Capítulo 13 - 2

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— O que você está lendo?

Dulce baixou o jornal e olhou para Christopher, que dormira na cadeira depois do banho de mar.

— É o Washington Post. Peguei-o quando paramos na loja de presentes antes do almoço. É velho, mas achei que me poria a par do que vai pelo mundo real. Quer ler alguma seção?

Um ar de preocupação atravessou o olhar de Christopher. Ele sentou-se mais ereto na cadeira e apoiou os cotovelos nos joelhos.

— Dulce, sobre meu problema, ou sobre o que você acha que é meu problema...

— Sim?

— Pensei muito acerca do assunto e decidi que devo lhe falar a verdade... acerca de muitas coisas. Quero ser honesto com você.

Se ela estivesse falando com uma criança, teria de usar de muita tática. Mas Christopher era um adulto que vivera com o problema por anos. Consciente do caso, ele sabia que havia meios de se tomar uma providência, se quisesse tentar.

— Obrigada por me contar. Integridade é uma das virtudes que eu mais respeito. Aprendi isso com minha mãe, ensinamento que penetrou em meu cérebro desde tenra idade.

Christopher animou-se com o comentário de Dulce, e começou a falar, quase como se fosse consigo mesmo.

— Ok, lá vai minha história. Sou disléxico, ou ao menos penso que sou. Esse defeito me atormenta há anos e por isso fiquei hábil em disfarçar minha falha, escondendo-a de todos. Mas não quero continuar com esse jogo, quero fazer o que você sugerir, submeter-me aos testes, seguir um dos programas existentes para o caso e...

— Oh, Christopher! — Ela agarrou-lhe a mão. — Sinto-me tão feliz em ouvir isso! — Uma lágrima escorreu do canto dos olhos dela. — Será um desafio para você, mas pode ir em frente. Encontrará um profissional, alguém que concorde em ser discreto. Tenho conexões com muitos...

— Ei, calma! Eu disse que tentaria, mas não sei se vou ter sucesso. Quem pode saber? Posso ser um completo fracasso Talvez nunca aprenda a ler.

Ela tapou-lhe a boca com dois dedos.

— Não diga isso! Você é inteligente, tem memória fantástica...

— Como sabe que tenho boa memória? — Ele sorriu.

— E não é óbvio? Teve de guardar os nomes de seus clientes, das profissões deles, das companhias onde trabalham, e provavelmente dos hábitos de muitos deles. Memoriza datas, horas, lugares onde vão se encontrar e mil outras coisas. Já teve seu Ql testado?

— Não sei. Por quê?

— Porque já há hoje em dia um meio de medir a inteligência da pessoa sem que ela precise ler. E mesmo que precise, alguém pode ler para você. Não é burro, isso não é. Apenas tem um handicap a vencer, como miopia, ou língua presa, ou daltonismo. Milhares de pessoas dominam suas incapacidades diariamente e você será uma delas. — Dulce enxugou as lágrimas. — E eu vou ajudá-lo. Juntos, poderemos fazer tudo.

Christopher beijou-lhe as mãos. Seus olhos, úmidos, brilhavam, prova de seu estado emocional. E Dulce resistiu ao desejo de puxá-lo para perto de si e segurá-lo nos braços. Mas em vez disso deu-lhe um lenço de papel e silenciosamente conservou-o por um momento junto de seu coração.

— Quando você fala assim, Dulce, me faz acreditar que posso fazer tudo. Tenho a esperança de pensar que, algum dia, poderei ler o jornal.

— E poderá descobrir coisas sobre si mesmo e sobre esses amigos importantes com os quais passa tanto tempo. Guardei recortes de jornais durante anos, de você aparecendo nas colunas sociais.

Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora