— O que você está lendo?
Dulce baixou o jornal e olhou para Christopher, que dormira na cadeira depois do banho de mar.
— É o Washington Post. Peguei-o quando paramos na loja de presentes antes do almoço. É velho, mas achei que me poria a par do que vai pelo mundo real. Quer ler alguma seção?
Um ar de preocupação atravessou o olhar de Christopher. Ele sentou-se mais ereto na cadeira e apoiou os cotovelos nos joelhos.
— Dulce, sobre meu problema, ou sobre o que você acha que é meu problema...
— Sim?
— Pensei muito acerca do assunto e decidi que devo lhe falar a verdade... acerca de muitas coisas. Quero ser honesto com você.
Se ela estivesse falando com uma criança, teria de usar de muita tática. Mas Christopher era um adulto que vivera com o problema por anos. Consciente do caso, ele sabia que havia meios de se tomar uma providência, se quisesse tentar.
— Obrigada por me contar. Integridade é uma das virtudes que eu mais respeito. Aprendi isso com minha mãe, ensinamento que penetrou em meu cérebro desde tenra idade.
Christopher animou-se com o comentário de Dulce, e começou a falar, quase como se fosse consigo mesmo.
— Ok, lá vai minha história. Sou disléxico, ou ao menos penso que sou. Esse defeito me atormenta há anos e por isso fiquei hábil em disfarçar minha falha, escondendo-a de todos. Mas não quero continuar com esse jogo, quero fazer o que você sugerir, submeter-me aos testes, seguir um dos programas existentes para o caso e...
— Oh, Christopher! — Ela agarrou-lhe a mão. — Sinto-me tão feliz em ouvir isso! — Uma lágrima escorreu do canto dos olhos dela. — Será um desafio para você, mas pode ir em frente. Encontrará um profissional, alguém que concorde em ser discreto. Tenho conexões com muitos...
— Ei, calma! Eu disse que tentaria, mas não sei se vou ter sucesso. Quem pode saber? Posso ser um completo fracasso Talvez nunca aprenda a ler.
Ela tapou-lhe a boca com dois dedos.
— Não diga isso! Você é inteligente, tem memória fantástica...
— Como sabe que tenho boa memória? — Ele sorriu.
— E não é óbvio? Teve de guardar os nomes de seus clientes, das profissões deles, das companhias onde trabalham, e provavelmente dos hábitos de muitos deles. Memoriza datas, horas, lugares onde vão se encontrar e mil outras coisas. Já teve seu Ql testado?
— Não sei. Por quê?
— Porque já há hoje em dia um meio de medir a inteligência da pessoa sem que ela precise ler. E mesmo que precise, alguém pode ler para você. Não é burro, isso não é. Apenas tem um handicap a vencer, como miopia, ou língua presa, ou daltonismo. Milhares de pessoas dominam suas incapacidades diariamente e você será uma delas. — Dulce enxugou as lágrimas. — E eu vou ajudá-lo. Juntos, poderemos fazer tudo.
Christopher beijou-lhe as mãos. Seus olhos, úmidos, brilhavam, prova de seu estado emocional. E Dulce resistiu ao desejo de puxá-lo para perto de si e segurá-lo nos braços. Mas em vez disso deu-lhe um lenço de papel e silenciosamente conservou-o por um momento junto de seu coração.
— Quando você fala assim, Dulce, me faz acreditar que posso fazer tudo. Tenho a esperança de pensar que, algum dia, poderei ler o jornal.
— E poderá descobrir coisas sobre si mesmo e sobre esses amigos importantes com os quais passa tanto tempo. Guardei recortes de jornais durante anos, de você aparecendo nas colunas sociais.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]
RomanceAté que ponto seria aceitável ser leiloada para salvar uma escola de falência? Vinte mil dólares! Esse foi o lance que Christopher ofereceu para ter um encontro intimo com a sensual professora Dulce. Passaria sete dias numa paradisíaca ilha nos tróp...