Capítulo 41 - Dilúvio

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Leticia
           — Tinha ido até a fazenda de Donatella lhe convidar para o almoço que teria naquele dia,acabei esbarrando com Marcelo que me contou que iria visitar o túmulo de Fernando então perguntei se poderia acompanhá-lo e de imediato aceitou,esperava que não pensasse que estava forçando a barra nem nada apenas queria um momento à sós com ele,parecia que minha vida está dando uma guinada e isso me deixa feliz e até assustada e gostaria de lhe contar tudo que passei com minha filha e com seu filho que tenho certeza que de alguma forma está olhando por nós lá do céu.
Marcelo:– Você está tão quieta.
            — Estávamos caminhando por um caminho de terra batida que nos levava ao túmulo e por aquele horário da manhã não havia tantas pessoas apenas algumas e mesmo assim estávamos juntos nessa então achei melhor guardar qualquer palavra apenas para mim e deixar que aquela visita fosse como uma benção para um começo improvável talvez no começo porém agora parecia tão certo.
Leticia:– Só pensando em como minha vida mudou.
Marcelo:– Para melhor espero.
            — Estou de braços dados com ele apenas aproveitando aquele calor humano e companhia tão amigável e como aquilo me faz bem depois das últimas semanas.
Leticia:– Não tinha idéia que isso aconteceria.
Marcelo:– Não é sua culpa Leticia só fique tranquila.
Leticia:– Do que está falando?
Marcelo:– A morte dele não é isso que falava?
Leticia:– Na verdade não.
Marcelo:– Certo.
          — Tínhamos quase chegado ao túmulo dele e aquela velha voz na cabeça me contava que tudo ficaria bem além do mais por um curto período de tempo me importei de verdade com os dilemas de Fernando.
Leticia:– Só que à poucos meses atrás tinha morado em São Paulo e feito carreira lá para em seguida vim para um lugar tão diferente e acabar descalça e grávida.
Marcelo:– Você está calçada agora.
Leticia:– Ótima observação só que você entendeu o que quis dizer.
Marcelo:– Na verdade sei muito bem o que queria falar.
Leticia:– Mesmo?
Marcelo:– Em uma noite estou com um cara maravilhoso e na outra estou lamentando sua morte com uma garota legal mas que se sente inferior só porque trabalhava para levar comida para casa.
            — Droga!Em um curto período de tempo Marcelo tem se tornado um bom amigo que se importa com o que sinto e não se sente inojado pelo que fazia.
Leticia:– Você é ótimo sabia?
Marcelo:– Sei muito bem disso.
            — E finalmente chegamos ao túmulo de Fernando e mesmo estando relativamente cedo não era frio ou tenebroso como geralmente via em filmes ou séries e na verdade o sol está quente e as nuvens no céu passeavam como a gente em um ritmo calmo e fraco.
Marcelo:– Você acha que ele está no céu?
Leticia:– E por que não estaria?
Marcelo:– Ele era gay e eu também e você sabe bem como as pessoas pensam né?
Leticia:– Foda-se as pessoas!
Marcelo:– Leticia?
Leticia:– O que foi?Grávidas também xingam!
           — Um tempo para mim era o que precisava porque não tinha a mínima chance daquele garoto tão legal que conheci no Brasil e esse que está me dando apoio agora irem para algum lugar ruim e mesmo acreditando que merecia queimar pelas coisas que fiz no passado meu marido abriu meus olhos e fez com que visse na sua perspectiva e quer saber?Eu não sinto nada mais além de amor e gratidão por aquela menina doce e bacana que veio de tão distante para ganhar o pão para a filha especial!
Leticia:– Na verdade Marcelo julgadores são os que mais tem erros nas costas deve ser por esse motivo que adoram apontar os erros dos outros para não se sentirem tanto peso.
Marcelo:– Uau.
Leticia:– Que foi?
Marcelo:– Profundo.
Leticia:– Me sinto assim ultimamente.
           — Olho ao redor e vejo bancos de mármore pelo caminho e peço para nos sentarmos um pouco e Marcelo aceita.
Marcelo:– Eu queria te contar uma coisa.
Leticia:– Que foi?
           — Noto a presença de Donatella que aos poucos se aproximava da gente,não fazia idéia que iria visitar o filho naquele dia porém resolvi ficar em silêncio e escutar o que Marcelo iria falar.
Marcelo:– Conheci alguém.
Leticia:– Como é que é!?Meu garoto está abrindo o coração para o amor?
Marcelo:– Palhaça!
Letícia:– Por favor me conte tudo!Como ele é!?Loiro ou moreno alto ou gordo,quero os mínimos detalhes.
Marcelo:– Eu me sinto um traidor!
           — Ele se levanta bruscamente do meu lado ainda de costas e mesmo assim Donatella não para sua caminhada silenciosa até estarmos perto e ela me fazer um sinal de silêncio porque de qualquer maneira Marcelo era um filho para essa mulher e merecia saber o que afligia o coração do cara.
Leticia:– Por que?
Marcelo:– Fernando nunca contou a verdade para a mãe por temer que ela nunca o aceitasse como um homem gay porém se soubesse que iria fazer aquela viagem para o Brasil com intenções de repensar sobre sua vocação para padre e que algo em seguida aconteceria não teria deixado.
Leticia:– Você tem certeza que a Donatella não te amaria da mesma forma ou talvez até mais se não soubesse disso Marcelo?
Marcelo:– Não sei dizer só o que sei Leticia e que amava o filho dela antes e agora mesmo começando à conhecer outra pessoa estou confuso demais e com medo de enfrentar um mundo sem ele já que Fernando era meu porto seguro.
             — Ao olhar no rosto dela via diversos sentimentos passarem por seu olhar porém nenhum era de desaprovação ou preconceito e talvez fosse melhor começarmos à confiar nas pessoas ao nosso redor como uma chance para revelarmos nossos corações.
Donatella:– Você nunca vai estar sozinho meu filho.
            — O choque foi grande porque Marcelo não se virou de imediato e aos poucos foi olhando para o rosto dela com medo e cautela mas foi ela que deu o primeiro passo e pulou em seu pescoço e chorou o abraçando.
Donatella:– Eu vou estar aqui para você sempre meu filho!Eu te amo muito Marcelo!
             — Droga!Ser uma gestante é fogo porque já estava mergulhada em lágrimas.

Pelas tuas Aparências (Série IMPERFEIÇÕES)                                Onde histórias criam vida. Descubra agora