Capítulo 2 - 2

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Depois de tomar um delicioso banho de chuveiro, Dulce olhou-se no espelho, tentando ver que aspecto tinha com sua calça comprida branca. Christopher sugerira que almoçassem juntos, o que lhe parecera promissor, e queria ter a melhor aparência possível. Se um se sentasse em frente ao outro, talvez ela pudesse lhe perguntar por que dera o lance.

Experimentara vários trajes, e achou que aquele era o mais adequado.

O short e a calça caqui revelavam demais seu corpo, por isso se decidiu pelo mais discreto. Escolheu uma camiseta amarela, mais justa do que estava acostumada a usar, a qual, com o novo sutiã, a deixava mais atraente do que antes. Olhando-se no espelho outra vez, suspirou.

As lentes de contato faziam seus olhos lacrimejar, mas ao menos podia ver. Resolveu massagear os cabelos com o produto que Ruth recomendara. Escovou-os depois. Sorrindo, virou a cabeça de um lado para o outro. Incrível. Seus cabelos brilhavam. Se seus olhos parassem de cocar, poderia atravessar muito bem os próximos seis dias. Calçou as sandálias brancas, pôs os óculos de sol, colocou a bolsa no ombro e olhou-se mais uma vez no espelho. Satisfeita, foi à saleta para se encontrar com Christopher.

O local estava vazio, mas o som de gavetas abrindo e fechando a fez resolver sentar-se e esperar. Olhou para todos os lados, para as flores, para a enorme cesta de frutas no bar. A banda ainda tocava, porém à distância. Eloíse e o resto de suas amigas haviam trabalhado muito para organizar aquelas férias.

O hotel e suas roupas novas deviam ter custado um bom dinheiro. Como condená-las, se tiveram apenas boa intenção? Mesmo que não acontecesse nada entre ela e Christopher, ao menos poderia relaxar e usufruir dias agradáveis.

A porta do quarto de Christopher se abriu, e ele apareceu usando uma calça amassada e camisa igualmente enrugada, com as mangas enroladas até os cotovelos. A barba de um dia sombreava seu queixo, dando uma aura de perigo no rosto atraente.

— Pronta? — Christopher lhe perguntou.

— Sim. Escolheu o restaurante?

— O Bistrô da Ilha parece ser bom. Tem uma vista do mar e um menu leve. Veja. O que acha?

Depois de percorrer a lista dos pratos, Dulce ergueu a cabeça e notou que ele tinha os olhos fixos em seus seios. Controlando o desejo de inclinar o corpo para escondê-los, disse:

— Parece bom. Vamos.

Os dois saíram da suíte. Dirigiram-se ao elevador. Dulce tomava cuidado com suas palavras.

— O que você planejou para fazer à tarde? — ela perguntou, tentando não parecer curiosa demais.

— Preciso ir a uma loja de artigos masculinos. Aquele mestre-de cerimônias...

— Norman?

— Esse mesmo. Fez minhas malas e me deixou com este lixo. Graças a ele, preciso de um novo guarda-roupa para me sentir confortável aqui.

O elevador chegou e os dois desceram para o saguão.

— Sinto muito — disse Dulce. — Talvez ele estivesse com pressa.

— Não precisa se desculpar. Eu gostaria de... Peguei apenas o essencial. Não importa o que houve.

— Oh, importa, sim. As roupas aqui são muito caras.

— Não é problema. Eu já tinha uma viagem planejada para o Natal. Usarei menos roupa nova no Natal. — Ele examinou-a dos pés à cabeça. — Você me dá a impressão de que comprou muitas coisas para esta viagem.

— Bem, não exatamente. Tudo foi uma surpresa. Eloíse e Karen compraram e puseram em minha mala. Compraram coisas que eu normalmente não usaria...

— Decidiu o que deseja comer? — ele perguntou.

— Tudo me parece muito bom. Dulce olhou para a água, depois para o menu mais uma vez, como se tivesse medo de encarar seu companheiro de mesa. Quando finalmente os olhares de ambos se encontraram, ele sorriu.

— Algo errado, Dulce?

— Sei que você está acostumado a lugares como este. Eu nunca estive num hotel deste tipo.

— E por que não?

— Minha mãe, ou melhor, nós... nunca tivemos tempo nem dinheiro para essas coisas. A escola sempre precisava de reparos, e isso vinha em primeiro lugar. — A garçonete apareceu para anotar o pedido. — Salada de camarão, por favor, e chá gelado.

— Gostaria de chá Long Island ou prefere tomar um Paradise Punch? — a mulher perguntou.

— Não, obrigada... Prefiro chá. — Dulce sorriu.

— Quero o mesmo prato da senhora, e um copo de vinho tinto — disse Christopher à garçonete.

— Obrigado. Não sou muito de bebidas alcoólicas fortes, também. — E ele continuou, falando com Dulce. — Apenas um vinho, tinto ou branco, uma cerveja ou uma taça de champanhe, é tudo. Em que universidade você estudou?

— Princeton. Era perto, podia ir para casa nos fins de semana e ajudar minha mãe. E você, em que se formou?

— Administração. E você, Dulce?

— Educação. Fui à George Washington para pós-graduação em Administração Educacional e Planejamento. Minha mãe quis garantir que nossa escola ficasse em boas mãos. Era a segunda ou terceira vez que Dulce mencionava a mãe. Talvez falar sobre a mãe fosse a chave para ganhar a confiança da filha.

— Fiquei triste quando soube que sua mãe morrera — Christopher mentiu. — Ela sempre foi tão... responsável.

— Na verdade, a Velha Lady Savinon, como era chamada pelos estudantes, fora sempre o esteio da escola.

— Gostava muito de sua mãe.

— Gostava?

— Claro. — A surpresa na voz dela fez Christopher rir. — Todos sabíamos que ela era rigorosa por ser responsável.

— Engraçado — Dulce disse. — Pensei que ninguém gostasse dela. Por isso decidi mudar a estratégia da família em relação às diretrizes da escola. O Instituto Savinon precisa atrair alunos e, para fazer isso, necessitamos projetar uma imagem mais moderna. Estou tentando ser menos rigorosa e atrair crianças e mostrar-lhes que desejamos ajudá-las mesmo que os pais e outras autoridades achem que não é recomendável nossa interferência.

Christopher jamais imaginara que Dulce tivesse tanto interesse na educação de crianças e adolescentes. Cissy dissera que ela e as amigas de Dulce a consideravam uma esnobe, e que os homens achavam-na intocável.

— Você parece gostar muito de seu trabalho — ele comentou com sinceridade.

— É um ponto positivo no mundo moderno.

— É interessante como nós dois continuamos com o trabalho de nossos pais — ela disse com satisfação.

— Você ainda trabalha com seu pai, não?

Christopher achou que se mataria se alguém o acusasse de se parecer com o pai. E trabalhar era uma palavra forte demais para descrever o trabalho dele com o pai. Só aparecia no escritório para distrair os clientes. 

Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora