Dulce levantou-se da mesa. Ela e Christopher acabavam de terminar com outro romântico jantar no chalé. Haviam voltado do tratamento no spa, feito amor pela segunda vez naquele dia, e depois dormido um grudado ao outro como bombons numa caixa.
Ao acordar, era muito tarde para irem à sala de refeições, por isso pediram serviço no quarto. Durante o jantar Christopher parecia distante, pensativo, como perdido no próprio mundo.
— Está muito quieto — disse Dulce. — Alguma coisa o preocupa?
— Desculpe. Acho que tenho muita coisa na cabeça.
— Posso ver. Se for sobre esta viagem, tenho certeza de que seu pai entenderá que você não planejava ser arrastado do trabalho quando foi ao leilão.
— Isso não é problema. O escritório pode sobreviver sem mim por mais alguns dias.
— Então é por causa das contas do hotel? — Dulce pegou o envelope e uma caneta e colocou diante dele.
— Leia mais uma vez antes de assinar, a fim de ver se tudo está conforme seu desejo.
Christopher pegou o contrato e apenas passou a vista. Assinou e devolveu o documento a ela. Depois foi à janela e ficou olhando para a escuridão. Dulce assinou também e deixou o envelope à mão para ser entregue ao sr. Mahlo no dia seguinte.
— Vamos sentar um pouco no sofá e discutir sobre o que faremos amanhã. É nosso último dia na ilha. Logo estaremos de volta à rotina diária — ele disse.
Então era isso, Dulce pensou. Christopher estava preocupado com os problemas em sua casa. Ela também. Não apenas por não querer que aquelas férias terminassem, mas por pensar no que aconteceria entre eles dois uma vez de volta ao lar de cada um.
— Tenho sido muito folgada. Não telefonei nem uma vez para a escola a fim de saber como ia tudo. Talvez seja interessante telefonar agora — ela aventurou.
— Não há ninguém na escola a esta hora. — Christopher deu uma gargalhada.
— E o que acha de darmos um passeio pela praia? — Dulce sugeriu.
Christopher olhou o relógio. Quase meia-noite. Havia pouca chance de se encontrarem com Cissy e Kevin.
— Se for o que você gostaria de fazer, vamos.
Dulce foi apanhar um suéter e jogou-o nos ombros. Os dois deram-se as mãos e tomaram a direção da praia. O céu escuro estava cheio de estrelas. Sentaram-se na areia.
— Que coisa linda! — Dulce exclamou.
— Está vendo a constelação bem acima de sua cabeça, com o formato de um triângulo com estrelas no interior? Chama-se Hydrus. E a estrela mais brilhante é a Achernar.
— Você sabe muito sobre as estrelas, não sabe?
— Sei — Christopher respondeu. — Elas me fazem pensar como meus problemas são insignificantes.
Dulce tomou-lhe a mão e perguntou: — Não quero ser indiscreta, mas você... tem problemas, não tem?
— Eu? E o que posso ter para me preocupar?
— Não sei. Mas, se tiver, pode confiar em mim. Sou boa confidente.
A oferta dela deu a Christopher coragem de trazer à cena o problema da aposta.
— Dulce, querida, há uma coisa sobre a qual eu queria conversar com você, uma coisa que você precisa saber antes de voltar a Washington.
— Alegra-me saber que confia em mim e, depois que me contar seu segredo, não falarei mais sobre ele se for seu desejo. Porém acho que já sei o que tem a dizer, Christopher.
— Ok, então fale.
— Uma incapacidade para ler; não é motivo de vergonha, em especial quando não é por culpa sua. Há testes que se fazem agora. E todos os defeitos podem ser corrigidos, uma vez descoberta a causa.
— Não sabe o que está falando, Dulce.
— Não sei? Então por que não lê os menus ou os panfletos com instruções? E por que ficou tão confuso na montanha quando viu o recado do guia? E por que assinou o documento na linha errada?
— Porque não estava prestando atenção e queria acabar com aquilo logo.
— Assinou na linha que deveria ser a minha, e o documento de cabeça para baixo.
Christopher apertou as mãos, terrivelmente frustrado. Durante toda a vida, seu pai lhe garantira que o essencial a se fazer era se mostrar mais inteligente que os outros. Tudo de que necessita é jogar bem, meu filho, e estará salvo. Seja charmoso, mais esperto do que o rapaz a seu lado, e acabará sendo o mais aplaudido do grupo. Bem, o todo-poderoso Samuel Uckermann acabara de ser considerado o mais errado de todos os homens.
— Você está exagerando tudo isso, Dulce. Houve um descuido de minha parte — ele insistiu. — Mas não estrague uma das nossas últimas noites aqui afirmando o que não sabe. Não destrua o que tivemos juntos.
Dulce fechou os olhos e Christopher soube que vencera. Ele não ignorava o que aquela viagem significava para Dulce, e viu como o jogador que o pai o ensinara a ser usara bem aquela aprendizagem para a própria vantagem. Afinal, não era isso que rapazes como ele faziam? Jogavam para ganhar? E cada vez? Inclinando-se, segurou-a pelo queixo e beijou-lhe a face.
— Estamos ambos cansados e é tarde. Não quero discutir mais. Vamos nos esconder embaixo dos lençóis. Podemos dormir bem e transformar o dia de amanhã em algo para ser sempre lembrado. O que acha?
— Por enquanto, tudo ok. Mas o que ainda quero discutir é sobre...
Respirando fundo, Christopher beijou-lhe a boca semi-aberta. O gosto dos lábios de Dulce pouco concorreu para suavizar as palavras duras dela, mas não fazia mal. Tudo acabaria logo. Ela apenas suspeitara de seu problema visual. Quando descobrisse sobre a aposta, jamais o perdoaria. Seu mundo voltaria a ser escuro e vazio como fora antes de descobrir Dulce de novo. Antes de começar a amá-la.
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Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]
RomanceAté que ponto seria aceitável ser leiloada para salvar uma escola de falência? Vinte mil dólares! Esse foi o lance que Christopher ofereceu para ter um encontro intimo com a sensual professora Dulce. Passaria sete dias numa paradisíaca ilha nos tróp...