz estridente de seu pai.

Olhando à volta, viu a fantasia que usara no luau, no chão. Amarrou-a em volta da cintura e foi para o pórtico com o telefone. Sentando-se à mesa, suspirou. Ele cancelara todos os compromissos logo que fora viajar, mas não telefonara ao pai. A razão era muito simples, nenhum motivo para a viagem satisfaria o homem. Mas agora que fora descoberto seu paradeiro, teria de inventar alguma coisa para explicar sua ausência.

— Pai? É você? — perguntou, num tom de voz inocente.

— Sabendo muito bem que sou eu. Preciso saber as razões de seu desaparecimento, e é melhor que sejam boas.

— Como me encontrou? — Christopher perguntou ao pai.

— Depois que os boatos começaram, fui atrás de Rick para obter informações. Tive de ameaçar cortar sua mesada para que ele confessasse.

Iria matar Rick quando voltasse a casa.

— Boatos? Que boatos?

— De que pagou vinte mil dólares pelo privilégio de um namoro, com uma Savinon? Ou melhor, da mulher sobre a qual toda Washington está comentando — da aposta idiota que você fez para levá-la à cama? E não vamos nos esquecer do mais importante. Você e a sra. Savinon fugiram.

Christopher maldisse a situação em silêncio. Primeiro, queria matar Cissy. Depois, Rick.

— Isso é mentira — ele disse.

— Bem, graças a Deus pelos pequenos favores que Ele nos faz de vez em quando — declarou o pai. — A mulher não é do nosso tipo. Além do mais, entre você e sua irmã dei bastante dinheiro para o Instituto Savinon. Detestaria ver mais dinheiro da fortuna de nossa família nas mãos gananciosas daquela criatura.

— A fortuna que você pagou, pai, chama-se mensalidade escolar, e foi dinheiro bem gasto.

— Você não sabe metade disso — Samuel gritou. — Mas não é o que importa agora.

— O que significa isso? — perguntou Christopher.

E por que tivera ele de repente a impressão de que havia um outro lado que estava incomodando seu pai, um lado que ele ignorava completamente?

— Ouça, filho, não me importo se você namora uma dúzia de mulheres. Apenas use a cabeça, e não permita que elas roubem seu dinheiro, como a mãe dessa Dulce fez comigo. Isso é tudo.

— Não entendo o que está falando, pai. Dulce não é igual à mãe.

— Conversaremos sobre o assunto quando você voltar — explicou Samuel. — Por falar nisso, quando voltará?

— Em mais alguns dias. Por quê?

— Porque David Ellis estará na cidade. Ele telefonou pedindo para ter um encontro com você. Pessoal.

— David Ellis? O produtor de televisão?

— Ele mesmo. Ellis publicou um artigo sobre o senador Larkin, e Larkin lhe disse que você foi o responsável pela sua nova imagem. Ellis diz que Larkin deve a você os votos que obteve.

Ellis ocupa um cargo muito importante. E tem um filho que precisa ser preparado para se tornar um artista de nome. E o pai procura por alguém que tenha charme e sabedoria e que possa ensinar-lhe como lidar com multidões, como dar uma boa impressão, e a usar roupas adequadas. Se não obtiver você para o trabalho, transferirá seus negócios a outro escritório qualquer. Consciente de como seria difícil convencer seu pai de que o filho dele era mentalmente capaz de executar outro serviço além de manequim, Christopher sorriu. Também sabia que o pai tinha uma ambição secreta de conviver com celebridades.

— Se me recordo bem — Christopher respondeu — temos mais clientes do que tempo para nos ocupar deles. O que há de tão importante nesse cliente?

— Nunca se tem demais, em se tratando de clientes. Além disso, Ellis deu a entender que, se tivermos sucesso com o rapaz, mais candidatos aparecerão para você, Christopher. Faz-se muito dinheiro em Hollywood, filho. Não se esqueça disso.

— Então, dê a incumbência a Rick ou a Chesterman. São tão competentes quanto eu — Christopher declarou. — E também sabem redigir contratos.

— Mas acontece que Ellis quer você. Ok, Rick pode ficar com o negócio, mas compareça à reunião inicial. Agora, tome o próximo avião e volte para casa, assim poderemos discutir sobre as estratégias.

— Voltarei a casa conforme foi planejado no começo, nem um minuto mais cedo. E não telefone para mim aqui, de novo.

Christopher desligou antes que o pai pudesse dar uma resposta. Ele detestava ser tratado como manequim, mesmo quando o pai o considerava bom só para aquilo. Christopher às vezes tinha vontade de dizer ao pai que poderia abandonar o negócio da família a qualquer hora, sem se importar com as consequências.

Ajudara o pai quando achou que era preciso, e o pai sabia que o próprio filho estava longe de ser perfeito. Acontece que ele era um adulto agora.

— Christopher!

Christopher suavizou ao ouvir a voz sonolenta de Dulce. O que o pai diria se ele lhe dissesse que não iria abandonar Dulce? Que ficar com ela era bem mais interessante do que jantar com clientes inseguros necessitando de incentivos? Com um sorriso, Christopher virou-se:

— Desculpe, atendi ao telefone no pórtico para não acordar você. Ela esfregou os olhos e depois fechou a frente de seu roupão, escondendo a parte superior dos seios. O gesto inocente de Dulce o fez pensar num anjo sensual — virginal em público, mas sexual em sua cama.

— Não ouvi muito, mas você parecia preocupado. Alguma coisa errada?

— Só meu pai, para perguntar quando eu iria para casa. — Christopher abraçou-a.

— Oh! E o que você respondeu?

— Eu lhe disse que permaneceria aqui por mais cinco dias. Foi tudo.

— Então vai ficar?

— Naturalmente que vou ficar. Que tal eu tomar um banho enquanto você telefona para pedir o café da manhã? E faça a reserva da quadra de tênis. Ainda quer aprender mais, não quer? Ela pegou a raquete de Christopher, segurou-a como se fosse um taco de beisebol, sacudiu-a no ar e sorriu, dizendo:

— Vênus Williams, cuidado, estou chegando. 

Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora