Capítulo 14

140 14 4
                                    


Dulce e Christopher entraram na sala de refeições de braços dados. Apenas naquele dia o hotel entregara a ela um vestido azul idêntico ao que se estragara no acidente do banheiro da suíte. Dulce decidiu usá-lo na última noite da estadia na ilha.

Sempre realista, dizia a si mesma que, mesmo se o relacionamento sexual não desse certo, sempre amaria Christopher; continuariam amigos. O vestido seria um símbolo da generosidade dele e uma lembrança da temporada maravilhosa que passaram lá.

Sentaram-se e receberam a mesma atenção da parte dos garçons. Agora que Dulce sabia do handicap de Christopher, estava mais consciente da habilidade dele em esconder seu problema. Christopher lhe contara que freqüentava os restaurantes onde os garçons já conheciam suas preferências. Caso houvesse algo novo, ele apenas pedia uma recomendação ao chefe. Os restaurantes conhecidos sempre tinham à mão os vinhos que ele preferia e as sobremesas habituais.

Que tristeza, pensava Dulce, ele ter perdido toda a espontaneidade na vida, e ser forçado a planejar cada noite de acordo com a companhia, isto é, com quem poderia ajudá-lo a esconder seu problema.

Christopher pegou o menu e passou a vista por tudo; Dulce só imaginava o que ele via nas letras e números ali impressos. Por que não notara antes a expressão de incerteza de Christopher, ou não se dera conta da razão de ele quase nunca ler um menu, um panfleto, ou um documento? Dulce colocou a mão no pulso de Christopher querendo com isso dizer que se importava muito com o problema dele. Christopher sacudiu a cabeça e sorriu.

— Desculpe eu ter pensado o tempo todo que um dia as letras, por um passe de mágica, iriam parar de dançar e começariam a fazer sentido para mim.

— Elas pararão logo. Você verá. Mas posso lhe dizer o que está escrito no menu, se quiser — Dulce se ofereceu.

— Acho que eu gostaria.

Dulce quase morreu de alegria. O desejo de Christopher em aceitar ajuda era prova de que confiava nela. Um pequeno passo, mas muito importante. Começou a ler, bem devagar, acrescentando seus comentários. Rindo, ele finalmente fez a escolha. O garçom apareceu e tomou nota do pedido, enquanto Christopher continuava segurando a mão dela, como se fosse um salva-vidas no mar de sua existência. Fitando-o, Dulce suspirou ao notar a tristeza no olhar de Christopher. Ela sempre gostara de ajudar o próximo; como educadora, era seu trabalho. Porém ajudar Christopher dava-lhe enorme satisfação, como se estivesse salvando-o de um mundo de desespero. Amava-o com uma intensidade que às vezes a assustava, pois temia que ele interpretasse seu interesse como piedade — uma emoção que Christopher detestaria, se viesse a saber.

A orquestra executava uma música para dança. Christopher levantou-se e a tirou da cadeira. Dançaram e Dulce acompanhou-o com enorme prazer.

— Você é um excelente dançarino — ela comentou, fixando sua vista nos profundos olhos azuis.

— Isso porque tenho uma excelente parceira. Antes que me esqueça, você trocou a hora do nosso voo?

— Há dois voos para mais tarde, um às quatro, outro às dez da noite. Reservei o das dez. Fiz isso enquanto você estava no banho.

— Antes ou depois de se juntar a mim no chuveiro? — Christopher lhe perguntou, em sua voz uma carícia maliciosa.

— Antes.

— Tudo bem. Podemos dormir até tarde amanhã e ainda jogar uma partida de tênis antes de fazer as malas. Não voltaremos antes de eu ter minha revanche.

— Eu não vejo a razão — Dulce respondeu, com o nariz em pé. — Vou ganhar de novo.

— Acha? Vamos ver.

A música parou e eles voltaram à mesa.

— Talvez possamos dançar mais uma — Christopher acrescentou.

— Duvido. O garçom já está abrindo a garrafa do vinho que você encomendou e... Oh, meu Deus! Não pode ser. Não acredito. É Cissy Westfall?

Christopher logo pensou consigo mesmo: o que estariam Kevin e Cissy fazendo na mesa próxima à nossa? Ele quis manobrar Dulce para a porta, mas era tarde demais. 

Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora