Capítulo 12 - 2

131 9 1
                                    


Sentada no pórtico de madrugada, de frente para o mar, Dulce observava o nascer do sol no horizonte. As dunas brilhavam à luz da manhã e a floresta parecia pegar fogo. O barulho dos papagaios, o canto dos pássaros, a faziam ter certeza do lugar onde estava: numa ilha paradisíaca, longe da civilização e da realidade do mundo moderno.

Segurava o queixo com a mão e rememorava pela centésima vez a conversa que tivera com Christopher na noite anterior. Ele apresentara argumentos convincentes sobre seu erro ao assinar o tal papel. Desde o instante em que acordara, ela tentara voltar no tempo, ver Christopher na escola.

Doze anos se haviam passado desde sua formatura e tinha a mente um tanto embaçada pelo tempo. Recordava-se de um menino quieto, retraído. Na escola secundária não estavam na mesma classe e a mãe lhe dera tantas incumbências que ela só via Christopher de longe.

Anos mais tarde o menino se transformara num atleta de primeira categoria. E a importância de Christopher crescera entre os colegas e professores.

Em seus sonhos, Dulce se enxergava dando um passeio com ele no conversível ou tendo encontros em vários lugares. Mas nada se tornara realidade. Fora só mais tarde que conviveram.

Christopher desenvolvera seu charme. E ela, apesar de ser o gênio da classe, o modelo de aluna, se encantara por Christopher, chegando a terminar o trabalho de casa por ele, exagerando a tutela a tal ponto que sua mãe a mudara de grupo, cortando a convivência da filha com Christopher.

Agora ela se perguntava quanto Faith conhecia de Christopher e de seu problema. O Instituto Savinon orgulhava-se de possuir um programa individual para cada aluno. Por que a mãe dela, que se considerava uma grande educadora, não tentara descobrir o problema de Christopher para ajudá-lo? E os pais dele? Tinham dinheiro para contratar um exército de profissionais. Por que não fizeram nada para recuperar o filho?

Um ano atrás Eloíse a procurara dizendo que um aluno seu do Jardim de Infância tinha problemas de leitura. O pai do menino, um diplomata estrangeiro e um senhor desagradável, preferira tirar o filho da escola em vez de admitir e aceitar a imperfeição da criança. Ela e Eloíse lamentaram o fato e lutaram para agir de maneira diferente. Mas não conseguiram nada por impedimento do pai. Seria o pai de Christopher do mesmo tipo? Se era, não admirava Christopher não ter respeito pelo pai.

Acomodando-se melhor na cadeira, Dulce suspirou. Toda essa revelação viera à luz aos poucos e agora que ela aceitara a verdade, não a abandonava. Ademais, sua admiração por Christopher já se havia transformado em amor.

Entregara seu coração a Christopher Uckermann. Emoções se digladiavam dentro dela. Queria abraçá-lo e oferecer-lhe conforto por tudo o que ele sofrerá, pelos lindos livros que não pudera ler e pela frustração que devia ter amargado por não poder ser igual a seus companheiros. Apreciava o brilhante menino que encontrara um meio de conduzir sua vida por outros canais, como pela vida atlética. E sabia que precisava superar o handicap de Christopher e criar uma vida para ele da qual o rapaz pudesse se orgulhar. Mas sobrepujando o carinho e amor que sentia por Christopher pairava a raiva, não apenas pela estupidez de Faith como pela pouca sensibilidade dos pais de Christopher, que se recusaram a reconhecer a imperfeição do filho.

A porta se abriu e Dulce virou-se. Christopher apareceu no pórtico, usando um robe. Foi ao encontro dela e beijou-lhe as faces.

— São apenas seis horas. Há quanto tempo está acordada?

— Pouco. Quis ver o sol nascer outra vez neste lugar. Você dormia profundamente, não quis acordá-lo.

Christopher sentou-se numa cadeira ao lado dela e continuou:

Lance Indecente - VONDY [ FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora